Estilhaços de mim

Dinheiro por Nada

Em um dia normal de trabalho me deparo com um grande astro da música, vou até meu amigo e o chamo para conversar.

– Rafa?

– Fala Jorge.

– Olhe ali, não é aquele otário que toca violão na MTV?

O homem acabou me escutando, deu um sorriso irônico e se dirigiu até nós.

– Olha só quem fala, isso aí não é trabalho. – ele então viu uma linda garota na loja, foi até ela e lhe deu um beijo. A menina praticamente o agarrou, então ele a dispensou. – É isso que você tem que fazer, como um astro da música consigo um dinheiro fácil e ainda tenho a garota que quiser de graça.

O homem então foi embora olhei para meu amigo e falei:

– Agora isso não é trabalho. –então imitando a voz dele ironizei. – "É isso que você tem que fazer". – bufei e o Rafa riu.

– Deixe-me te contar, esses sujeitos não são burros.

– Como assim?

– Esses artistas, eles talvez consigam uma bolha em seu dedo mindinho ou em seu polegar, enquanto nós temos que suar para conseguir o nosso pão de cada dia.

– Rafa, fazer música é que não é trabalho, isso no máximo é uma diversão. Eu sempre trabalhei com coisas pesadas e isso me faz se sentir honrado, por que eu sim faço algo importante.

– Pense bem Jorge, nós temos que instalar fornos de micro-ondas, entregar cozinhas moduladas, carregar estes refrigeradores, estas televisões a cores, para no máximo ganhar um salário mixuruca e nunca ter uma garota.

Eu não estava entendendo o Rafa hoje, nós sempre concordávamos em tudo.

– Veja aquele viadinho com brincos e maquiagens. Aquele cabelo então, você só pode estar brincando comigo ao defender-lo.

– Jorge, aquele "viadinho" conseguiu seu próprio jatinho e é milionário.

O dia passou e eu não falei mais com ele pois estava muito chateado.

No caminho de casa comecei a pensar em tudo o que ele me disse: "nós temos que instalar fornos de micro-ondas, entregar cozinhas moduladas, carregar estes refrigeradores, estas televisões a cores..." o pior é que eu sabia que ele estava certo e odiava ter que admitir isso.

Eu devia ter aprendido a tocar violão ou bateria, olhei para uma menina que estava posando para uma câmera, pensei em quanto poderia me divertir com ela se eu fosse alguém conhecido, por que ela com certeza não iria querer um Zé ninguém feito eu...

Havia festa na cidade, podia ouvir ruídos havaianos em algum lugar lá em cima daqueles prédios. E alguém batendo em um bongo igual a um chimpanzé, ri ao imaginar essa cena. Estava tão concentrado em meus pensamentos que acabei me batendo em um latão de lixo.

Droga, meu amigo está certo isso não é trabalho, joguei todos os papéis do meu contrato ali e caminhei até um bar.

– Amigo me traz uma cerveja!

Gritei para um garçom que havia ali. Bebi durante a noite toda e tive que ser carregado pelo Rafa até em casa, acho que o garçom havia ligado para ele, já que aquele homem me conhecia a muito tempo.

Ao chegarmos em casa Rafa me deu um banho frio, não fiquei envergonhado, porque digamos que não era a primeira vez que aquilo acontecia, afinal éramos amigos desde que me conheço por gente, já tomamos vários porres juntos. Após o banho ele me deu um analgésico e me deitou na cama, saindo do meu apartamento e deixando-me completamente sozinho com minha embriagues...

Acordei com uma forte dor de cabeça, mas também com uma grande inspiração, nunca tinha falado pra ninguém, mas eu escrevia músicas as vezes e o dia de ontem havia me dado uma grande inspiração.

Peguei um papel e comecei a pôr tudo o que eu estava sentindo, após algumas horas a letra ficou pronta, então eu me troquei e corri até a casa do meu amigo, que estava sentado na grama sem fazer absolutamente nada.

– Rafa, você ainda sabe tocar guitarra?

– Sei sim, porque?

– Bom, primeiramente me desculpe pôr ontem. Eu não devia ter discutido com você.

– Está tudo bem mano, você sabe que eu já te desculpei.

– Que alivio... enfim hoje de manhã eu compus uma música e queria saber se você me ajuda com ela.

– Você tem alguma dúvida?

Ele sorriu e nós nos abraçamos...  
Foi preciso cinco meses de muito esforço e trabalho duro, mas enfim nós conseguimos. Naquela manhã eu quase surtei ao ouvir nossa música tocando no rádio:

"...We gotta install microwave ovens
Custom kitchen deliveries
We gotta move these refrigerators
We gotta move these colour TV's..."

Em menos de um mês que nossa música tocou no rádio a fama chegou e agora fazíamos uma média de 25 shows por mês, mas ainda assim continuávamos a trabalhar na loja de eletrodomésticos por que eu sabia que música não era um trabalho de verdade, era mais para uma diversão. Mas assim como qualquer outro trabalho não tínhamos uma  garantia de emprego vitalicio e precisávamos ter um trabalho verdadeiro.

Hoje sou um homem casado, tenho meu próprio jatinho e sou milionário, mas nunca deixei minha humildade de lado, por que instalar fornos micro-ondas, entregar cozinhas molduradas... Isso era trabalho de verdade.

Dedico esse conto a iMazakenji, tio Maza espere que goste do conto, fiz o meu melhor...

E a você que está lendo esse conto e ainda não pediu o seu, sinta-se a vontade para me dizer uma música da qual goste e eu prometo fazer o meu melhor.

Sobre esse conto, ele foi baseado na música Money For Nothing.

Bom é isso, até a próxima. Beijos