4º Capítulo.

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O dia seria longo, então Quinn teria de se esforçar para tirar Zane da cabeça. 
Depois de se fartar com o que restara do ataque de Gwen e Julia a cesta do café da manhã, começou a examinar sua agenda. No topo delas, estava ligar para o senhor Dumas, em letras grifadas. Ela franziu o cenho. Pelo jeito precisava mesmo falar com ela. Antonio Dumas era um cliente muito especial, tanto por ser um homem muito educado e gentil, como também não ter qualquer receio em gastar em antiguidades, quando essas realmente lhe interessavam. Gostava de quadros, vasos e até moveis que viessem de seu país de origem, a Espanha, mas era verdadeiramente aficionado em motos antigas. Há anos estava em busca de Harley Davidson. E Quinn já havia encontrado várias, algumas até mesmo parecendo novas. Mas nenhuma era o que ele estava procurando. 
Pegando o telefone, discou o número dele, que já sabia de cor. O hobby de colecionar antiguidades, só aflorara no homem após a morte de sua mulher, uma autoritária espanhola de sangue quente. Seria cruel da parte dela achar que o senhor Dumas parecia mais feliz após a morte da esposa? Mas assim lhe parecia. O casal sempre frequentara a casa de seus pais, desde a infância, por isso pensava de tal forma. Henriqueta Dumas era... bom, ela tinha um gênio forte, enquanto Armand era suave, um verdadeiro cavalheiro. 
- Senhor Dumas? – cumprimentou assim que o senhor atendeu ao celular.
- Menina Quinn! Como vai?
Sorriu. Ela já até conhecia sua voz:
- Soube que está a minha procura.
- Sim, querida. Eu a encontrei!
- Desculpe... – começou, sem entender direito do que ele falava.
- Minha Harley, menina
- oh, mesmo? Isso é muito bom! Como conseguiu? – estava realmente curiosa, pois tanto ela quanto Blane procuravam pela moto, sem ter muito sucesso.
- Muito por acaso, navegando pela internet.
Quinn franziu o cenho. Tentou imaginar o senhor Dumas navegando. Ele realmente estava se redescobrindo... Era um vinicultor aposentado e de muito dinheiro, vindo não só de seus vinhos como também de herança. Somente após deixar a presidência de suas empresas, foi que enfim essas foram modernizadas. Por isso a surpresa em ouvi-lo dizer que estivera pesquisando na internet.
- Mas como? Onde? – ela estava de fato perdida. Esteve em contato com várias pessoas ligadas ao ramo de motos antigas, a procura da bendita moto e ele conseguira assim? Tão facilmente? 
- Participo de alguns grupos de colecionadores de motos e de admiradores das mesmas. E num bate papo descobri esse senhor que estava se dispondo da sua Harley.
Quinn teve de segurar o riso. E as surpresas não paravam! O homem estava se tornando bem moderno!
- Mas tem certeza de que é mesmo uma Harley sem modificações?
O homem ficou quieto por um instante do outra lado da linha:
- Senhor Dumas?
- Bom, querida, eu realmente preferia que a visse pessoalmente.
- Claro, é só me dizer onde ela se encontra... ela buscou por uma caneta e papel,para anotar o endereço.
- Ótimo! Te espero as duas em minha casa!
- O que? Mas o senhor já comprou?
- Sim! – ele anunciava animado. 
Ela não questionou. Ficou surpresa, mas não questionou. Ele era um homem esperto demais para ser passado para trás. Mas se já encontrara sua peça tão desejada, porque ainda necessitava dela? Bom, só saberia ao visita-lo.
- Ok, as duas estarei aí.
- Obrigado, querida! Estarei ansioso a sua espera! 
Quinn se despediu enternecida de notar como o homem parecia uma criança diante de seu doce preferido.
Tão logo desligou, Gwen aparecia à porta:
- Ashton de novo! Ele é maluco, né? Fala de um jeito como se eu não quisesse passar suas ligações para você... – ela se deteve e pareceu ponderar. – Ok, ele tem razão nisso! – Riu, perversamente. – Mas é que agora a coisa está ficando séria! Ele simplesmente não para de ligar! Está até bloqueando o aparelho, não consigo fazer ou retornar ligações! Disse que se não o atender agora, vai aparecer por aqui.
Quinn bufou:
- Maldito seja! Pode deixar, Gwen, eu vou atendê-lo. 
- Isso. – a outra disse, gesticulando com a mão no ar, com seu jeito petulante. - E o mande pastar! 
- Ele que force muito... – resmungou, rindo do gesto da amiga e pegando o aparelho telefônico de novo.
- Linha 2. – dizia a assistente, já saindo e fechando a porta.
Antes de clicar no número informado, Quinn respirou fundo. A última coisa que queria era ouvir a voz de seu ex. Mas ele parecia não entender que não desejava qualquer contato com ele. Ou fingia não entender...
- Ashton?
- Quinn? Eu não acredito que enfim me atendeu! – ele realmente parecia surpreso do outro lado da linha.
- Sim, eu o atendi, mas principalmente para exigir que deixe minha assistente em paz! Ela só está cumprindo ordens, entendeu? – ela foi seca.
- Ela não gosta de mim, Quinn! – seu ex retrucava com seu tom presunçoso.
- Ela não é a única... – resmungou, baixinho.
- O que? Eu não te ouvi, querida.
Oh, como ela odiava quando a chamava de querida! Sempre soou tão falso.
- O que você quer, Ashton? Eu tenho de trabalhar.
- Preciso ver você! – foi direto e soava meio apreensivo agora. 
O que era estranho nele, que sempre fora seguro de si.
- Ashton... – ela começou, num tom pesaroso.
- Por favor, Quinn! 
Ele estava implorando? E o melhor, parecia ansioso. Ashton Dawson III estava implorando por ela! Isso era ótimo! 
- Só um jantar...
- Estou com minha agenda cheia...
- Um café, um sorvete, o que seja! Mas eu preciso mesmo, muito, - enfatizava as últimas palavras. - te ver!
Contendo uma respiração pesada, Quinn conteve o desejo de desligar o telefone na cara dele. Não, o pedido dele não a comovia. Tudo o que passara com aquele homem a deixara insensível sobre tudo em relação a ele.
- Ashton, eu vou ser sincera com você. Outra vez! Não temos nada que conversar! Nada! Eu já disse tudo o que tinha a lhe dizer naquela tarde...
- Mas eu não disse! Você não deixou que eu me defendesse...
Quinn soltou uma exclamação chocada. Ele era mesmo muito cara de pau! Doente! Mimado! 
- Se defender? – agora ela estava exaltada. – Se defender? Acha mesmo que você ainda precisava se defender? Eu vi, Ashton! Eu estava lá! 
- Quinn, eu... 
- O que vai me dizer? Que estava sendo atacado? Que você não estava fazendo aquilo por livre e espontânea vontade? Oh, por favor, respeite a minha inteligência, sim?
Ele ficou em silencio do outro lado da linha. Esperava tê-lo colocado em seu lugar. 
- Eu me arrependi... – retornava ele, sua voz quase inaudível.
- Sim, se arrependeu por que eu o flagrei! Caso contrário, logo estaríamos casados e vocês continuaria... com suas orgias!
- Não, eu ia parar quando me casasse com você!
Quinn quase riu, embora não fosse cômico. Ele era mesmo tão infantil!
- Você sempre foi à única mulher de fato na minha vida, querida! As outras eram somente... diversão...
Meneando a cabeça, ela se sentia esgotada. Ele tinha esse poder sobre ela. Fazê-la se sentir cansada, deslocada. Ás vezes até inútil. Mas essa fase tinha acabado.
- Está dizendo que eu não era divertida? – não acreditou que essa pergunta havia saído de seus lábios. Era segura de si o suficiente para aquilo não a perturbar.
- Não é isso, querida! Com você era diferente. Você era... sagrada para mim! Meu bem maior, o meu tesouro! 
Ok, aquelas palavras haviam soado sinceras. E talvez houvessem tido alguma importância tempos atrás, quando se sentia um só troféu que ele gostava de exibir. Mas agora eram só palavras.
- Ashton, eu realmente estou muito ocupada agora. Quando estiver com a agenda livre, eu te ligo, ok? E por favor, pare de ligar para o meu trabalho. - e antes que ele pudesse dizer algo mais, desligou. 
Revirou seus olhos, imaginando a cara de perplexidade que ele devia estar fazendo agora, por ela ter tido a ousadia de desligar em sua cara.

Zane.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora