O Clark Quente

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Olá, meu nome é Luís, tenho 18 anos e não tenho nada de extraordinário. Como muita gente, morei "interior" grande parte da minha vida. Isso me deixou um tanto quanto apavorado e com uma visão diferente do mundo. A mais forte era sobre minha sexualidade, já que desde pequeno fui reprimido; "Você não pode gostar de outros menininhos" "isso é errado, homem de verdade deve casar e ter muitos herdeiros" "Não pode isso" "não". Então, fui aprendendo a "guardar" esses sentimentos. Com essa pressão toda sob meus ombros, fui obrigado a manter uma vida de aparências, sabe? No ensino fundamental namorei com a Mirela. Não havia beijos, apenas abraços longos e, às vezes, eu dividia meu lanche com ela. No ensino médio, anos depois, tive um pequeno flerte com a Carla. Dessa vez, era mais forte. Eu precisava manter as aparências de uma forma mais convincente, já que meus amigos todos já estavam prontos para ter suas experiências elevadas ao máximo.

E eu falhei, claro. Não estava muito disposto a fazer essas coisas. Inventei uma desculpa sobre ser religioso, aguardar até o casamento e, felizmente, Carla acreditou. O restante do meu tempo no ensino médio se resumiu a estudar e... estudar.

A aquela altura, já era nítido o que cada um da minha sala ia seguir. Seja o maluco do esporte até aquele que possivelmente venderia drogas para metade da cidade. No começo do terceiro ano, durante uma feira de profissões acabei me encantando pela profissão de jornalista. Na verdade, era mais para o lado publicitário – mas eu sabia que ia curtir mais escrever do que criar, de fato, alguma peça. Com isso em mente, não demorou muito para eu começar a me inscrever para os grandes vestibulares. Eu tinha uma pequena poupança, que cobria cerca de metade do curso em diversas universidades particulares em Goiania ou até mesmo Brasília. Porém, sempre fui muito controlado e eu sabia que ia, mais cedo ou mais tarde, passar em uma federal. As opções eram muitas e eu não queria nem saber, uma das vagas seria minha.

Logo no começo de junho, enquanto terminávamos a primeira parte do calendário escolar, aproveitei que estava com um "gás" e me inscrevi para o vestibular da Universidade Federal de Goiás e, claro, a Universidade de Brasília. Apesar do medo de chegar em uma cidade nova, eu queria saber um pouco mais da vida além do meu quintal.

O vestibular para a UFG foi tranquilo. Tanto no caminho, quanto as questões em si. Não havia um conteúdo que eu não tivesse estudado e conseguia dominar matemática e todas as outras de exatas com uma maestria incomparável. Na verdade, durante um tempo, pensei até em cursar química... mas aí não queria me ver como professor e não estava com muita vontade de pensar em todas as outras possibilidades. De todo modo, uma semana após o vestibular, chegou a hora de ir para Brasília.

Acordei bem cedo, ansioso, e já desci as escadas de casa correndo. Apesar do barulho dos degraus rangendo com força, não acordei ninguém da casa. Dei um bom dia tímido para o cachorro Estrela que ficava sempre de prontidão na sala e fui para a cozinha, terminar de fazer os meus lanches. Cerca de quarenta minutos depois, a bagunça já havia se instalado. Meu pai, um senhor de cinquenta e poucos anos, sempre foi rígido, porém, desde que minha irmã tinha ido passar uma temporada em Minas Gerais, ele estava mais carinhoso. Talvez fosse por peso na consciência e aquela pitada de saudade, mas poderia ser também pela idade. Minha mãe estava sempre de bom humor e naquela manhã não era diferente. Os dois me ajudaram com os detalhes que faltavam e pediram para que eu fosse acordar meu irmão. Apesar de gêmeos, Lucas era extremamente diferente de mim. Inclusive, na questão estudos. Ele estava nem aí para como as coisas funcionavam, para ele – infelizmente, só existia o futebol. E administração. Por isso, ele seguiria comigo até o DF, faríamos juntos o vestibular da UNB. Para que tudo fosse possível, precisaríamos ficar em um hotel e eu estava um tanto quanto receoso, porém, de última hora, um primo que também faria a prova, conseguiu um daqueles Airbnb próximo do local e, então, ficaríamos "em família".

O amor não vai sentar ao seu lado no ônibusWhere stories live. Discover now