Ninguém nunca imaginou

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(Julia, 18 anos)

Meus pais sempre disseram para mim e para as pessoas que eu sempre consegui omitir bem as coisas deles, que só depois de sabe se lá quanto tempo eles descobriam que algo tinha acontecido, já era natural, e sempre era por coisas com pouca importância. Esse omitir e conseguir esconder as coisas dos meus pais fez com quem nem eles e muito menos outras pessoas soubessem o que passei naquela noite na academia.

Comecei a frequentar a academia quando tinha 16 anos, meus pais estavam com a situação econômica ate que boa se comparando a anos anteriores e para mim sempre tinha sido um grande sonho e vontade fazer academia. Comecei na academia do meu bairro mesmo, mas confesso que não tinha gostado de como era o funcionamento de lá, não só dos aparelhos mas as pessoas de lá também.

Ate que encontrei a dita academia que iniciei minhas aulas com um professor especifico, ficava a mais ou menos 10 minutos da minha casa, mas para mim ainda sim era muito bom, porque eu pagava mais barato, o horário de noite que eu ia era praticamente vazio e o meu professor ou personal como muitos chamam sempre foi muito amável e solicito.

Esse amável e solicito que ele era que me levou a confiar nele com apenas 1 mês indo a academia, eu ia todas as terças e quintas durante a noite que eu tinha aula com ele, normalmente começava por volta das 20h30 e íamos ate umas 21h45 dependendo do dia.

O dia em que sofri abuso sexual, fui violentada foi um dia não muito típico, era véspera de um feriado e praticamente ninguém queria ir para a academia, lembro de que quando cheguei lá, além da recepcionista, só tinha o personal, de outras duas pessoas na esteira, depois de um tempo ficou apenas nos dois. Antes de sair de casa, eu tinha pensado bem se iria ou não, mas como iria viajar no dia seguinte com meus pais para Minas Gerais decidi ir, já que ficaria uma semana fora sem treinar e fazer nada.

Começamos com nossos exercícios normais e ate ai ótimo, depois ele me lembrou que certa vez eu tinha comentado que queria aprender a dançar e colocou a musica dizendo que iria me ensinar os passos básicos que os próprios professores de dançam ensinam aos alunos.

Quando estávamos no inicio da musica ainda, ele começou a me apertar com mais força, as mãos dele que deveriam estar na minha cintura já estavam na minha bunda e já estava me sentindo bem desconfortável e mal com isso, comecei a ficar relutante e pedindo para ele afastar.

Ele me disse bem perto do meu ouvido: ''não era isso que você queria'', quando ele terminou a frase já fiquei assustada, quis correr e sair dali o mais rápido possível, mas ele me pressionou na parede, pediu para que eu ficasse quieta e prestasse atenção que ele não estava de brincadeira, que desde o inicio estava esperando para fazer aquilo e não iria desistir.

Pânico, enjoo, raiva e lagrimas começaram a aparecer, eu nem mesmo tinha percebido que estava chorando, ele começou a me beijar e me levou para o banheiro que era anexado com a sala, foi aonde tudo aconteceu, ele me violentou em cima do gabinete da pia do banheiro, como se eu fosse um objeto, um nada para ele.

Tinha fechado a porta, e por mais barulho que eu pudesse e quisesse fazer sabia que ninguém iria me escutar a única pessoa que poderia me ouvir que era a recepcionista que provavelmente nem voltaria mais ou estaria ali.

Parei de lutar, ele fez o que quis comigo pelo que pareceu horas e depois simplesmente disse para que eu me arrumasse que iriamos sair dali. Pânico novamente se instalou em mim, não sabia o que eu deveria ou não deveria fazer. Comecei a lembrar das frases da minha mãe de nunca ficar sozinha com um homem e ainda desconhecido e chorei mais ainda.

As únicas coisas que me lembro foi de sair da academia, estar deitada em um colchão em uma casa estranha, depois chegar em casa e chorar a noite inteira. Dias depois descobrimos que eu estava gravida, meus pais ficaram horrizados ao saber disso, e queriam saber o que eu tinha feito, se o pai era meu ex namorado que eu havia terminado o relacionamento a 3 meses ou não.

Mais uma mentira inventei que era de outra pessoa que eu estava me relacionando, mas tinha terminado o relacionamento, eles acreditaram como sempre, me deram o maior suporte e ate hoje não sabiam de nada que havia acontecido.

Nunca mais pisei naquela academia, nunca mais o vi, nem o denunciei, quando eu já estava com 5 meses de gravidez nos mudamos daquele bairro e daquela cidade e uma parte de mim recomeçou e outra ainda ficou e esta no passado.

Chega! Nunca mais (Volume 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora