38. Sacrifícios

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Nada.

Por alguns minutos achei que iria ficar preso ali para sempre até alguém me puxar. Alguém que fez os jornalistas se exaltarem ainda mais, porém, esse, diferente de mim, tinha a força de um touro.

Júnior Louis enfrentou o mar de gente e me resgatou dele.

Quase romântico.

Quase.

— Posso saber porque não entrou pelos fundos? — grunhiu ele, como se tivesse alguma razão.

— Porque não sabia que ainda estava essa baderna — resmunguei de volta, me limpando e verificando se estava tudo no lugar.

— Como se não desse pra ver do outro lado do quarteirão — ele insistiu.

Ele estava irritado. Bravo. Chateado? E daí?

— Se você não tivesse "causado" em sua festa de noivado, nada disso teria acontecido.

Ele cruzou os braços. Achei que iria ficar mais irritado, mas ao invés disso, apenas soltou um longo sorriso.

Aquele sorriso.

— Você não sabe né?

— Não sei o que? — então saquei tudo — Júnior... Você aprontou de novo?

Ele deu de ombros.

— Você tem quantos anos? Dez? — continuei. Agora eu é que estava irritado.

Ele não gostou da minha pergunta — que foi bem sarcástica — mas respondeu em um tom mais sarcástico ainda.

— Crianças de dez anos não fazem o que fiz.

Então antes dele falar algo eu peguei o celular e olhei as principais manchetes locais da semana.

E lá estava pra todos se contemplarem. O verdadeiro motivo para que todos os jornalistas do Ceará estarem em frente ao escritório do Sr. Louis.

Filho de um dos maiores advogados causa de novo, dessa vez em local público.

Dizia uma das notícias. Tinha até medo de abrir o link e ler a matéria por completo. Apenas o olhei ferozmente.

— Você sabe que eu terei que contornar essa situação, né? Você sabe que no fim quem limpa esses seus podres somos nós, empregados do seu pai. Não sabe?

— Vocês não precisam resolver nada. É só deixar.

— É só deixar — repeti as palavras dele em tom de deboche — somos empregados, e não os filhos dele que podem aprontar e sair impune. Se não fizermos o trabalho, somos demitidos.

— Eu queria ser demitido da vida do Sr. Louis — Júnior disse mais pra si mesmo do que para mim.

— Cada um tem o fardo que merece — digo rispidamente antes de sair.

Caminho até a sala de meu patrão. Ouço os gritos eufóricos dele mas a maioria fora abafados pelo inferno que acontece do lado de fora do escritório que é ainda mais ensurdecedor.

— Ah, olha quem apareceu — diz ele ao me ver — temos um problema aqui — ele aponta para janela, como se eu não soubesse. Como se eu quase não tivesse sido carregado pelos sedentos de informação lá fora — e temos outro problema aqui — ele aponta para o tablet ligado sobre a sua mesa, se referindo as notícias.

O único problema é seu filho, chefe.

— Tem alguma ideia de como resolver isso — ele realmente fez aquela pergunta, sem nenhuma ironia, sem nenhum sarcasmo.

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora