Capítulo 18: Guerreiro

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Isla St. George

Paraíso

Após minha pergunta, um silêncio tenebroso pairou entre nós quatro. Em nenhum momento eu tirei os olhos de cima dele, como se tentasse lê-lo, descobrir seus segredos e, principalmente, sua identidade. Em contrapartida, ele também não tirava os olhos de nós. Desconfiado, ele deu um passo para trás, e indicou com uma das mãos para que entrássemos.

A casa era grande, apesar do aspecto de interior e moveis antigos. A casa não tinha piso, o chão era liso, mas de cimento e pintado de um vinho escuro. A porta por onde entramos dava direto na sala, que era ampla e com um conjunto de sofás estranhos; a estrutura dele parecia ser feita de bambu e as almofadas eram floridas, apesar de confortáveis.

– Bem – o homem disse, levantando-se – vou fazer um café para nós, antes de começarmos.

Thais, Lana, Týr e eu ficamos nos encarando mutualmente. Tínhamos certeza de que aquele era Jared, ou, no mínimo, sabia onde ele estava. Quando o cheiro de café chegou à sala, eu senti um aperto no peito, pois todas as vezes que dormi na casa de Elena, quando ainda era vivo, sempre acordava com esse cheirinho. Imediatamente, pensei na última vez que a vi e como me despedi dela. A vida e a morte são cruéis.

Ele voltou minutos depois, trazendo café e alguns bolinhos. Depositou-os na mesa de centro, que também parecia ser feita de bambus e com um vidro por cima. Nenhum de nós fez menção de pegar, a não ser quando o próprio dono da casa se serviu. Fui o primeiro a agarrar um bolinho e uma das xícaras com café.

– Você é Jared Blackwood? – Lana perguntou; pelo tom, sabia que ela estava sem paciência.

– Sim, eu sou. – Ele abriu um sorriso, mas ao invés de olhar para Lana, ele fitava Thais. – E quem é essa garota tão linda? – Thais imediatamente ficou vermelha feito um tomate; por alguma razão, eu senti um leve ciúme.

– Thais. – Respondi, um pouco rápido demais. – Esta é Lana e eu sou Leonard. Nós somos enviados da Morte.

Ao citar a Morte, tirei uma reação de Jared. Pareceu surpreso no início, mas logo compreendeu.

– Os sonhos são reais, então. – Ele afirmou. – Com as pessoas vestidas com roupas estranhas. Eu realmente estou sonhando com minha vida.

Peguei do bolso interno do meu casaco um saquinho de pano, onde ficavam os pedaços do fruto proibido restantes. Retirei um sétimo dele, restando comigo apenas três partes. Eu estava feliz que minha missão estava chegando próxima de terminar – isto é, se Desmond nos encontrasse em São Paulo, como havíamos combinado. Pensei que em algum momento deveria voltar para horrenda cidade de Paris; quase automaticamente, olhei para Týr, que poderia não saber com certeza de meus pensamentos, mas sem dúvida percebeu que eu estava um pouco aflito.

– O que é isso? – Ele perguntou, confuso.

– Este é o Fruto Proibido. – Expliquei. – Ele irá trazer suas memórias e seu corpo de volta, assim como nós. – Apontei para Thais.

– Não é um processo simples. – Thais contou, falando de sua própria experiência. – E é um tanto dolorido, mas é revelador. – Ele pegou o pedaço do Fruto de minha mão.

– Aconselho deitar em um lugar confortável. – Eu disse, lembrando-me das convulsões de Desmond.

Nós o acompanhamos até um quarto no andar superior, onde ele deitou em uma cama de solteiro. Ele respirou fundo, colocou o Fruto na boca, mastigou – provavelmente sentindo o gosto de gengibre – e engoliu. Seus olhos se fecharam e esperou. Ainda lembrando-me de Desmond, avisei as garotas que aquilo iria levar um tempinho.

Afterlife: HeartlessOnde as histórias ganham vida. Descobre agora