— Pode ir. Vou descansar um pouco.

Ela sorri e diz que o convite está de pé, caso eu mude de ideia. Não mudo. Fico o resto da manhã no quarto, só descendo para tomar meus remédios. Aquele cara deve gostar muito da cozinha, porque ainda está lá quando encho meu copo.

— Sei que não é fácil. — diz.

— Não sabe não. — resmungo.

— Tem razão, não sei. Mas imagino que não seja. Saiba que fiquei agradecido por você ter se controlado na frente da Gwen. Ela pediu que eu te desse isso, quando expliquei que você estava dodói. — ele me dá um curativo de carrinhos — Para ela, isso cura tudo.

Isso abranda o resto do fervor que me possui.

— Ela gosta de carros? Você influenciou isso, imagino. — tento interagir como alguém normal.

— Não sei se ela gosta, o Zack é quem comprou todas essas coisas.

Dou um silêncio compreensivo como resposta. Ele me dá um olhar longo antes de ir até a porta do quintal e observar o jogo acontecendo. Vejo o flexionar ansioso das mãos dele e digo:

— Pode ir, não preciso de uma babá.

— Não estou aqui para te supervisionar, você é bem grandinha para este serviço. Quero aprender a me livrar de tudo que sinto ao observar uma partida, já que não vou jogar mais. Sabe como faz?

Nego com a cabeça.

— Ainda não consigo ver vídeos de animadoras. Você pelo menos pode ensinar a Gwen. Daqui alguns anos as garotas já devem ter um espaço de destaque no esporte, e ela vai te agradecer.

Ele pondera essa possibilidade e sorri ao se virar para mim, mudando de assunto.

— Entendo muito do que você sente, do que quer gritar e guardar. Mas nunca, nunca vou entender por que diabos pintou duas portas falsas em um coupé, se a graça do carro é só ter duas portas.

— É um dos carros da minha mãe. Pergunte a ela.

— Ele está precisando de uma pintura, foi você quem raspou a lateral daquele jeito? — pisco inocente — Gata, arrancar meu coração dói menos que fazer aquilo com a pintura de um Opala SS. Sua mãe já viu isso?

— Não. Vou deixar na oficina na volta.

O brilho que ilumina o rosto dele, de um jeito bem infantil, faz com que eu saiba que vou dizer sim para o que quer que ele for pedir antes de ouvir.

— Posso fazer isso de graça.

Penso no quanto de dinheiro tenho guardado para ainda ter que gastar nisso. Ele entende o silêncio como uma recusa, porque acrescenta:

— Veja o meu carro ali. Sofreu um acidente sério há algumas semanas apenas, e agora já está até bonitinho, eu fiz tudo sozinho. Não foi fácil, mas não é impossível.

— Todo Dean tem sua baby. — murmuro para mim — Se você me mostrar que é confiável até o final da semana, você pode trabalhar nele até o dia que eu voltar para casa. Não me faça te odiar pelo que você fizer, se tiver a chance, porque eu tenho um gancho forte em ambos os braços.

Ele pega minha mão e beija em uma promessa.

— Darei o meu melhor para não te deixar frustrada, schön.

Nem pergunto do que ele me chamou, pelo tom carinhoso que chama a filha em alemão, sinto que não quero saber do que me chamou com esse tom que dá um brilho selvagem aos olhos.

— Só te chamei de linda, não precisa fazer essa cara. Apesar de eu querer saber o que você pensou que era pelo rubor nas bochechas. — diz no meu ouvido e se afasta — Então, por que se irritou ao saber que a Gwen é minha filha? Algum trauma pessoal?

Fico confusa com a mudança de assunto e de tom. Entendo o porquê quando o Zack passa por nós, sem camisa e suado, e para ao voltar e nos encontrar.

— Ei Noelle, por que você não ajuda o meu time?

Gaguejo quando tento falar, e consigo soltar um "estou cansada" envergonhado. Ele não discute e sai.

— Ei Derren, obrigado pelo convite! Geralmente quem já jogou pode ajudar! — o Peter diz, fazendo o Zack levantar o dedo do meio às costas. Ele parece triste quando me olha. — Você gosta dele.

— Não.

— Não foi uma pergunta, você gosta.

— Ele é bonito, isso sempre me deixou nervosa. Não tenho sentimentos por ele, me sinto intimidada, como se eu precisasse alcançar ele.

Ele é a primeira pessoa para quem admito isso. Nem o terapeuta sabe, porque é mais fácil fingir que é uma paixão que fazer entenderem que é algo estético.

— Você, bonita desse jeito, quer mudar algo? Ainda mais algo no estilo Zack Derren. Quero dizer, olhe para ele! — gesticula — O imbecil usa gel no cabelo, gel.

— Eu ouvi isso! — ele grita.

— Eu não ligo! — o Peter responde e eu reprimo uma risada.

Um sorriso divertido está no rosto dele quando me olha.

— Eu te fiz rir. Não lembro da última vez que fiz isso sem ser de nervoso, e sem ser fazendo cócegas.

— Você é engraçado. — dou de ombros.

— Essa é a primeira vez na minha vida toda que escuto isso. Gosto de você, gata. Você tem algo que nunca vi em ninguém, por isso não sei o que é, mas estou disposto a descobrir se você deixar.

A maneira franca como ele expõe o que pensa me faz gostar dele também. E por hora, o sentimento que isso traz não me incomoda nem um pouco.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora