Capítulo 2
Eu terminei de escrever a data no diário quando a sirene tocou pela segunda vez. Eu precisava ir para a sala ou não poderia mais entrar. Ou pelo menos foi isso que Piercing me explicou.
– Tá afim de assistir aula ou quer ir num lugar maneiro comigo? – Piercing apoiou seus braços em meus ombros enquanto sussurrava em meu ouvido.
– E quão maneiro é esse lugar que vale o risco de uma advertência? – fingi estar empolgado, mas a verdade era que eu morria de medo de já arrumar encrenca no primeiro dia.
– Me siga e descubra, bebê.
Suspirei, fechei meu diário e fui atrás dela. Piercing caminhava em direção ao pátio do colégio, que terminava no portão branco de grades, a saída dos estudantes. E lá ficava seu Pedro, um moço na casa dos sessenta anos, sentado em sua cadeira de madeira mal envernizada.
– Ei, como espera passar por ele? – segurei o braço de Piercing, mas ela não parou de andar.
– Relaxa. – se soltou.
Na medida em que nos aproximávamos, seu Pedro erguia a cabeça de cabelos grisalhos até conseguir nos ver. Pelas rugas nos cantos dos olhos, notei que ele fazia força para nos enxergar melhor.
– Por que ele não usa óculos? Claramente precisa de um. – falei baixinho.
– Que Deus me perdoe, mas a cegueira dele nos ajuda pra caralho. – Piercing sorriu para ele. – Bom dia, seu Pedro! Quanto foi o jogo do Flamengo?
– Três a zero – o porteiro riu, exibindo sua dentadura amarelada. – Ganhamos fácil.
- Que bom! – Piercing serrou os punhos e levantou os braços para cima da cabeça, forjando uma vibração. – Escuta... o senhor pode me deixar comprar um real de bala ali em frente?
– Tenho ordens para não deixar ninguém sair, minha filha.
– Poxa – Piercing soou desapontada. – Então que tal o senhor ir para mim? – voltou a sorrir e tirou algumas moedas do bolso e rapidamente as colocou na mão esquerda do porteiro, sem lhe dar chance de recusar.
Eu coloquei minhas mãos para trás e comecei a bater meu pé. O que ela queria enganando o porteiro? Talvez fosse melhor voltar para a sala, ou ao menos tentar, porque a segunda sirene já havia tocado.
Seu Pedro levantou-se da cadeira e começou a destrancar o cadeado. Piercing piscou para mim vitoriosa.
– Com licença – uma galega se aproximou de seu Pedro com um papel na mão. Ela alternava a visão entre o porteiro e o papel. – O senhor pode me informar onde fica a Catedral? É que eu sou de Salvador e tô meio perdida.
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Diário do Biel
RomanceOi, eu sou o Biel, mas poderia me chamar Sr. Trouxa. Confiei em um garoto lindo e me dei mal. Precisei mudar de cidade por conta da humilhação que passei, sacrificando o vôlei, meu esporte favorito. Em meu diário escrevo absolutamente tudo que...