Capítulo II

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Thaynara não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Sentia como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia acordar, por mais que tentasse com todas as suas forças. A imagem de Amanda com o rosto cheio de marcas, completamente pálida, morta naquela gaveta de metal, não saía de sua cabeça. Encarando o celular em suas mãos, ela tentava criar coragem para ligar para as amigas e contar o que tinha acontecido. Sem controle, as lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto quando sua atenção foi requerida novamente pelo funcionário do IML que repetia a pergunta.

— Você​ saberia me informar o nome completo dela e a idade? Como disse, não achamos nenhum documento de identificação junto ao corpo. — a voz dele soava cheia de indiferença aos ouvidos de Nara. Apesar de ele lidar com aquele tipo de situação todos os dias, ela não conseguia entender como alguém conseguia simplesmente não se importar.

— Amanda​ Batista de Souza — falou com a voz chorosa soando trêmula. ​— Ela​ tem 19 anos. — Completou, dando a outra informação pedida.

— Tinha — falou o homem, olhando depois de muito tempo para o rosto de Thaynara, que o encarava com clara dúvida. —​ O​ termo correto é tinha, no passado, já que... Você sabe... Agora ela está... — a medida em que ele falava, percebeu o belo rosto de Thaynara se tornar uma máscara de incredulidade, seguida de puro ódio, de tal forma que ele se sentiu assustado e não completou o que estava dizendo. ​— Ela​ tinha plano funerário? — perguntou, não esperando a resposta. ​— Caso​ tenha, peço que entre em contato e peça para virem aqui. Peço que aguarde mais um pouco, a polícia já foi informada e uma pessoa deve chegar dentro de uns minutos para falar com você — sem mais, ele saiu da sala, deixando Thaynara sozinha.

A morena não entendeu por que deveria aguardar a polícia, mas, de qualquer forma, não possuía forças para sair dali ainda, por mais que lhe desagradasse ter que ficar mais uma vez de frente com os "homens da lei". Aproveitou o tempo para procurar na agenda do telefone o número do seu plano funerário. Amanda havia saído da casa dos pais muito cedo e eles a renegaram como filha, então, ela sabia que, mesmo que ficassem sabendo da morte da garota, não arcariam com as despesas do funeral.

— Você​ vai ter um enterro digno, minha amiga, não se preocupe — Nara falou sozinha, ainda tentando conter o choro enquanto aguardava ser atendida por alguém do outro lado da linha.

Passou quase trinta minutos ao telefone conversando com a atendente do plano, tomando o cuidado para que tudo desse certo. Teria que gastar o pouco que tinha na poupança, mas não se importava com o dinheiro agora, queria somente que sua amiga tivesse uma cerimônia bonita para que pudesse ir em paz. Sua mãe sempre lhe ensinou que ela devia ter respeito pelos espíritos dos mortos, tanto quanto tinha por aqueles que ela amava. E Thaynara amava a amiga como se fosse uma irmã.

Tinha acabado de desligar quando dois policiais fardados entraram na sala onde estava e a encararam por um momento, até um deles se apresentar.

—​ Boa​ noite, senhorita. Me chamo Fernando Augusto e esse é o meu parceiro, Pedro! Gostaríamos de fazer algumas perguntas a você sobre Amanda Batista, tudo bem? — perguntou, olhando de Thaynara para a prancheta com papéis que segurava. Thaynara apenas acenou com a cabeça confirmando. ​— Estamos​ responsáveis pela investigação do caso da sua amiga, que é bem similar a outros dois que tivemos no começo desse mês — explicou de forma atenciosa. ​— Saberia informar onde sua amiga estava antes de desaparecer?​

— Estava​ comigo e outras amigas. Nosso ponto fica na Avenida José Bastos! — respondeu e viu o parceiro de Fernando, que estava escorado em uma das paredes do local, sorrir de uma forma bem debochada. A reação não era nenhuma surpresa para Thaynara. Sempre que ela falava para alguém do seu trabalho, as pessoas reagiam de duas formas: ou a encaravam com espanto, como se estivessem diante de uma aberração da natureza, ou riam com deboche, como se ela não fosse merecedora de qualquer tipo de atenção. Ela voltou a olhar para Fernando e viu nos seus olhos que ele estava desconcertado. ​— Ela​ saiu com um cliente e desapareceu — completou a informação.

Aurora - Poder de Sangue - Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora