Com Tanto Amor - Parte 2

16 5 10
                                    



Certo dia, Mathew resolveu me levar para jantar do outro lado da cidade. Estávamos caminhando por um beco, quando senti minha bolsa sendo puxada por alguém, no susto eu caí, mas tive tempo de ver um garotinho franzino sair correndo com a minha bolsa. Dentro dela não tinha nada de especial, já que meu celular e carteira estavam em casa, havia esquecido sobre a mesa da cozinha. Mas algo em mim me mandou correr atrás do garotinho. Nem dei tempo para o Mathew entender o que estava acontecendo, girei nos calcanhares e corri como uma louca.

Mathew, quando percebeu o que estava acontecendo, começou a correr também, o que foi bom, já que ele era muito mais rápido do que eu e logo conseguiu meu ultrapassar.

– Te peguei – falou, segurando o menino pelo braço.

– Mathew – Gritei, enquanto eu corria. – você está bem?

– Estou sim, peguei o pequeno encrenqueiro – Apontou para o menino, tirando a minha bolsa da mão dele.

O pobre garoto tinha os olhos entristecidos e a roupa muito suja. Ia falar para o Mathew soltá-lo, mas meu marido já o arrastava em direção a delegacia, que ficava no próximo quarteirão. Meu coração doeu, ao imaginar o que aconteceria. Que merda, pensei, não queria leva-lo até lá.

– Precisamos mesmo levar ele pra a delegacia? – Sussurrei, quando já estávamos entrando no local.

Antes que ele pudesse me responder, um policial chegou perto de nós perguntando o que tinha acontecido. Sem olhar em minha direção, Mathew contou para o policial tudo o que tinha acontecido. O pobre menino se encolheu e se escondeu atrás do meu vestido.

– O senhor quer prestar queixa? – Perguntou, pegando o menino pelo braço e o puxando com força.

Instintivamente, dei um passo pra frente com a intenção de puxá-lo de volta, mas Mathew me impediu, colocando a mão no meu ombro. Meu coração deu uma batida lenta e dolorosa.

– Não precisamos de tanto. – Mathew respondeu. – Apenas leve ele para casa e conte para os pais o que aconteceu.

Respirei de forma aliviada, era melhor o garoto ir pra casa e não se meter em outros problemas.

O policial assentiu e Mathew colocou o braço envolto da minha cintura e saímos pela saída de serviços, que era mais seguro para evitar fotógrafos e não aparecermos nas manchetes dos jornais da manhã seguinte.

Estávamos do lado de fora, quase saindo da propriedade da delegacia quando vejo o mesmo menino saindo correndo e o policia o gritando sem fazer esforço de ir atrás dele.

Eu nunca soube explicar o que me aconteceu naquele dia, algo em mim gritou e eu apenas obedeci meus instintos e corri atrás do menino, não para alcançá-lo, mas para descobrir pra onde ele estava indo. Mathew correu também, me virei pra ele e coloquei o dedo nos lábio, fazendo sinal para que ele ficasse em silêncio.

O menino virou algumas esquinas e se enfiou no meio de um terreno cheio de mato, com uma casa muito simples ao fundo.

Segui-o de forma silenciosa e me estiquei para olhar pela janela. Meu peito doeu e as lágrimas vieram descontroladas. Mathew se aproximou e começou a chorar como eu.

A casa estava completamente de cabeça para baixo, no meio da sala suja estavam sentados o menino que havia roubado a minha bolsa e uma menininha que julguei ser irmã dele, já que eram muito parecidos um com o outro. Ao fundo, um colchão de casal estava parcialmente embolado junto com embalagens de Lámen e biscoitos estavam por todo o lugar. Agora reparando as duas crianças elas estavam bem magras e pálidas.

COMO VIVEM AS LEMBRANÇASWhere stories live. Discover now