Frenesi

Capítulo 1

"Eu nunca tive medo de nenhuma divergência, e eu realmente não ligo."

– Bad Reputation, Joan Jett & The Blackhearts

POLARIS

"Rizz! Vai querer gelo no seu suco?" escutei a garota de cabelos trançados, vestido tie dye desbotado e botas pretas, que iam até seus joelhos, gritando distante enquanto eu estava à procura de alguma mesa vazia – o que era quase impossível em meio à multidão em que estávamos. Pressupus que todos os estudantes do campus decidiram passar ali antes de ir para qualquer que fosse o curso que faziam.

"Eu não pedi suco, quero café!" respondi no mesmo tom de voz em que Sirena havia perguntado. Tenho certeza de que falei umas três ou quatro vezes que queria tomar café, como ela não se lembra? Se tem algo que é perfeito para acordar logo de manhã no início de mais um semestre letivo, esse algo é uma dose de café puro e quentinho. Aliás, só isso para despertar todas as células de meu corpo e conseguir prestar atenção em alguma aula nesse horário.

"Sem açúcar então." oi? Espero que ela não erre nossos pedidos, de novo.

Depois de uns minutos passando os olhos pelo local, avistei uma mesa com dois lugares vagos. Aquela lanchonete sempre teve um clima agradável, independente da quantidade de pessoas ali presentes. Me proporciona uma sensação de calmaria misturada com a ansiedade de realizar tudo o que você têm planejado, duas coisas que, se colocadas na mesma perspectiva, chegam a ser contraditórias. Ah, esse cheiro de café recém passado e de manteiga queimando na chapa, não há melhor forma de começar um dia.

Assim que parei de observar e gravar, mais uma vez, aquilo em minha mente, marquei território sentando-me e largando nossas mochilas ali no chão próximo as cadeiras. Vejo Sirena voltando com dois sucos – um em cada mão – e nada de panquecas ou meu café. Lancei um olhar furioso e usual a ela.

"Onde está meu café?" não acredito que ela fez isso.

"É, eu fiz exatamente o que você está pensando." uau. Já disse que tenho medo dessa garota e dessa conexão? Pois é, muitos anos de convivência levam a isso. "E pare de me olhar com essa cara de brava pois estou imune a isso há tempos, querida."

"O que eu fiz para merecer esse tipo de coisa, me diz?" rolei os olhos e encarei o suco a minha frente com um certo receio. "Por que raios esse suco é verde? E existe fruta boa e que seja verde? Parece vômito, Nina!" não sou uma garota pertencente à nata populacional que se entrega de corpo e alma a uma vida saudável. Para que me privar de algo que me faz feliz só pela consequência que aquilo pode trazer para minha saúde? Que absurdo.

"Primeiro, kiwi, abacate e melão são frutas deliciosas e verdes. Segundo, estou apenas cumprindo meu papel de melhor amiga, ok? Você toma muito café e cafeína em excesso faz mal para a saúde, principalmente para você que tem ansiedade, se continuar assim – com certeza - vai desenvolver gastrite ou ter um colapso nervoso e ainda nem tenho carta de motorista para poder correr contigo para um hospital. E digo mais, não estou preparada psicologicamente para perder minha melhor amiga em razão de um veneno para o corpo humano." e se eu morresse atropelada ela estaria pronta? Lá vem ela com esse maldito discurso mais um vez. "Terceiro, esse suco é delicioso. O verde dele não é de fruta, o verde vêm das folhas que são acrescentadas a ele. Aliás, esse suco te dá todos os nutrientes possíveis para aguentar seu dia hoje. Pare de fazer birra e toma logo." até parece que vou colocar aquele negócio verde – que nem fruta deve ter –

para dentro do estômago.

"Já que você ama tanto esse suco, fique com mais um copo como presente de volta as aulas." abri um sorriso falso e empurrei meu suco em direção a ela. "Você pediu as panquecas ou, mais uma vez, vou ter que ir até lá e refazer o pedido?" toda semana tomávamos café juntas, mas eu sempre tinha que voltar e pedir o que faltava. Desde pequena Sirena é lerda. Digo, não lerda. Esquecida, essa é a palavra.