Porque eu nunca achei que esse momento chegaria tão depressa.

Certamente não depois que me transformei em humano de novo.

Meu relacionamento com a Nina sempre foi estranho, é verdade. Havia dias em que eu a odiava com tanta força que mal podia ficar debaixo do mesmo teto que ela; e no dia seguinte, no entanto, lá estava eu de joelhos aos seus pés de novo. Nunca achei que passaria por qualquer desequilíbrio assim mais uma vez, não depois de ter me libertado da Marca; não depois de estar convicto de que eu definitivamente tinha sentimentos muito fortes em relação à ela.

Achei que ficaríamos bem agora.

Mas quando dei por mim já estava no mesmo dilema.

Quando dei por mim já me peguei pensando: "Deus, como eu odeio essa garota"... E isso poucas horas depois de eu ter feito uma porcaria de serenata... De ter chorado junto com ela no bosque que, sinceramente, a essa altura, eu já podia chamar de nosso. Talvez fosse porque amor e ódio estivessem sempre entrelaçados. Demônios envolvidos ou não.

Ou... Talvez fosse pura e simplesmente porque ela era especialista em me provocar.

Estava mais inclinado a acreditar na segunda opção.

O jeito que ela sorria para ele; a forma como movia os olhos lentamente ao encarar seu rosto e como de alguma forma sempre parecia estar perto demais... Era tudo de propósito. Nina estava a fim de me desafiar; queria brigar para resolver nossos problemas, como eu costumava fazer.

E por Deus, era isso mesmo o que ela ia conseguir.

Tudo começou quando estávamos nós quatro na cozinha, naquela noite.

Depois que todo mundo se deu conta de que a nossa pequena viagem ao bosque deu certo e que ela finalmente tinha voltado a falar, Sam e Castiel não conseguiam se conter. Por boas horas tudo o que se seguiu foram abraços, choro, e conversas cuidadosas que não envolvessem as palavras "tortura" e "Michael".

Não saiam de cima dela.

Como se só agora ela tivesse realmente voltado de seu desaparecimento de mais de dois anos. O que, pensando bem, era verdade.

Sam tinha feito o jantar e estava sentado à sua esquerda. Já Cas não deixava a sua direita, como um segurança. Todos sorriam e falavam levemente na minha frente como se não houvesse nenhuma vítima de coisas impensáveis na mesa; como se Nina ainda não estivesse secretamente pensando em morrer ou deixar de ser o Oráculo, sem meios termos. Quando nem uma nem outra opção era sequer remotamente aceitável para mim.

Ela mantinha o personagem. Os acompanhava como se tudo estivesse bem; entrava na conversa, fingindo um interesse que eu sabia ser inexistente. Só porque ela sabia que isso me irritava; me tirava do sério qualquer tipo de rodeio para chegar na questão principal; ainda mais quando a questão principal era a vida dela. Eu devia ter dito algo. Devia ter conversado com Sam e Cas sobre o que aconteceu na floresta e talvez assim eles conseguissem convencê-la do que eu não consegui.

Mas não fiz isso.

E esse foi o maior erro que eu poderia ter cometido.

Agora tudo o que eu ganhava em troca era uma pequena demonstração do quando ela podia me enlouquecer com quase nada de esforço.

"É ótimo te ter de volta, Nina" - Cas sorriu do seu lado, satisfeito por vê-la comendo normalmente, sem abandonar o prato para correr e vomitar no banheiro. Em resposta ela ergueu os olhos para ele e assentiu. Na hora eu soube que o que Nina queria mesmo dizer era que ela não estava de volta coisa nenhuma.

Mas, claro, em vez de apontar isso ela só concordou em silêncio, dando esperanças de uma coisa que de real não tinha nada... Quando eu tinha certeza absoluta de que assim que virássemos as costas mais uma vez ela tentaria de novo.

A Menina Dos WinchesterWhere stories live. Discover now