— Garoto, eu não te liguei para ouvir sermão, o número do meu pai está aqui para isso. Só tire ela daqui logo. Estou naquela casa que fica na saída da cidade.

Ela desliga na minha cara. Tenho um debate comigo mesmo, o Amigão sendo a única plateia, sobre a necessidade de eu ir ou não. Ela pode estar mentindo, pode estar querendo algo, mas também pode estar falando a verdade e a minha filha está mesmo com uma mãe sem condições de discernir a cama do chão. A Gwen é o que me faz ir. Dirijo até o casebre de beira de estrada, um lugar horrível e muito sujo. Vejo o carro de um oficial de polícia do condado escondido em um canto, sem surpresa alguma ao ouvi-lo com a Vivian em um quarto, enquanto a minha filha parece assustada demais para fazer qualquer coisa no sofá.

— Ei liebe, — digo a ela — por que você não vai entrando no carro do papa? Já vou indo também.

— Ele disse que vai atlás de mim se eu sair. — murmura nervosa.

— Não deixarei isso acontecer. Vá para o carro e me espere lá. — ela me olha suplicando — Gwyneth, é o melhor, tudo bem? Vamos fazer algo legal ao sairmos daqui. — prometo.

Ela vai então, e faço uma prece pedindo por paciência quando abro a porta do quarto e a Vivian está no meio de uma contagem de pacotinhos suspeitos, que para quando me vê.

— Peter, eu posso explicar.

— Não, eu não preciso de explicações. O que estou vendo aqui agora é tudo que preciso saber. Cadê o seu namorado? — pergunto, sem perder a calma.

Já passei da fase de ficar irritado há muito tempo. Ela não responde, enquanto tenta esconder com o corpo o que estava contando. O problema é que, esconder de mim não deixará aquilo menos nocivo.

— Tudo bem, você não vai falar. Então eu falo. Você não é mais criança, sabe que tudo que faz tem consequências, mas a Gwen é, e ela desconhece essas consequências. Estou levando ela para a minha casa e amanhã darei entrada no pedido de guarda dela.

— Por favor, não. A Gwen me salva quando eles vem me cobrar. — implora, e os olhos esquisitos dela dizem onde está o conteúdo de um pacotinho aberto.

— Esse é o problema, Vivian. Ela tem cinco anos, você deveria estar ajudando ela, não o contrário. Ela é sua filha, não seu escudo. Ela precisa de uma casa, um lugar onde se sinta segura, com pessoas que permitam que ela se desenvolva, não disso. Vou levá-la agora, me ligue quando estiver sóbria.

Vejo a tentativa falha dela de levantar do sofá, o que resulta em um copo quebrado e bebida pingando da mesa. Balanço a cabeça e vou até o carro, onde encontro a criança loira cujo daria minha vida por.

— Papai, onde estamos indo? — pergunta apavorada quando giro a chave na ignição.

— Você confia em mim, liebe?

— Sim, mas com medo. O namolado da mamãe é um monsto mau, ele me segue.

— Não tema, vai ficar tudo bem, ok? Aperte os cintos e coloque o capacete da bicicleta. — por precaução, afinal conheço a Vivian.

Se ela foi capaz de ajudar a machucar um famoso, por que não me machucaria?

— Vamos andar de bicicleta? Eu gosto de andar de bicicleta...

Ela conta dos passeios de bicicleta dela enquanto eu penso no que fazer. Tirar minha filha do país e então mantê-la no Canadá longe da mãe e dos problemas dela, enviar uma mensagem para o Zack dizendo a localização da menina e explicar tudo? Soava como todo mundo entendendo meus passos errados mais uma vez.

Assim que entro na estadual um carro de polícia aparece atrás de mim com a sirene ligada. Jogo o carro para a esquerda, dando passagem a ele, mas ele me pressiona para a direita.

Que diabos...?

Pelo retrovisor, vejo que a Vivian está no carona, então sei quem está no volante. Reduzo a velocidade, esperando poder parar no acostamento e ver o que ele quer, mas ele bate na lateral do meu Mustang e o carro rodopia no ar na direção da ribanceira.

Olho para trás, a vida em câmera lenta, e a Gwen estava tentando tirar o cinto desesperada, mas estendo a mão e seguro a fivela, e no momento seguinte caímos com um baque forte. Algo corta o meu braço e o volante atinge meu rosto. Minha filha desmaia com o impacto da cabeça na janela e eu tento desesperadamente tirá-la de lá. Fumaça me fez engasgar, eu estava com a sensação de ser espetado por mil agulhas no corpo todo, mas se o combustível tiver saído do tanque isso aqui vai virar uma fogueira logo. Abro a porta e solto o cinto, caindo de cabeça no teto do carro. Sangue cobre meus olhos.

Ótimo, tudo que preciso é de uma concussão. Me arrasto para fora e abro a porta da Gwen.

Liebe? — chamo.

Nada. Me arrasto para procurar ajuda, sentindo minha costela me castigar. Chego na beirada da pista após muita luta. Uma pessoa aparece e me coloca de barriga para cima, e não consigo protestar. Vi, por trás do véu vermelho, a pessoa tirando minha filha de lá e ouvi a voz dela. Com esse som da vida da coisa mais preciosa para mim, me permiti cair na escuridão que tentava me puxar.

— Peterson? Peterson? — um homem me chama sem parar.

A dor que eu sentia na cabeça era uma coisa de louco. Abri os olhos, mas fechei logo. Pontos no supercílio, muito bom.

— Peterson?

—Você pode, por favor, calar a boca? Acho que dá pra ver que estou mal.

Quem é espera eu abrir os olhos e ver o halo branco da luz hospitalar para dizer:

— Você está preso em nome da lei, por ter tentado fugir da polícia, por sequestrar a sua filha e por ter matado Anthony Richardson segundo provas novas, culposo ou doloso. Poderá se defender no tribunal, tudo que você disser poderá ser usado contra você...

E foi dessa forma que quase pedi pra ser deportado.

Essa história só mostra como a gente não pode julgar uma história pela única página que lemos dela. O pouco que conhecemos de uma pessoa não define quem ela é, para o bem ou mal.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Where stories live. Discover now