Trust

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Curiosamente, esta é a carta que te enviaria há mais de um ano. Sei que a cada texto que te escrevo me massacro com a tua (in)existência. Por esta altura já me conheces bem, e sabes o quanto adoro escrever, mas não é disso que se trata. 

Há algo que não sabes, mas que não te espanta, eu menti. Menti desde o primeiro dia, eu lembro-me. A primeira mentira, como me poderia esquecer, mas havia uma justificação. Sabes o nosso passado é algo que nos marca imenso, e o meu não foi fácil, de todo... Então decidi mentir, para que tu não tivesses a mesma imagem que eu já teria feito de ti. 

O tempo foi passando, mais uma mentira ou outra, nada relevante. Mas eu sei que menti. Sei porque me conheço. Fica descansado que nunca fingi prazer. Mas fingi não gostar, mas disso tu também já sabes. Já sabes o quanto te amo, e o quanto me destruíste. Impressionante, até já reconheces cada expressão microfacial minha e o que significa. 

Como vês continuo mentirosa pois esta não seria a carta que te escreveria há um ano. Mas diz-me a tua bebida favorita ainda é leite branco? A minha mente perversa desvia sempre para outros caminhos e desatávamos às gargalhadas sempre que o dizias. Não me digas que sempre que arranjas uma diversão nova ainda andas à guerra para ver quem fica no lado da cama ao pé da parede, era a parte mais divertida de me deitar contigo.

Recordas-te de quando tomava-mos banho, nunca saia coisa boa. Desde o pormenor da temperatura da água, ao do quem fica mais próximo do chuveiro. Mas sem dúvida alguma que o melhor era quando enchia-mos a banheira e não nos lembrava-mos que ao nos sentar a água iria sair toda. Não te condeno se já te tenhas esquecido, afinal, fomos a viagem um do outro para um destino, que pessoalmente eu ainda nem sequer encontrei.

As minhas mentiras levaram à tua indiferença, e hoje eu não te tenho. Na verdade nunca te tive, pelo menos por inteiro. A minha insegurança e o meu medo levaram com que te fosses, mas o que eu não estava à espera era que fosses de vez. Eras o meu pilar, eu poderia não desabafar muito contigo, mas tinhas a capacidade de me fazer esquecer de todos os meus problemas. Não digo que tenhas sido um "passa-tempo", mas sempre que me sentia sozinha e me queria isolar tu estavas lá, a mimar-me e a fazer-me rir com o teu sentido de humor

E aquelas noites? Bem nessa altura só andávamos mesmo a passar o tempo, mas foi um tempo bem passado ao luar. Confessa, ainda vês as estrelas ou não tens ninguém para te fazer companhia nessa tua pequena loucura? É que sabes não é costume estarem duas pessoas sentadas num banco a olhar para o céu estupefactas com o que viam. 

Tu conheces-me bem, bem o suficiente para estranhar o facto de não ter tocado ao longo do texto da palavra " saudade ".Ela ainda existe, e se quiseres tratar dela, sabes bem onde me encontrar.  

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