Brincadeira de Criança

Stevie é um menino de 11 anos, esguio, não muito alto, de cabelos castanhos e olhos escuros. Ele gosta de desenhos animados e filmes antigos, do tempo de seu avô. Geralmente passa as manhãs assistindo desenhos, as tardes brincando com seus bonecos e as noites assistindo filmes.

Stevie não tem muitos amigos, mas nunca se importou, pois, não sabia ao certo como, mas sempre tivera consigo seu companheiro, Huprest, um enorme cão de pelagem negra e estatura robusta para a maioria dos cães de grande porte. Seu focinho alongado e orelhas pontudas fazem com que seu rosto lembre o de um lobo. Na verdade, ele seria facilmente confundido com um, não fosse a coleira vermelha que desde sempre usara no pescoço.

Naquela manhã de sábado o ritual não foi diferente de todos os dias. Stevie acordou, aprontou seu achocolatado e foi para o sofá com Huprest. Quando ligou a televisão, perceberam que algo havia mudado, a maratona Scooby-Doo havia sido cancelada. Ao invés de uma turma de jovens que desmascaram monstros, o canal estava exibindo um programa de entrevistas apresentado por uma mulher sem graça.

Stevie não podia acreditar naquilo. Quem em sã consciência cancelaria os desenhos de sábado de manhã? Seria tudo uma grande conspiração? Inúmeros questionamentos passavam pela cabeça de Stevie, e ele não tinha respostas para nenhum. Desejava ser Indiana Jones e usar o chicote para arrancar aquela mulher para fora da televisão. Mas sabia que aquilo não seria possível.

E em meio a esse choque de realidade, decidiu passear um pouco pelas redondezas. Ele sabia que sua mãe não se importava, desde que ele voltasse para a hora do almoço.

"Vamos Huprest. " Ele dizia para o cão enquanto se vestia. "Vamos encontrar algo de divertido para fazer. Sair para uma aventura, como em Hora de Aventura! Eu vou ser o Finn e você vai ser o Jake. Vamos! "

Huprest soltou um ganido de confirmação e os dois saíram de casa.

Andaram a esmo por um tempo, como um velho que decidi caminhar depois de se descobrir com um alto nível de colesterol, e o faz por um dia, até decidir parar depois de 15 minutos para tomar uma Coca-Cola.

Naquelas bandas onde Stevie morava, o pouco de civilizam se resumia em grandes extensões de terra cercada por arames farpados, tão baixos que não impediriam nem mesmo uma criança de saltar. Stevie sempre se perguntara o porquê de alguém cercar um espaço de terra tão grande e vazio. Era certo que em algum lugar daqueles grandes terrenos, existiam casas onde os donos moravam. Mas para que não cercar apenas as casas? É possível roubar um pedaço de terra? Por alguns instantes Stevie imaginou um homem de máscara carregando um país dentro de um saco amarelo com um remendo vermelho, como nos desenhos animados. Stevie soltou uma risada, e Huprest, como se partilhasse da diversão do amigo telepaticamente, soltou um grunhido que Stevie entendeu ser uma risada na língua canina. Apesar de que certa vez seu professor de biologia dissera ser impossível os cães rirem.

Caminharam por um bom tempo a procura de algo interessante, Stevie já estava até mesmo perdendo as esperanças e pensando em voltar para casa, quando em certa altura da estrada, os dois amigos se depararam com algo um tanto quanto incomum.

Marcas de pneus saíam da estrada em direção a mata fechada. Stevie e Huprest se entreolharam. Eles precisavam investigar. Como nos filmes Noir que assistiam de madrugada. Onde o homem de chapéu e caráter duvidoso segue um rastro até uma pista, que leva a uma mulher misteriosa, que se descobre no final estar envolvida com o grande adversário da trama.

Os dois seguiram mata a dentro por alguns minutos, nenhum sinal do paradeiro do carro que deixara as marcas, apenas galhos quebrados para todos os lados. De repente os pelos de Huprest se eriçaram, ele sempre fazia isso quando farejava algo curioso. Stevie esperou enquanto o cão revirava um arbusto com o focinho. "Oque tem aí? O que você encontrou Huprest? " Perguntava Stevie um curioso. Foi quando Huprest retornou para junto do garoto, carregando um revolver prateado entre os dentes.