Enfrentando a realidade.

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Lucas dirigia o carro, mas sua mente estava longe, para ser mais preciso estava naquela garota que lhe tirava do sério. Cada vez que se encontravam aquela corrente elétrica acontecia. Já teria perdido a cabeça há muito tempo, se ela não fosse uma mulher!

– O que você disse para a Evelyn? – Falou Melissa enquanto ajeitava o cinto.

– Nada além do que ela deveria ouvir!

Melissa virou para ele.

– A ideia de saltar de paraquedas foi minha!

– Eu tenho certeza disso! Mas se ela não tivesse lá, você não teria o incentivo. Melissa essa garota não serve para ser sua amiga, eu já te falei isso!

Ela o fitava com os olhos faiscantes de raiva.

– Como é? Você não tem o direito de falar assim da Evelyn, você nem ao menos a conhece para falar desse modo!

– Nem precisa, basta olhar para ela!

Evelyn e Melissa era tão diferente. Não entendia como havia surgido aquela amizade. Sua irmã era uma garota tão meiga, enquanto que Evelyn era tão altiva e atrevida. Ela mostrava rebeldia com seu modo de ser, mas Lucas enxergava que ali existia uma garota que gritava por atenção.

Talvez ela estivesse atraindo para si a atenção errada, pensou acordando de seus pensamentos e prestando atenção ao que Melissa dizia.

– Lucas, eu não vou discutir isso, pois seria o mesmo que dizer que teus "amigos" são ótimas pessoas.

"Como tinham chegado àquela comparação?"

Ele não era idiota. Sabia muito bem que estava cercado de pessoas interesseiras, mas não era nenhum bobo que não soubesse onde estava se metendo.

– Por favor, não compare os meus amigos com aquela garota!

Melissa era tímida, mas aquele momento ficou irritada e não fez nenhuma questão de conter-se.

– Só porque ela é pobre e mora na "favela"? Afinal, é assim que a Nádia sempre fala, ou, não é?

Nádia era a namorada de Lucas, mas Melissa sabia muito bem que logo ela se tornaria sua noiva. E isso não lhe agradava nenhum pouco!

– Melissa, eu nunca disse isso!

– E nem é preciso! Você deixa isso muito claro com as tuas atitudes. E se quer saber, eu não vou deixar de falar com a Evelyn só por causa disso!

Lucas estacionou o veículo em frente à bela casa e esperou que o portão fosse aberto, mas Melissa não estava com vontade de continuar ali, por isso saiu do carro sem dar crédito ao que o irmão falava.

–Melissa...

Lucas observava a irmã entrar em casa. Ele apenas gesticulou em negativa, logo depois entrou com o veículo e o estacionou na garagem. Enquanto saia do carro, na sua mente pairava apenas um pensamento "precisava acabar com aquela amizade, antes que algo pior acontecesse".

Melissa o acusava de ser muito protetor, mas só ele sabia a aflição que ficava a toda vez que não tinha nenhuma notícia dela. Ele precisou ser maduro suficiente para ajudar os pais quando Felipe, seu irmão caçula tinha sido sequestrado. Só em pensar naqueles dias...Não queria que o mesmo acontecesse com Melissa, mas ela insistia em não entender. Sabia quem era a culpada disso!

****

Evelyn aproximava-se de sua residência que ficava numa comunidade carente da cidade carioca. De longe já conseguia avistar sua casa que mais parecia uma casinha de bonecas se fosse comparar com a mansão onde Melissa morava.

Enquanto subia algumas escadas que levavam até sua casa, pôde observar a comunidade no geral. Quase não tinha tempo para fazer isso, pois sempre entrava e saia correndo. Tinha vontade de morar em outro lugar, mas do sonho até a realidade existia muita estrada a percorrer.

Ela acenou para a vizinha e entrou em casa. A primeira coisa que notou, era que tudo estava como tinha deixado pela manhã. Sinal de que sua madrasta tinha saído... Mas estava errada! Ouviu passos de uma pessoa vindo da cozinha.

– Olá queridinha, isso são horas de você chagar?

Já estava acostumada àquele tipo de reclamação. Tentava não se importar mais com isso.

– Dá um tempo Raquel! Eu trabalho e ajudo aqui, e o mínimo que eu mereço é um pouco de descanso.

Ela caminhou em direção a mesa, pegou alguns papéis e jogou sobre Evelyn.

– Aquela porcaria de dinheiro não dá para nada! Olha aqui ainda tem essas contas para pagar!

Sempre as intermináveis contas! Estava cansada de tudo aquilo! Se não fosse por não ter onde morar, já teria sumido daquela casa.

– Eu faço o que posso, mas do que isso você sabe que não tem como!

– Não sei! Dá o teu jeito! Só sei que essas contas precisam ser pagas.

Evelyn fazia o que podia, mas tinha coisas que saiam do seu controle. Durante anos ajudou a madrasta dentro de casa, mas nada parecia lhe satisfazer. As vezes Raquel tinha vontade de lhe agredir e sabia muito bem o porquê disso!

Raquel e seu pai nunca puderam ter filhos. Então, um dia ele apareceu em casa com uma criança, fruto de um relacionamento extraconjugal. Ela jamais o perdoou por isso!

– Você me odeia, não é Raquel?

Ela riu cínica.

– Você já sabe a resposta!

– Seu ódio é porque meu papai nunca te amou do mesmo jeito que amava ela!

Evelyn se referia a sua mãe.

– Cala a boca!

– A verdade é essa e você sabe disso!

– Cala a boca!

Aquilo era uma coisa que a descontrolava. Não foi surpresa a reação de Raquel, quando atingiu o rosto de Evelyn com um tapa. Mas o fato de já conhecer sua reação, não significava que aceitasse.

– Nunca mais se atreva a fazer isso! – falou Evelyn tentando se conter, ou revidaria a agressão.

Raquel ironizou zombando dela.

–Por quê? Você vai contar para o teu pai? Eu acho que não resolveria muito.

João faleceu após um acidente no trabalho como caminhoneiro. Tinha sido difícil, mas ela aprendeu a conviver com isso.

– Você sabe que precisa de mim, não é querida? – disse Raquel com um sorriso de triunfo no rosto.

Sim, ela sabia muito bem. Por isso Raquel se aproveitava! Sem ter o que dizer Evelyn foi para o seu quarto.

Porque as coisas não poderiam ser diferentes? Indagou-se. Tudo o que ela mais queria, era sair dali e ter uma vida digna. Realizar seu sonho de fazer faculdade, mas sabia que tudo isso era muito difícil.

Evelyn não conheceu sua mãe e nem tinha familiares que pudessem lhe ajudar. Não tinha condições de custear o aluguel de uma casa. Com a morte de seu pai, Raquel ficou com a casa e com a pensão que o marido deixou. E ela se aproveitava disso para infernizar sua vida.

Raquel não concordaria em lhe dar uma parte daquela casa, até porque, Evelyn não possuía direitos legais. Aquela casa pertencia somente a sua madrasta. Mas ela sabia muito bem, que seu falecido marido jamais deixaria a filha desalojada, por isso concordou que Evelyn continuasse vivendo ali, mas enquanto isso, tinha que aguentar as humilhações de sua madrasta.

Quando nasce o amorWhere stories live. Discover now