"Você vai ser feliz, disse a vida. Mas primeiro, vou lhe deixar mais forte"

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...

O silêncio ecoava pelo carro e tudo o que se ouvia, era o motor do mesmo enquanto percorria as estradas perto da pequena cidade.

- Está com fome? - pergunta, quebrando o silêncio.
- Muita - sorrio para ele.
- Quer ir em um restaurante que há perto daqui?
- Eu preciso voltar para o antiquário.
- Ok, então... vamos pedir uma pizza no caminho?
- Ótimo! - sorrio para o mesmo novamente.

O silêncio novamente nos invade. Recosto minha cabeça no banco do carro, fecho os olhos e de repente, a imagem de Saafa invade meus pensamentos e posso ver perfeitamente seu rosto. Seus cabelos soltos quase caídos sobre seus olhos.
Nada é fácil, simples. Nunca pensei em desistir. Estamos sempre apanhando da vida, ela sempre nos derruba, mas nunca fui de ficar caído. Sempre tento me levantar, seguir em frente. Mas tem sido dias difíceis. Carregar a morte dela tem sido difícil.

Comemos a pizza enquanto íamos para casa, o que fez demorar um pouco mais até a chegada.

...

- Quer vir aqui depois? Lá em cima tá uma bagunça. Tem algo pra fazer mais tarde?
- É um jeito educado e meio desesperador de pedir para ajudá-lo a arrumar o antiquário? - pergunta entre risos.
- Na verdade não, mas já que insiste... Quer me ajudar a arrumar o antiquário?
- Folgado!
- Nem tanto, vai.

Louis vai para casa, eu subo e vou tomar um banho. Era tudo o que eu precisava.
Cabelos molhados, uma bermuda floral azul... É, eu amo azul. Pra completar, sem camisa. Queria ficar nu, mas infelizmente, ou felizmente, terei uma visita. Diria que uma ajuda extra nessa noite.

Vou para o antiquário e começo a arrumar algumas coisas.

- Faz quantos anos que você não arruma esse lugar mesmo? - Louis entra, se assustando com tamanha bagunça.
- Para de reclamar e me ajuda - o puxo pelo braço, o levando em direção a várias caixas dessarrumadas no chão. Ele ri de tudo o que eu faço, isso me irrita um tanto que... muito. Mas eu gosto daquele sorriso.

Havia papéis jogados pelo chão, caixas com coisas antigas, roupas...
Ok, eu estava curioso, sou assim, porém, ser curioso causa desastres.

- Harry? Você já viu isso? - louis me pergunta puxando uma caixa que estava debaixo de uma cadeira velha, em um canto quase escondido do antiquário.
- Não... nunca reparei que havia algo aí.
Vou em sua direção e me sento ao seu lado. Ficamos em silêncio observando a caixa. O que mais poderia ser agora? Minha vida parece que se resume nessas inúmeras caixas velhas jogadas no antiquário.

- Você não vai abrir?
- Tenho receio... mas ainda sim, curiosidade. - ok, esse meu lado fala mais alto que meu eu completo.
Sem mais, abro a maldita caixa e me deparo com mais inúmeras cartas. Dessa vez, não eram só cartas da Keith. Isso me deixou aflito. Fecho-a novamente, a guardo na estante e me sento na mesa em frente a ela.

Louis On

As vezes, sinto que o Harry me odeia... Parecemos dois adolescentes brincando de quem é o mais "birrento", mas ao mesmo tempo, não quero deixa-lo só... a menos que eu perceba que ele precisa de espaço. Como agora.

- Olha, tem muita coisa pra arrumar ainda, vizinho. - falo me levantando, tentando diminuir o peso que o ambiente carregava. Harry se mantém quase imóvel, suas mãos apoiadas sobre a mesa enquanto ele encarava algumas coisas ainda jogadas no chão. Tento me aproximar dele. Não da pra saber o que há de errado. Se é mesmo só isso que lhe aflinge. - E as cartas? Vai querer ler uma delas agora?

- Não... talvez amanhã. Sei lá, prefiro ficar aqui, com você.
- Você também está fugindo de algo, não é? - Harry me olha sem entender minha pergunta, então continuo. - O que eu quero dizer é... Eu vim para cá para fugir do meu passado... Você parece fazer o mesmo.
-Na verdade, vim em busca do meu. Digo, até algum tempo, não fazia tanta importância, mas desde que pisei meus pés nessa cidade...
- O que houve? O que tanto te aflinge? - não queria ser invasivo, mas o Harry guarda tantas coisas para si. Pelo menos, é o que aparenta.
- Não quero falar sobre isso agora... - me aproximo do Harry e ele continua. - Importa?
- Sim, parece loucura, mas sim.

Me aproximo do mesmo à espera que ele me impessa de estar perto dele a cada passo que dou, mas era como se ele soubesse. Uma parte de mim parece saber que não sou apenas eu. Ele também está tomado de desejo, além da confusão que existe em si.
Estava meio escuro, o que deixava as coisas ainda mais difíceis. A luz do poste da rua invadia as janelas do antiquário.
Parei em frente ao Harry. Perto o suficiente para sentir seu calor. Ele estava sem camisa, eu podia ver suas tatuagens, mas não muito bem por conta do escuro.
Coloquei seus cabelos atrás da orelha com a minha mão direita, enquanto a outra estava sobre sua cintura. Ele me permitiu tocá-lo. E no mesmo instante, nossas bocas estavam seladas. Era um beijo delicado, calmo. Não sabia definir aquele momento em carência ou desespero. Só não queria envolver sentimento, mas era quase impossível fugir daquilo.
Enquanto pressiono o corpo do Harry contra o meu, sinto o calor nos invadir ainda mais e sei que naquele momento, nossos desejos se tornaram apenas um. Nossas mãos brincavam por nossos corpos. Seus lábios eram doces. O Harry é um ser tão doce. Sim, uma doce criatura.

Ele ainda estava com os olhos fechados quando o deitei sobre a mesa. Harry estava ofegante, vê-lo deitado daquela forma me fazia querê-lo ainda mais. Eu me inclinei para deitar sobre seu corpo, mas suas mãos em meus ombros me impediram. O encarei por algum tempo, tentando entender o que houve, mas logo me levanto. Droga... Talvez, tudo isso tenha sido um grande erro.

-Me desculpa - É tudo o que eu consigo dizer enquanto me viro, mas sua mão me puxa de volta e novamente, nossos lábios se tocam, sua língua invade minha boca e nossos desejos se encontram.
- Está tudo bem - ele diz.
- Sei que parece um momento de desespero...
- E não é? - Debocha.
- Sei que estava pensando isso... Que não iremos mais nos ver e é isso. Nos beijamos e fingimos que nada aconteceu. Mas não é.
Harry põe seus braços em volta do meu pescoço.
- Então o que é, vizinho? - ele diz e me beija em seguida.
- É muito mais. É acordar no dia seguinte, pensar em querer te beijar, e você não estar aqui.

Me afasto do Harry e volto a arrumar as coisas. É confuso. Ele tem tão pouco tempo aqui e já me causa tantas coisas. Eu não quero me envolver, mas o Harry parece ter um tipo de poder sobre mim... Eu sou diferente quando estou com ele. E isso é bom.




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⏰ Last updated: Apr 26, 2018 ⏰

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Vidas Traçadas - Que outro nome eu daria, senão "amor"?Where stories live. Discover now