Capítulo 1.

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Maya.

Quando eu fechava meus olhos, minha imaginação começava a trabalhar a todo o vapor, criava figuras, imagens de pessoas ou paisagens, flores ou pássaros, tudo o que eu pudesse transferir para uma tela em branco.

Com a maestria de uma profissional.

Deixei que o som que vazava dos fones me preencher colaborando ainda mais com esse surto inesperado de inspiração. Me sentia viva quando pintava.

Quando abri meus olhos já sabia por onde começar, com o pincel certo o molhei na palheta de tintas do suporte à minha frente, um traço fino da cor da pele iniciou o desenho, era delicado e ao mesmo tempo rude, precisava ser.

Balancei a cabeça de um lado para o outro no ritmo calmo que Bach me proporcionava, sentia minha trança frouxa escorregar pelas minhas costas.

Esse era o momento mais calmo e relaxante do meu dia.

No começo usava a arte e a música clássica como uma forma de terapia, depois de um tempo se tornou um hábito, e além de ser relaxante, é uma necessidade para mim.

Além de meus pais acharem impressionante a forma como minha prática aumentava, e meus quadros se tornavam cada vez mais incríveis e realistas.

O esboço estava pronto, ainda precisava de muita coisa, mas eu já sabia o que estava desenhando. Era um garoto, um homem na versade, eu o reconhecia muito bem, não como uma pessoa em si, mas de meus quadros anteriores.

Desde que comecei a pintar, nos meus 12 anos de idade, entre os desenhos de frutas e animais, tinham alguns com essa mesma figura, era o mesmo rosto, da mesma pessoa.

Eu o chama de "ele", não era nem um pouco criativo, mas eu não poderia simplesmente nomeá-lo, ao invés disso, deixei que ele tivesse quantos nomes quisesse.

Pois ele, de certa forma, cresceu junto comigo, no início seu rosto tinha traços delicados, seu nariz era mais fino e tinha um certo brilho na ponta, seus lábios eram mais gordinhos e menores, depois, quando peguei o jeito, ele passou a ter acnes e poucos pelos no rosto, denunciando sua puberdade.

Me afastei do desenho para admirar. Ele agora possuia uma barba rala, por fazer, perfeitamente alinhada, seus cabelos eram bagunçados de forma sexy e o olhar dele era tão intenso que quase parecia uma pessoa real me observando de volta.

Passei o pincel com a mistura avermelhada suavemente pelos lábios dele, apenas um toque final, sorri satisfeita.

Sinto alguém tocar meu ombro me dando um susto repentino, me viro tirando os fones.

- Que baita susto me deu- digo para Margot assim que meu olhar encontra ela.

- Você deveria abaixar um pouco o volume desses fones, vai prejudicar sua audição algum dia- alertou ela semicerrando os olhos, Margot notou então o retrato que eu havia acabado de finalizar- vejamos o que tem aqui.

Me levantei a puxando para ocupar meu lugar, adorava ouvir suas avaliações, Margot é nossa governanta desde que me entendo por gente, também é tão especial para mim como uma segunda mãe. Apesar de seus cabelos grisalhos, ela ainda se mantinha firme e forte nas tarefas diárias.

Herdeiros (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora