Capítulo II

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   - Alice ? - ouvi alguém me chamando, mas alguma coisa tampava meu rosto e me impedia de ver de onde vinha a voz. Coloquei as mãos sob aquilo, era alguma coisa feita de plástico. Puxei e abri os olhos, que demoraram para se acostumar com a luz. Um barulho de água veio junto com a claridade. A pressão da água estava tão forte, que até parecia uma cachoeira. Quando consegui me adaptar, vi onde estava : era uma sala enorme com holofotes em cada um dos quatro cantos, todos focados em mim, talvez na intenção de me deixar cega. Com exceção dos holofotes e da maca onde estava, era tudo completamente vazio. Ou quase, quando virei vi de onde vinha o som da água. Não tinha nenhum holofote ali, quase não tinha luz na verdade, mesmo tendo uma fenda no teto, por onde vinha a água, provavelmente de uma cachoeira acima, e caía por outra fenda que tinha no chão.

   - Lis ? Você está aí ? - ouvi de novo, e vinha de dentro daquela mini cachoeira. Do nada alguma coisa, ou melhor, alguém saiu do meio da água, preso pelos tornozelos de cabeça para baixo em uma corrente, que balançava para frente e para trás. De ponta cabeça, e com o corpo todo encharcado quase não reconheci ele, mas aqueles cabelos loiros e grandes eram inconfundíveis. Pulei da maca no instante em que vi seus olhos azuis arregalados me encarando.

   - Henry ? - Meu irmão estava sem camisa, e cheio de cicatrizes pelo abdômen, todas no formato de uma cruz. Aquilo era como um pesadelo. Não. Era pior. Tinha tantas perguntas para fazer, mas não conseguia. Era informação demais para sair qualquer som da minha boca. Mesmo sem dizer nada, Henry entendeu oque estava tentando dizer.

    - Não é oque parece. Não estou sentindo dor. - ele sorriu, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Como se estivesse dizendo que prefere pipoca com ketchup do que com manteiga.

    - Não ? - não conseguir falar mais que uma palavra, estava me irritando. Antes que pudesse pensar em outra coisa para perguntar, ouvi o barulho das correntes se mexendo, e vi Henry prendendo a respiração, não entendi o porquê na hora, só quando ele sumiu, sendo puxado para aquela correnteza. Tentei correr e gritar, mas meu corpo não saía do lugar, e minha boca não emitia som algum.

    A luz que já era horrível antes, piorou. Os holofotes apagaram, me deixando numa completa escuridão. E quase ao mesmo tempo, o som da água e das correntes também pararam. Demorou, mas quando a luz voltou, tudo, inclusive ela estavam diferentes. A luz de uma lâmpada no teto era vermelha, e não iluminava muita coisa, a sala antes gigante, agora era um cubículo só com espaço suficiente para mim e a maca. Tão apertado que não tinham portas nem janelas ali, porque não caberiam. A luz piscou e as coisas em volta ficaram menos visíveis. Senti um ar quente perto da minha orelha esquerda, e virei para ver o que era aquilo. Henry estava todo vestido de preto, mas mesmo no escuro, suas cicatrizes nos braços eram chamativas. Ele abriu os braços marcados, me convidando para um abraço, aquilo era tudo que eu precisava, toca - lo para saber se oque estava acontecendo não era um sonho. Conforme ia me aproximando, maior ficava a distância e uma barra de ferro começava á surgir em sua mão direita,  quando já estava perto o suficiente para abraça - lo, vi oque a barra de ferro era. Um ferrete com a ponta avermelhada,e uma marca com o formato daquela cruz horrorosa. Parei de andar, e dei vários passos para trás.

    - Não precisa ter medo. Eu não faria com a minha irmã o que fiz com os outros. Mas para saber se posso confiar em você, precisa esticar a mão. - quando ele apontou aquele ferro quente para mim, congelei.

    - "Oque fiz com os outros"… ? Do que você está falando ? - Henry riu, tanto que parecia que alguém estava o cutucando no pescoço com uma pena, até lágrimas saíram de seus olhos.

    - Ainda não entendeu ? - ele perguntou, limpando os olhos - Fui eu Alice. Eu matei todas aquelas cinco pessoas, e as marquei. Pecadores como eles, não mereciam mais nenhum segundo na Terra, então cumpri com o plano que Deus me ordenou.

End Game ?Where stories live. Discover now