Capítulo 27

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Graças ao empenho de Niel e dos magos curandeiros do Castelo Branco, a recuperação de Lorde Rupert estava sendo considerada rápida. Lyra foi vê-lo cedo, e Lady Marian já estava lá cuidando do marido. A Arquimaga espiou o pai, ainda pálido e com uma expressão cansada, sorrindo para sua mãe enquanto ela acariciava seus cabelos. Lyra sorriu ao vê-los, então entrou no quarto e Niel entrou logo em seguida para examinar o mago.

Lorde Rupert ainda sentia dores fortes, mas não havia mais traços do veneno que estava dificultando a cicatrização. O mago trocou o curativo e deixou mais dois pequenos frascos de poções que deveriam ser ingeridas nas próximas horas. A Arquimaga agradeceu a dedicação do mago antes que ele se retirasse, dizendo que se não fosse por ele e seus comandados, talvez não tivessem conseguido salvar seu pai. O mago sorriu timidamente e agradeceu antes de sair.

- Eu me sinto responsável por isso - Lyra disse, olhando do pai para a mãe.

- Não deveria. Você não poderia adivinhar o que aconteceria em momento algum, Lyra - Lady Marian disse, muito tranquila, enquanto servia chá à filha.

- Mesmo assim, eu deveria tê-lo levado comigo. Sirius estaria atento, e eu também. - Ela pegou a mão de Lorde Rupert.

- Sua obrigação era conter a invasão, fechar os portais e pelo que eu soube, você fez mais do que isso. - Lorde Rupert sorriu orgulhoso. - Acidentes acontecem, nem sempre você poderá ter tudo sob controle.

Ele estava errado, mas não era o momento de discutir sobre isso. Sua ideia era um treinamento de elite para os magos que usavam cajado e deixá-los responsáveis pelo demais. Não poderia estar em todo lugar, era verdade, mas deixaria os melhores do reino em seu lugar.

- Eu queria ter visto você enfrentá-lo - disse Lorde Rupert, tirando Lyra de seus pensamentos. - Escutei de longe o embate de vocês, mas fui atingido quando estava indo para lá.

- Se ele ainda não pode deixar o portal, não entendo porque resolveu aparecer ontem.

- Ele veio medir forças com você. - Seu pai parecia não estar surpreso com isso. - Ver como você se comporta como portadora do cetro. Tenha certeza que pode haver vários motivos para isso.

Lyra pensou em Arthur naquele momento. Se ele servia à Kael, teve várias oportunidades de tomar o cetro, assim como tomou a adaga de Kane. Não entendia porque ele devolveu, ou porque a ajudou nas montanhas rochosas. Achava pouco provável que ele reconhecesse seu pai em meio a tantos numa batalha, porque não tinha sentido ele ter ajudado nas montanhas rochosas e se voltar contra todos que haviam estado lá com ele. Ele e Kane podiam ter suas diferenças, mas Noah, Sirius, ela e os oficiais, todos que ele conheceu no mosteiro, por que ele se voltaria contra? Respirou fundo, enquanto observava o tempo fora do castelo. Algo estava errado e cedo ou tarde iria descobrir. Ouviu a voz de Kane quando desligou-se de seus pensamentos, ele conversava com seu pai. Lorde Rupert riu de alguma piadinha que o príncipe fez para animá-lo e Lyra resolveu que não teria como não encontrá-lo naqueles dias, então seria melhor encará-lo logo. O príncipe demorou somente alguns instantes para voltar-se para ela, lhe dizendo um bom-dia encantador, que ela respondeu tentando manter-se calma. Ainda assim sentiu que corava naquele instante. Precisava se desculpar pelo que havia feito. Não que tenha odiado beijar um dos homens mais bonitos do reino, mas naquele momento não estava interessada em ser vista como provável futura esposa de ninguém.Porque se aquela história chegasse aos ouvidos da Rainha, certamente ela insistiria para que Kane a cortejasse. Lyra balançou a cabeça, ignorando Kane bem a sua frente. O Rei Elran entrou no quarto seguido por Noah, e toda chance que ela vislumbrava de sair das vistas de Kane desapareceram.

Esperava que o Rei não transformasse sua visita numa reunião com seu pai ainda se recuperando, e depois de alguns instantes de conversa ela percebeu que ele realmente estava ali para ver o estado de seu grande amigo. Noah lhe sorriu timidamente, como se não esperasse encontrá-la ali naquele momento. Ela lhe fez o costumeiro gracejo da reverência e ele conteve o riso. Noah veio para o seu lado, cumprimentando o irmão brevemente, e Lyra nunca desejou tanto na vida ter algum poder que a tornasse invisível como naquele momento.

- Ira a Branirir hoje? - Noah perguntou ao irmão.

- Sim, na verdade estou de partida - Kane respondeu e olhou para Lyra entre os dois, muito quieta.

- Devo aguardá-lo à tarde, então. - Noah colocou as mãos para trás, roçando o braço no de Lyra e aproximando-se mais, como se quisesse ouvir melhor o irmão.

- Creio que sim, pretendo ser breve. - Kane voltou-se para Noah, e Lyra ficou literalmente entre os irmãos, silenciosa, sendo observada por Lady Marian, que segurava o riso com a mão sobre boca.

Lyra pediu licença e saiu do meio dos dois, que pareciam estar num embate silencioso naquele momento, e foi para perto da mãe, que a abraçou carinhosamente, deixando o quarto com ela. Queria perguntar sobre aquela disputa nada discreta entre os príncipes, mas notou a carinha fechada de Lyra sendo interrompida por um mensageiro, que estava ali para levá-la a uma reunião com os oficiais, o que ela achou estranho, visto que Noah estava ainda no quarto de seu pai, e não mencionou nada a respeito. Ela despediu-se da mãe, e seguiu com o rapaz para uma torre à Leste do Castelo Branco, e no caminho encontrou Maya conversando animadamente com a esposa de um conselheiro, que não parecia muito feliz naquele instante. Trocaram um olhar e Lyra disse bom-dia às duas, seguindo seu caminho, sentindo-se ainda observada pela princesa. O mensageiro abriu a porta e ela viu que não havia ninguém ali, perguntando-se se estava no lugar certo. Sentou-se em uma poltrona confortável e esperou. Já deveria estar ali há pelo menos vinte minutos e começou a achar que a reunião havia sido adiada, quando viu Noah entrar na torre. Olhou para o príncipe, surpresa, e ele esboçou um sorriso. Mas se aproximou dela muito sério, como costumava ser. Começava a reconhecer que havia sido enganada, e que ele inventou tudo aquilo para tirá-la das vistas de Kane. O príncipe lhe estendeu a mão e ela deixou que a segurasse.

- Desculpe-me pela demora, mas agora podemos ir.

- Ir... para onde? - Lyra viu-se a centímetros de distância dele, e perguntou-se como ele fazia isso todas as vezes que lhe dirigia a palavra.

- Para um lugar que você ainda não conhece - ele respondeu. - De qualquer forma, milady, está me devendo um passeio.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde as histórias ganham vida. Descobre agora