Capítulo 14

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Lyra acendeu o cristal do cajado e foi na frente. Não tinha medo, pois o que quer que Hainor estivesse fazendo, iria impedir. A escada era feita de pedra e um tanto úmida. Foram descendo com cuidado à procura de algum sinal de que o Elder estava por perto. Notara que o local refletia um brilho dourado e vermelho, e pensou que seria bom que Vivian não descesse enquanto não considerasse seguro. A poucos degraus do chão, Lyra viu Elder Hainor, no centro de um salão ricamente adornado com estátuas de divindades e guerreiros, muitos baús cheios de riqueza e três portais completamente abertos. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, viu uma serpente de fogo avançando sobre ela e Elder Phranor desfazendo-se em chamas ao encontrar o chão. Ela adiantou-se pelo salão, lançando esferas de fogo sobre o traidor que as conteve, e atirando de volta. Todo graime sabia que Hainor era chamado o Mago de Batalha porque era capaz de combater como pouquíssimos graimes, e tal habilidade foi determinante para que ele se tornasse Elder. Lyra bateu o cajado uma vez no chão negro do salão e o deixou flutuando, diante de um sorriso debochado de Hainor. Ergueu os braços e convocou suas fênix, que atacaram o Elder, fazendo-o desviar dos raios que vieram logo em seguida. Vivian observava como Lyra desviava facilmente dos ataques dos lacaios que o Elder convocava, os destruindo com facilidade, devolvendo-os em forma de uma grande tormenta d'água em cima do velho Elder. Nunca vira alguém dominar os elementos como ela estava fazendo, sendo atacada pelas estátuas que agora estavam sob comando do mago. Lyra as transformava em pó, uma por uma, e o velho encolhia-se no canto do salão enquanto ele se posicionava entre os portais. Ela bateu o cajado no chão e a luz dourado avermelhada que saía por eles foi se apagando, e logo depois eles desapareceram. Lyra foi se aproximando do Elder traidor que ainda sussurrava algo enquanto tentava escapar dela.

- Vai fazer justiça com as próprias mãos, Arquimaga? - Ele sorriu. - Vejamos o que o Conselho dos Elders achará disso.

- Duvido muito que eles se importem, já que não foi eu quem traiu o Conselho, e sim o senhor. - Ela parou em frente a Hainor.

- Vá em frente, Arquimaga. Suje suas mãos e não me conceda o julgamento ao qual tenho direito. Fiz mais por Ambarys em anos do que você fará em sua vida inteira.

- Eu pude ver o que fez, senhor, e certamente deixarei que seus irmãos também vejam. Elder Phranor cuidará de tudo.

- Arquimaga, agora podemos realmente ver quem é o mais forte.

Com uma agilidade não esperada de um ancião, ele tirou um punhal das vestes e atravessou o próprio peito, exultante de alegria, e suas últimas palavras foram, "Por Kael". Uma densa nuvem dourada deixou o corpo do Elder antes que ele fosse consumido pelo fogo, e Lyra ordenou imediatamente que saíssem dali, enquanto um portal dourado surgia no centro do salão novamente. Ela viu sair de dentro um guerreiro imenso, carregando um machado, olhos de fogo e vestes vermelhas e douradas. A voz dele ecoou pela casa num urro:

- Eu sou Hainor.

Ela não tinha certeza de quanto tempo levaria para derrotar aquele ser maligno, mas depois de se esquivar de duas machadadas, resolveu que o espaço teria que ser maior. Usou magia e se teleportou para o meio da escada enquanto desviava novamente do machado do monstrengo. Alcançou a porta principal da casa, ouvindo o barulho da destruição que Hainor deixava pelo caminho. Em espaço aberto, sentiu os pés molhados congelando e logo ele estava em seu encalço novamente. Qualquer encantamento que lançava parecia inútil, pois ele defendia usando o machado e ficava ainda mais irritado. Desviava de um lado para o outro, tentando achar uma saída para aquele combate, antes de virar picadinho. Pensava que se podia fechar os portais, poderia abri-los também. Só precisava de tempo para isso, coisa que não teria fugindo. Usou o encantamento do escudo e notou que poderia se defender dele, só tinha que descobrir como usá-lo por mais tempo ou combinar com outros que o deixasse mais lento. Aleenthum não o derrubava, mas o tornava um pouco mais lento, o que ainda não seria tempo suficiente. De repente ela ouviu um zunido cortante que silenciou Hainor num segundo e o fez gritar de raiva no outro. Ele havia sido atingido por uma flecha. A figura negra do arqueiro continuou a disparar flechas enquanto o enorme guerreiro ainda perseguia Lyra. Ele a atingiu no braço direito, que segurava o machado, que finalmente Hainor largou.

- Se está pensando em abrir portal, esqueça, você nunca sabe o que pode sair lá de dentro - ele disse, usando o arco para atingir Hainor entre os olhos.

- Essa era a ideia. O que você sugere? - Lyra também o atingira nas pernas com o cajado, lhe enviando um choque poderoso.

- Vamos matá-lo. Consegue desviar a atenção dele? - Ele apontou o machado.

- Sim - ela respondeu e logo depois atingiu o guerreiro com o cajado novamente. O choque era algo que o irritava muito e Lyra conseguiu chamar a atenção dele para longe do machado.

Um, dois, três choques e ele conseguiu arrancar o cajado das mãos da Arquimaga, que não tinha mais nada a fazer a não ser correr, mas ele a alcançou em segundos e no momento em que ele ia pegá-la pelo pescoço, soltou um grito assustador, caindo morto pelo próprio machado, aos pés de Lyra. Ela encostou-se na parede da casa, com o coração acelerado, e logo viu o arqueiro se aproximando dela. Ele lhe estendeu a mão e disse que era melhor sair dali.

- Pegue suas coisas e eu a levarei a algum lugar seguro - ele disse, entrando na casa de Hainor.

- Eu não posso. Minha amiga e Elder Phranor. Não posso simplesmente ir embora.

Ele olhou para a jovem graime a sua frente. A moça era destemida e não deixava seus amigos para trás, e ainda que coberta de lama parecia uma fada. Disse a ela que se trocasse ou iria congelar, e que depois ele tentaria rastrear seus amigos.

- Como é o seu nome? - ela perguntou antes de subir a escada.

- Arthur - ele respondeu, olhando para ela.

- Por que eu acho que nos conhecemos? - Lyra olhava, tentando encontrar seus olhos embaixo do capuz.

- Acho difícil, não sou da realeza - disse ele, percebendo que ela baixou os olhos, triste. Ótimo, não poderia ter sido mais grosso! - Eu quero dizer, você é quase uma princesa ou algo do tipo.

- Não sou princesa - ela negou, séria.

- Ok, eu não sou bom nisso, sabe?! Eu quis dizer que você é muito bonita, e para fazer o estrago que fez aqui, só pode ser Lady Lyra de Ihgraime.

Lyra subiu para o quarto a fim de pegar suas coisas, encontrando Vivian encolhida na cama. Assim que a viu, ela correu para abraçar a amiga, explicando que Elder Phranor havia voltado ao salão para tentar fechar o portal que estava aberto e não havia voltado. Lyra trocou de roupa o mais rápido possível. Elas pegaram suas mochilas e desceram as escadas. Arthur já havia encontrado Elder Phranor, que parecia exausto depois do esforço que fizera para fechar o portal. Felizmente nada mais havia saído de lá. No caminho para a vila, a chuva já havia cedido e o Elder achou uma hospedaria aberta. Arthur disse que dali seguiria seu caminho e que tomassem cuidado. Lyra permaneceu lá fora, ainda achando que o conhecia de algum lugar. Aproximou-se dele, que permitiu que tirasse o capuz. Ela viu cabelos loiros como os seus e orelhas levemente pontudas. Um graime! Ele sorriu para ela e disse novamente que tomasse cuidado, pois nem sempre ele estaria lá.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde as histórias ganham vida. Descobre agora