PRÓLOGO

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PRÓLOGO

Nada pode ser mais doloroso do que receber a notícia de que alguém que você ama morreu. E essa manhã não foi diferente comigo. Apesar de estar ciente do ciclo e rumo natural que nossa vida tomará, perder alguém de forma drástica ainda deixa uma dor agonizante. Suicídio... Pela manhã a notícia que recebi assim que acordei não foi das melhores. Meu mais próximo avô cometera esse ato de natureza demoníaca que é o suicídio. Ainda me pergunto por que o espanto, se já havia algum tempo que vinha notando meu velho a cada dia mais debilitado. Já não era o mesmo, suas condições físicas e psicológicas eram um tanto quanto preocupantes. Mas olha... Pra falar a verdade eu me sinto um pouco culpado após analisar a situação. Eu percebi o que estava acontecendo, por que eu não fiz nada?

Mais tarde, no velório...

A visão que se tem desse salão horripilante é cada vez mais debilitada. Pouca luz, muito pranto. Ele era uma pessoa querida, por isso todos se olham e indignados, deixam claro que em suas


cabeças passam-se cenas que imaginam quanto ao que o levou a cometer suicídio. Tudo parecia tão irreal e não coerente. Não dava para acreditar naquilo que se via. Tudo bem, eu já perdi outras pessoas na morte, mas dessa vez foi diferente, nós éramos tão próximos...

— Agnita eris in perpetuum − Ouvi essas palavras sendo faladas ao meu ouvido. Claro, fiquei intrigado.

— Espera! − foi nessa hora em que eu me virei muito rapidamente procurando o dono da voz que falara em meus ouvidos. Eu poderia identificar um homem nos seus 30 anos, voz grave, mas não grave ao ponto de raiva e sim um grave num ponto... Então, acho que a palavra certa é "natural", ou poderia ser vertida como locutor. Sim! Era um grave natural! Mas tudo o que eu pude ver foi as portas daquela velha capela balançando de um lado para o outro, como uma criança que brinca incessante num balanço de um parque qualquer. Eu não consegui pensar em nada nesse momento, a não ser em tentar acreditar que aquilo era nada mais, nada menos, do que uma resposta que meu subconsciente criara pelo trauma que ainda me consumia.

O que o suposto homem havia dito? Eu entendi algo como... Não sei, parecia ser latim. Acho que ele disse algo do tipo: não ser correspondido, não sei, parecia estranho pra mim. Bom, eu só ignorei!

O corpo do meu avô foi mantido na capela por 24hrs. Parecia que isso não acabaria mais. No dia seguinte, no seu sepultamento, tudo o que se via era uma grande enxurrada de choros e mais choros. Alguns tentavam vir consolar a nossa família. Mas a verdade é que você não consegue sentir a dor da outra pessoa então o melhor é nem mesmo tentar. A frase: "Sinto muito pela sua perda", nesse momento para mim se encontra vazia, sem significado. Agora percebo o quão inútil é tentar consolar uma pessoa que perde alguém tão próximo.

— É isso ou você não se deixava consolar? – Ah! Esse é o Dr. Caio, eu precisava dele nesse momento da minha vida! Nada que uns dias de terapia não resolvam, e agora ele quer ouvir minha história. Fazer o quê? Vamos nessa!

Tá! Tá! Não atrapalha, essa é a melhor parte.

Finalmente, depois de um longo dia de sofrimento e pranto, o silêncio e o bom ar de casa me invadem. Ao entrar, eu sei que o que mais me faz pesar é a tristeza que não me larga. Desloco-me até o banheiro, onde nele começo a me despir enquanto sinto a evacuação do sentimento, junto com o pesar funerário daquelas roupas.

— Você poderia falar isso com um pouco menos de drama?

— Cara, que saco! Para de me interromper!

Começo com uma ducha lenta, na tentativa desesperada de lavar a melancolia deste receptáculo escasso de felicidade ou qualquer sentimento relacionado, a qual chamo de corpo.

Aquilo pareceu lavar minha alma, parece que eu pude me acostumar com a ideia de que nunca mais veria aquele sorriso experiente enquanto contava-me sobre suas peripécias.

Ainda enquanto pensava, estava eu tentando me livrar do traje que usara para o funeral, que era um smoking preto sob medida, quando de repente algo cai do bolso esquerdo superior. Bom, eu fiquei curioso, era um caderno, era velho e tinha uma cor desbotada que lembrava algum tom de escarlate. E comecei a folheá-lo, mas na verdade, o que mais me chamou atenção foi aquela capa. Algo familiar estava escrito ali. Mesmo com letras borradas, eu pude ler algo que parecia ser: Agnita eris in perpetuum, claramente era latim, tentei recordar um pouco de tudo o que eu avô me havia ensinado quanto ao latim, e por fim, depois de muita tormenta cerebral, pude notar que aquilo poderia ser vertido como "será reconhecido para sempre". Neste momento, tive uma sensação de Déjà vi, na qual recordara algum evento em que ouvira algo similar ou idêntico, não pude me conter e assim que me lembrei disso...

— Ah, já sei! No funeral! – Gritei essas palavras sem me aperceber do que estava realmente acontecendo e de quão alto eu falara.

— O que tem o funeral, filho? – Gritou minha mãe do andar de baixo. Parece que eu podia a ver olhando de escada à cima para a porta entreaberta do meu quarto.

— Nada, mãe. Só pensei alto! – Gritei em resposta. Mas eu sabia que era algo a mais que isso. O que ele queria dizer? E finalmente, quem era aquele homem? Por que ele me entregou esses escritos?

Tudo bem, eu admito que fiquei um bom tempo com tudo isso na memória, mas não estava bem o suficiente para começar uma leitura misteriosa por causa de uma simples e talvez ignorável coincidência.

Da 21º hora em diante, eu dormi.

Dia seguinte...

Não demorou muito para que a família fosse convocada a uma reunião para a leitura do testamento do meu avô. Essas mesmas pessoas que outrora demonstravam expressões de tristeza e agonia, agora esboçavam expressões de anseio e expectativa. Já no fim do testamente, quando boa parte dos bens já fora dividida entre a minha "querida" família, só restara à velha e mal reformada casa do meu avô. Por algum motivo, todos queriam aquela casa. Talvez pelo seu valor histórico, e por consequência, o seu valor comercial, que em minha opinião seria a razão mais plausível. Para a tristeza de muitos e surpresa de todos, chegamos ao fim do testamento, que se lia da seguinte forma:

"Em conclusão, mas não menos importante. Quero registrar neste documento impresso, a transferência de minha casa, bem como todos os bens encontrados ali, ao nome do meu neto Felipe Luiz García, a qual sempre amei, e guardo em um campo especial de meu coração."

Estas palavras transformaram o ar daquela sala de expectativa para ira e repugno. Uma comoção e murmúrio se iniciaram entre os meus parentes, dava para se ouvir mesmo que por um fio cada um deles me amaldiçoando até a quinta geração. Mas não parou por aí, aquelas palavras também mudariam minha vida, eu só não sabia como, ainda...

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IMPERIUM - OS 7 ANOS PERDIDOS DA HISTÓRIA [EM ANDAMENTO]Where stories live. Discover now