Começo a andar de um lado para o outro. A arma na mão e mil pensamentos na mente.

Como isso pode ter acontecido no período de duas horas ? Ninguém sabe aonde ele estava indo ou o que aconteceu. Apenas que ele está morto. Sem especulações ou dúvidas. Morto.

Começo a hiperventilar. Há tanto tempo eu não tinha ataques de pânico, e agora. Justo agora eu vou ter um. Paro aonde estou e encaro a parede. Foco em um ponto fixo e tento controlar a respiração. Uma. Duas. Na terceira tenho sucesso. Olho para o lado e soco a primeira coisa que vejo. Minha tv. Os nós de meus dedos sangram e eu bato. Outra vez. E outra. E outra. Até que sinto cacos entrarem sob minha pele. Nem choro. Apenas respiro fundo e puxo a tv quebrada da parede com toda minha força. Ela fica pendurada pelos fios . E então começo. Quebrar é bom. Jogo o notebook na parede. Meu celular voa pelo quarto uma e outra vez. Rasgo minhas roupas sem sequer respirar. O vídeo game vai para o chão . Meus pés andam entre os cacos, não dou atenção para a dor. Paro na frente do espelho e me encaro.

Desequilibrada. Quebrada.

Pego a arma e disparo sem parar contra minha imagem refletida. Tão fácil. Poderia ser eu. Paro e encaro a arma. A mesma que já tirou tantas vidas...

Estou com o dedo no gatilho quando a porta é escancarada por um Malik com cara de assustado. O encaro com raiva e cogito dar mais um tiro nele. Porém me controlo.

Pietro entra logo em seguida. Os dois observam a zona que está o quarto. A única coisa que não sofreu com meu ataque foi minha cama. Por que de resto, está tudo destruído.

-Saiam do meu quarto.

Os dois me encaram como se eu fosse louca. E nesse momento eu estou realmente, me sentido louca.

-Saiam da porra do meu quarto agora. - digo, mantendo a calma em minha voz. Eles se mechem devagar mas exitam na porta. Do um tiro na mesma. A bala passa pelo lado da cabeça de Malik. Enfim eles saem. E encostam a porta destruída a suas costas.

Largo a arma no chão e vou para minha cama. Deito entre os lençóis e farrapos de roupas espalhados. Encolhida em posição fetal, apenas pedindo para que o mundo me mostre que isso é um pesadelo de mal gosto. Tudo isso. Que em breve eu vou acordar em uma família normal. Com pais e um noivo normal.

Mas não é. A vida nunca será como queremos. Você sempre terá aquilo que você menos almeja na hora em que mais implora pelo contrário daquilo. A vida sempre será uma cadela pronta pra te ferrar. E ela não precisa esperar você ficar bem. Tudo o que ela necessita é de uma brecha, por mínima que seja. Para fazer tudo o que quiser.

Fecho meus olhos e me lembro de cada segundo. Cada olhar e ordem e carinho e abraço. Conselho e bronca. Tudo se passa como um flash Back em câmera lenta pelos meus olhos. Minha iniciação. Minha primeira lembrança. Eu sentada nos pés de meu pai brincando com carrinhos enquanto ele tratava de negócios da máfia. Meu primeiro dia na escola. A primeira(de muitas) brigas. Minha iniciação. Minha introdução nos negócios da família. Os jantares de gala(ou não). As pizzas que eu sempre pedia quando não queria comer um dos pratos gourmets que Yulia cismava em fazer nos finais de semana. Minha primeira missão. Meu primeiro (longe de ser o único) castigo disciplinar. Meus aniversários. As broncas que eu tomava quando fugia pela madrugada com o nosso amado Marussia. O jeito que ele confiava na minha palavra mesmo quando sabia que eu não tinha certeza do que estava falando. Nada disso irá se repetir. Pois ele está morto.

Meus olhos se enchem de lágrimas e deixo algumas escaparem. Fico ali apenas respirando, encarando o nada. Em pura exaustão emocional.

Isso realmente está acontecendo.

Filha da MáfiaWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu