Os Cortes

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Depois de 1 ano que meu pai tinha morrido, ainda eu sentia tristeza, porque não é fácil do nada perder meu pai. Minha mãe havia ficado meio depressiva e assim seguia nossas vidas.
No colégio já não tirava as mesmas notas, não me arrumava, não tinha mais o prazer em me ver bonita. Ninguém sentava do meu lado nas aulas, perdi o apetite e não sinto a mínima vontade de sair. As piadas perderam a graça e as palavras o valor. Rodeada de pessoas, sinto-me sozinha. Não consigo acreditar que meu coração se torna a cada dia mais inane. Provocam-me rústicos pesares de culpa, estou sempre errada.

Perdi o ritmo de sorrir e meu travesseiro agora se encharca de lágrimas

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Perdi o ritmo de sorrir e meu travesseiro agora se encharca de lágrimas. Excluo-me de tudo e de todos e meu sangue continua rispidamente frio. Os doces que costumava provar, adquirem agora o amargo. A minha bala favorita tem o gosto do arrependimento. Falo sem querer, e acabo magoando as pessoas porque me importo demais com a felicidade delas.  Sinto que o fim está próximo, mas quem acreditaria em uma garota ingênua e complicada de se entender como eu? Ninguém pode me ajudar, só eu mesma. Mas quando vou me libertar? Só eu saberei se me libertarei ou não.

Acostumada a dizer aos outros para buscarem a felicidade esperada, não consigo buscar a minha.  Dotam-me de criticas, por ser do jeito que sou, por falar como falo, por fazer o que faço. Não se colocam em meu lugar, até mesmo porque não conseguem. Sou a diferente, a incomum. Quando souberem que as difamações não condizem comigo, será tarde demais para explicações.

Eu estava sozinha escutando aquela música que só piora mais as coisas, meu travesseiro ensopado, trancada no meu quarto, gritando, pedindo ajuda pra Deus, eu não estava mais aguentando aquela dor insuportável, eu já não sabia mais o que fazer, meu coração doía muito, que dava vontade de colocar a mão lá dentro e arrancar ele. Então eu vi um estilete, peguei ele e fiz um corte pequeno no meu pulso, na mesma hora o sangue começou a escorrer junto com as minhas lágrimas. A dor era tão pequena que quase não dava para sentir, porque a dor que eu estava sentindo aqui dentro era maior. Fiquei assustada, com medo de que alguém visse aquilo, depois só dava eu e meu moletom, só eu e minhas pulseiras, arrumando um jeito para que ninguém visse. O tempo foi passando e eu continuando com aquilo. As coisas foram se resolvendo, comecei a me controlar, até que eu parei. Só que eu ainda tenho aqui, cada cicatriz, e quando eu olho pra elas é como se eu estivesse no passado, é como seu eu estivesse sofrendo as mesmas coisas, olhar pra elas me deixa triste, porque quando eu olho pra elas eu começo a me lembrar de tudo, começo a me lembrar dos motivos que foi me levar a fazer aquilo. É, me ajudou, só que ao mesmo tempo não, depois da primeira vez não da mais vontade de parar, começa a ser um hábito ver o sangue escorrer, então precisa se controlar, precisa ser forte. Pois a sociedade só sabe julgar. Todos tem seus motivos, seja lá qual for, nós estamos sofrendo, nós estamos com problemas, nós estamos sozinhos, e esse sorriso no rosto, esse sorriso é falso.

Estou tentando ser forte perto dos outros, mas sinto que em algum momento vou desabar, e serei obrigada a contar o que estou sentindo. Quero guardar isso pra mim. Não quero que ninguém saiba. Não quero ser julgada por ninguém. Não quero ficar pior do que já estou.

A Garota SolitáriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora