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Passei correndo pelo raio x do aeroporto, olhando o tempo todo para o meu relógio de pulso. Ele foi um presente da Magali, é todo vermelho e tem pequenas melancias desenhadas, o que sempre me faz lembrar da nossa amizade. As pessoas quase não usam mais relógios assim, mas eu me sinto mais segura controlando o meu tempo e, por isso, raramente me atraso. Mas não foi assim. Justo no dia em que eu devia ter chegado mais cedo, tudo deu errado. Não acordei na hora certa, esqueci o passaporte em casa e tive que voltar a metade do caminho para pega-lo, e mal pude me despedir dos meus pais no carro, na porta do aeroporto! Não queria nem pensar se tinha esquecido mais alguma coisa mega importante, tipo minha escova de dentes.

  Depois que peguei minha mochila na esteira, saí correndo em disparada, olhando para todos os lados e morrendo de medo de esbarrar em alguém. Tive a impressão de derrubar algo e fiz menção de pedir desculpas, mas eu ja estava longe. Todos os anos correndo atrás do Cebola e do Cascão me terminaram para momentos como este: estar atrasada para pegar meu voo! Qual era mesmo o portão de embarque?

  Encarei o cartão em minhas mãos e não consegui conter um suspiro, parada no meio do corredor largo, cheio de gente. Estava ansiosa, e meus cabelos soltos não ajudavam em nada naquele momento. Não fazia diferença se estavam curtos como sempre, os fios grudavam na testa suada, atrapalhando minha visão. Mordi os lábios para evitar que eles tremessem, porque na verdade eu me sentia prestes a explodir. Meu coração batia tão forte! De animação, é claro, mas também de nervosismo. Sabe o sentimento de apresentar um trabalho na frente de toda a turma e acabar esquecendo o que você precisa falar? Era tipo isso. E eu quase nunca esquecia o que precisava falar. Não sou exatamente uma pessoa tímida. Afinal, sou a dona da rua. Mas não sou imune ao nervosismo. Acho que ninguém é. Meu pai costumava dizer que ficar nervoso é bom, porque mostra que cada experiência é única, como se fosse sempre a primeira vez. Dá aquele frio na barriga, sabe? E é por isso que eu estava prestes a deixar a segurança da minha casa para enfrentar novas aventuras.

Uma viagem inesperada Where stories live. Discover now