prólogo.

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Havia uma fina camada chamuscada sob os pés do homem que nunca, uma vez sequer, sentira frio. E como as circunstâncias apontavam, aquilo era natural e manso. Calor jamais seria incômodo para o coração abrasador do rei, que piamente acreditava ser um pedaço rachado do sol. A ponta da cortina aveludada pairava sobre o piso de madeira escura, suavemente afetada pelo vento seco e rarefeito.

Ignis era como Vênus. Não fedia a enxofre, não era composto de fogo escaldante e nem haviam lagos de lavas, mas era densamente quente.

Figura concebida junto à beleza incontestável, William também era como Vênus. Ele não seduzia intencionalmente, mas era facilmente apaixonante. Ademais, o poder entregue em suas mãos cedo demais, funcionava apenas como combustível para o fogo que já alastrava pelos cantos. E era de suma importância que nada fugisse de seu controle, que as rédeas fossem amarradas nos pulsos e ali ficassem.

Ele era o rei, afinal. Cada coisa, desde levar iluminação até manter aquecido cada corpo existente nos continentes, era responsabilidade de seu reino. Sobretudo, sua.

Nos extremos polares, como uma peça irremovível e petrificada, havia o reino de Nix. Que era o total oposto de Ignis, para o horror de qualquer descendente das terras alaranjadas.

Rasgava em temperaturas bem abaixo da ideal, aclamada por seus castelos esculpidos e gentileza em excesso. Eles não construíam bonecos de neve com a ponta dos dedos, só que eram bastante exibidos quando queriam ser. Ainda mais quando sopravam a estação gélida para os outros.

Os habitantes de Ignis não suportam qualquer rosto pálido, não escondiam isso de ninguém. Eles negaram o inverno por quase meia década, até que os ministros concedessem permissão para salvá-los de um possível desastre.

E o príncipe Edward insistira até o pai ordenar que o inverno fosse até o reino de Ignis, veloz e imbatível. Sensato, conhecia a importância da luz. Talvez, a essa altura, estivessem vivendo em destroços pelo orgulho do rei, mas o príncipe não permitiria tamanho descuido.

Havia uma espécie de lenda sobre o porquê da fúria hereditária.

A mesma dizia que uma garota fôra concebida por uma princesa do reino chamuscado, que por si só carregava demasiado poder. A princesa, segundo a lenda, fôra arrastada pelos encantos de um príncipe gelado e acabou dando a luz à uma pequena criatura horrenda. O bebê agonizou, queimando até a tão prematura morte.

E deveria ser certo que habitantes comuns, com poderes relativamente fracos, nunca poderiam causar algo tão drástico.

Mas nunca foi algo que desejaram arriscar.



ミ  ミ  ミ  ミ

light of mine • mpregOnde as histórias ganham vida. Descobre agora