Capítulo 42 - A rainha.

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Lauren rolou os olhos assim que me soltou. As duas estavam nos ajudando em toda aquela mudança, visto que tanto eu quanto Dinah queríamos guardar o que ainda era importante.

- Vocês não perdem essa mania de se agarrassem em todos os cantos.

- Não é como se vocês não fizessem o mesmo. – Lauren rebateu.

Dinah pensou em retrucar, mas sabia que não tinha resposta para o contra-ataque de Lauren.

- Katherine, você ensinou coisas demais para essa mulher. – Dinah finalizou, nos fazendo rir.

- Chega de papo meninas, vamos colocar essas ultimas caixas na caminhonete. Vero vai chegar amanhã, e temos que deixar isso aqui impecável.

Lauren bateu continência em pura brincadeira, antes de pegar uma das caixas espalhadas pelo chão. Dinah logo fez o mesmo, seguindo os passos de Normani que tão logo se adiantou.

- Acho melhor você ir para o segundo andar, ainda falta seu quarto. – Lauren murmurou ao parar ao meu lado.

- Não quero.

- Tem algo que deixei para você lá.

Eu suspirei um tanto pensativa, mas logo assenti.

- Vou deixar você a vontade. – Sussurrou ela, antes de depositar um beijo rápido em minha boca.

Eu assenti, vendo Lauren sair pela porta com algumas caixas em mãos. Ela fez um sinal de que poderia leva-las, eu não devia me preocupar. Então eu apenas deixei. Quando a porta se fechou por completo, me vi sozinha naquele lugar. Era um tanto nostálgico, admito. Todos aqueles moveis, e papeis de parede me lembravam o exato dia em que cheguei aqui. Dinah e eu havíamos feito uma prova com o intuito de conseguir bolsas integrais em uma das melhores faculdades da Suíça, mesmo sabendo que Charlie poderia pagar por elas, mas estávamos tão acostumadas a nos virar sozinhas que conseguir aquilo seria uma prova perfeita que não éramos tão dependentes assim. No início, Charlie foi contra, mas tão logo entendeu e nos apoiou como sempre fazia. E foi naquela pequena casa que vivemos por todos os anos da faculdade, até saber da morte de nosso pai.

Um suspiro deixou meus lábios, quando voltei meu corpo para o centro da sala, recordando a posição exata da TV. Lembro-me perfeitamente das imagens transmitidas pelo noticiário no dia que Charlie se foi. Lembro de ouvir o estilhaçar do porcelanato no chão, e dos olhos assustados de Dinah. Fora um dos momentos mais dolorosos de toda minha vida. Me afastei daquele cômodo, e segui em passos preguiçosa pela escada, recordando-me de todos as fotografias de família que havíamos colocado ali. Eram lindas. Passei pelo quarto de Dinah, pelo de Charlie que tão pouco foi utilizado, visto que suas visitas se tornavam cada vez mais raras. E enfim havia chegado ao meu. Parei diante da porta de madeira, e girei a maçaneta devagar. Adentrei aquele cômodo lentamente, ouvindo o ruído sutil do assoalho antigo sobre os meus pés. O quarto ainda tinha os mesmos pequenos detalhes da última vez, Dinah em suas visitas não havia mudado nada, diferente da mudança drástica que fiz nos últimos meses naquele lugar.

Quando Charlie me entregou, suas paredes tinham um tom claro de verde, que se contrastava perfeitamente com o branco das outras. Lembro-me de como ele havia ficado feliz ao pintar tudo com suas próprias mãos. Anos depois, todo seu trabalho foi tampado pelo meu. As paredes perfeitamente pintadas, agora possuíam rabiscos, linhas, colagens, papeis de bilhetes, fotos e recortes de jornal. Um enorme organograma feito minuciosamente por mim durante longos meses de planejamento e preparo.

- Me perdoe por estragar a pintura. – Sussurrei com um sorriso, como se ele pudesse me ouvir.

Me aproximei de minha antiga cama, e consequentemente de uma das estantes do quarto. Sobre a mesma, havia alguns pequenos objetos decorativos, pelúcias e um porta retrato. Capturei o objeto empoeirado, e com o dorso da mão limpei o vidro sujo. Um suspiro deixou minha boca, quando meus olhos foram de encontro a foto ali exibida. Confesso que senti aquele aperto no peito ao ver sua imagem tão alegre. O homem tinha o sorriso aberto, assim como o meu naquela foto. Seu corpo estava inclinado para frente, enquanto Dinah e eu escalávamos suas costas. Um sorriso se formou em minha boca, quando com a ponta dos dedos toquei nossos rostos alegres.

Xeque-MateWhere stories live. Discover now