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Lembro da primeira vez que a vi.

Meus pais estavam brigando, então minha mãe me mandou brincar na pracinha da igreja no final da rua.

Naquele dia ela estava tão linda, assim como todas as vezes que a vi.

Mas naquele dia ela estava diferente, ela estava radiante, tão feliz, pelo menos até ele aparecer.

Ela estava no meio de um grupo de pessoas mais ou menos de sua idade. Ela brincava, ria e fazia caretas enquanto se divertia.

Em determinado momento alguém fez algum comentário engraçado que a fez rir e foi nesse momento que meus olhinhos de criança curiosa se desfocaram daquele grupo de pessoas e se focaram somente nela.

Ela subiu no banco, colocou o dedo indicador entre o nariz e o lábio superior, imitando um bigode, colocou uma mão fechada em punho nas costas, inflou o peito e fez uma imitação engraçada de alguma figura histórica.

Todos riram, estava tudo lindo, com uma energia boa, até que ele chegou.

Ele chegou acabando com toda a diversão e arrancando o brilho de seus belos olhos amendoados. Era um homem alto e magro, um pouco mais velho que meu pai na época, tinha os cabelos negros, com alguns fios grisalhos e olhos puxados.

Ele a puxou brutalmente pelo braço a fazendo descer do banco, ele tentou puxa-la mais uma vez, mas um garoto loiro se intrometeu tentando defende-la,mas acabou por levar um soco no rosto e caiu no chão. Ela tentou ajudar o garoto, mas o homem puxou seus cabelos com força a fazendo ficar bem próxima dele e sussurrou algo em seu ouvido. Depois disso ela foi embora com ele sem resistir mais.

Naquele dia, não só eu ou seus colegas, mas sim todos naquela praça a viram chorar enquanto se afastava com ele.

Na época eu não entendi, afinal eu era só uma criança brincando na pracinha, mas hoje eu entendo.

Naquele dia ele a ameaçou. 

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No caminho até em casa só conseguia pensar em como aquela garota era linda e o quanto aquele homem foi grosseiro. Papai sempre me ensinou que as mulheres devem ser bem tratadas e quem nelas não se bate nem com uma flor.

O que foi uma hipocrisia sem tamanho de sua parte já que ao chegar em casa aquele dia eu me deparei com uma das cenas que mais me machucaram e mais me marcaram na minha vida.

Ao entrar pela porta de casa já estava escuro e as luzes de casa estavam todas desligadas, mas pela luz da rua pude ver meu pai jogado no sofá com uma garrafa de whisky vazia ao seu lado e minha mãe sentada em sua cadeira de balanço com os olhos vidrados em seu bordado.

- Mãe...

A chamei.

O quanto mais me aproximava pude notar aquelas coisas que me machucaram mais que o inferno.

Primeiro: Minha mãe estava chorando.

Segundo: O seu olho estava roxo.

- Oi meu filho...

Me cumprimentou tirando o olhar do bordado ainda com as lagrimas escorrendo e um sorriso forçado.

Quando eu a perguntei ela tentou negar, mas eu sabia que havia sido o desgraçado bêbado no sofá que havia feito isso com ela.

Pink HairWhere stories live. Discover now