Capítulo III

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Essa semana eu estava vendo fotos de quando era criança, em algumas tinha pessoas que eu nem sequer lembro o nome, uma foto em especial me chamou atenção, nela estávamos meu pai, minha mãe, meus irmão e eu que tinha um sorriso no meu rosto, mas não se engane, ele era forçado, as pessoas dizem que quando se é criança as coisas são mais fáceis, se eu dissesse isso, estaria mentindo a você. Detrás daquele sorriso, existia uma criança que se escondia embaixo da cama para chorar.

Quando me olho no espelho, vejo traços daquela criança. Ainda consigo sentir o medo que transbordava em meus olhos com todas as cenas que observava calada, era apenas mais uma criança presenciando crueldades, sem poder fazer nada e sem ninguém para ajudá-la.


O que você está dizendo?

Eu não quero a sua pena, isso não muda nada.

Então pegue suas palavras bonitas e sua falsa importância e transfira para alguém que acredite nelas.

Então você quer ouvir mais sobre minha infância...


Bom, eu cresci em um ambiente que pode ser comparado com um campo de guerra, a qual todos estavam contra mim, a culpa sempre era minha, em tudo.

Quando tinha 8 anos minha mãe tentou se matar, e quando perguntado o porquê, ela culpou a mim. Dizer que superei isso seria mentira. Lembro-me que naquele dia me escondi embaixo da cama e chorei até adormecer ali mesmo.


Eu era apenas uma criança.

O que poderia fazer?

As palavras que você diz são bonitas, mas como já disse elas não mudarão nada. Apenas peço que tente fazer com o que aconteceu comigo não aconteça com outras pessoas.

Não se preocupe, eu não vou me matar.

E sim, ainda posso continuar a contar minha história.

Mas peço que não se atreva a sentir pena, porque para mim pena é um sentimento desprezível.


Eu ainda me lembro que quando voltava da escola, mesmo machucada, arrancava uma flor para entrega-la. Em todas as tentativas as via parar no lixo.

Quando recebi a notícia sobre meu primeiro prêmio, corri para conta-la, mas ela não quis escutar. Quando o recebi, ela não estava lá, lembro-me muito bem que pedi que a dedicassem, mas ela simplesmente não estava lá.


Pare de tentar dizer que era mentira quando ela disse que preferia que eu morresse. Isso foi dito diversas vezes.

Apenas deixe-me continuar.


Logo após todo aquele pesadelo, eu não tinha desistido, e isso fez com que ela me olhasse com surpresa.

Eu ainda carregava uma flor na mão, mas dessa vez, coloquei-a direto em um jarro que estava em cima da cômoda ao lado da cama dela, no quarto daquele hospital.

Por um longo tempo eu nunca havia sentido o seu amor.

Hoje as coisas estão um pouco melhores.

Mas ainda passa pela minha cabeça que se eu não tivesse nascido, as coisas seriam diferentes e talvez ela fosse mais feliz.

Eu sinto muito, mãe!

Eu realmente sinto muito...


Observadores de estrelasWhere stories live. Discover now