O DESERTO DE DRASKHON ... Desenterrados x Culpados

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Já é possível inclusive, apesar de tão longe e tão perto ao mesmo tempo, avistar com mais perspicuidade algumas criaturas escalando a muralha do abismo, mal sabem elas que só quando Martin chegar na muralha, é que alguém mais, se for merecedor, poderá escalar, subir até o topo e alcançar tal feito.
Um jovem rapaz aparentando uns 18 anos de idade, usando óculos velhos, não contêm-se, atônito e estatelado em meio aquele deserto, após ver Habyss e sua fúria e força, surta a sussurrar:
–  A palavra de Deus diz: “ e vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão, ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e o satanás, amarrou-o por mil anos e lançou-o no abismo ” Meu deus estamos no abismo ! nas trevas do apocalipse... –
–  Você é tão crente em deus e na sua palavra, o que está fazendo aqui então?  Pergunta o homem que leva seu pequenino macaco no ombro.
– Já passamos por aqueles dragões e agora esta serpente, vocês não percebem ? –   Responde com outra pergunta intrigante o rapaz.
– Sim percebemos... E vamos chegar na subida dessa merda de abismo e vamos subir até lá em cima, onde eu espero que também não seja outro abismo, ou o inferno .–   Finaliza vociferando, Haderi.
Os ânimos se exaltam, outra luta é gerada e mais um conflito termina em mais disputas sangrentas, Martin nem sabe o por que, e quando o primeiro é atacado e morto por um golpe de espada que transfixa até suas costas, porém ao cair, o mesmo é afundado para embaixo da areia quente do deserto, é como se algo tivesse o puxado. Seu corpo some submergindo-se, a desavença e as brigas cessam subitamente.
Ora ! quem quer ser puxado para debaixo daquele deserto abrasador ?  Seria areia movediça ?
Martin e Dory  se afastam e continuam a caminhar.
Falta pouco... consegue-se agora avistar a gigantesca muralha escura situada mais ou menos há uns dois dias de distância de onde estão. Isso mesmo, dois dias de distância. Sem relógio, sem sol, sem lua e sem referencias de localização, nem coordenadas, o tempo e previsão para um ponto de chegada é medida pelas horas e pelos passos .  Algumas vezes , o tempo está claro por muitas horas e muitos passos apesar do céu cinzento, outras vezes, tudo está escuro e só com improvisados bastões de fogo para aclarar o caminho trevoso. A todo tempo, são vistos cometas voejando ferozmente pelo céu, algo tão raro de ver a olho nu na época da vida na terra, sem falar de outros tipos de clarões no céu e das estrelas cadentes que estrondam e se desmoronam ao chão. Caveiras ao chão, pedaços de pessoas e animais horrendos mortos jogados ao léu, tudo isto aparece com mais volúpia nesse deserto que parece ser o ultimo ou penúltimo tirocínio, antes de chegar á subida do abismo. Pelo que dá pra ver de lá do deserto, deserto que sucedeu-se em meio ao infinito areal, parece que tem uma ultima e derradeira provação a ser cumprida, uma batalha de proporção astronômica, tão alastrante e dimensional que vai até o outro lado daquela muralha do abismo, diante daquele deserto infinito onde se encontram agora, é que se vê a amplitude e a quantidade de seres que já estão na subida do abismo. Se tivessem binóculos ou lunetas, constatariam e conseguiriam ver se eram realmente seres humanos ou formigueiros.
– Que diabos é aquilo ali tão longe ? –  Pergunta curioso o japonês Kazuaki ao ver o alvoroço .
– É a batalha e peleja dos que tentam subir o abismo e dos que se matam.–   Martin responde.
– Por que estão se matando ? Por que não sobem de vez? – Pergunta Alika.
– Por que são seres humanos. – Responde Martin com convicção de sua resposta.
– Pensei que seriamos os primeiros e estamos na verdade é atrasados, pois já chegaram na subida desse abismo há tempos. – Frustra-se o homem e seu pequeno macaco de estimação .
– Sim, Eles chagaram, mas quem disse que subiram? – Dá sua retórica Martin.
– Socorro ! – Grita um homem sendo puxado por um braço que surge nascendo do chão de areia escaldante.
Dory ataca e golpeia com força o braço puxante e o esfacela, os braços têm forca o bastante para leva-los abaixo, e se alguém deixar-se levar e não combate-los vai acabar lá embaixo.
– Martin, o que acha que tem lá embaixo ?.
– Não deve ser nada bom por que nos puxam, devem querer  saírem  de lá. –
Começa então uma matança de braços cadavéricos que eclodem do solo da areia tórrida, é preciso lançar a espada neles e decepa-los, pois tentam puxa-los para baixo, dezenas e dezenas de braços ficam jogados e espalhados nas areias .
A muitas horas e muitos passos sem beber água , surge um pequeno lago com apenas alguns metros de extensão e agua límpida igualando-se mais com uma grande poça, com medo que seja miragem ou armadilha, Martin lança uma flecha e ela cai em pé fincada a borbulhar respingos de água , dá-se a noção de como é o lago, raso e escasso .
Em poucos minutos, o lago é ressequido pelas bocas sedentas que o devoram, sem falar dos que mergulham nele ocasionado brigas e mais brigas entre si. Enfim, todas as guerras geradas pela humanidade são tão pífias e inúteis que até os senhores da guerra, inclusive os que já tinham morrido e ressuscitado para penar no abismo, descobrem realmente o que é um verdadeiro motivo pra fazer guerra, a falta de água. 
Que um dia o mundo ficaria em catástrofe e miseravelmente sem água, isso sempre foi informado e advertido pelos jornais e profecias, mas o que não se imaginava é que essa última guerra e sofrimento perduraria pra toda eternidade .
E de novo mais um pequeno lago é encontrado no deserto, depois outro lago, e outro e depois mais e mais... Todos de pequena extensão e cerca de dez metros de diâmetro que novamente logo são ressecados por mais e mais seres sedentos, e qual ser vivo não estaria sedento ali, a luta incansável contra aqueles braços das profundezas que os puxam sem cessar, cansam e derramam o suor companheiro, resfolegando a todos. Coberto por um manto de areia, ali tinha aspecto realmente de deserto, alguns descalçados eram carregados pelos braços e outros arrancam pedaços de roupa para cobrir os pés, não tem sol, mais a claridade e quentura do areal é a mais exorbitante de todo o abismo, alguns acreditam que apesar de tudo ali é o melhor lugar que já pisaram em todo abismo, apesar de ter de suportar tudo isto, vale a pena, só pelas aguas encontradas nos lagos, finalmente aguas de lagos inofensivos , já foi-se o lago de fogo, foi-se o lago da serpente monstruosa, o lago de pontes malditas, lagos de miragem e lagos que matam, o lugar mais quente do abismo até então pelo menos é repleto de lagos mergulhantes e límpidos.
– Olhem aquilo. –  Grita um homem ao ver a estatua de Geia, a deusa da terra, sentada ao seu trono, todos olham para a bela estatua e seguem andando, após passarem pela estatua, um redemoinho de poeira em meio a uma fortíssima ventania empurra e atinge os olhos impedindo todos de caminharem e sequer olhar para o lado e o fazem retornar para ao lado da estatua. O redemoinho torna a crescer e empurra-los toda vez que alguém passa da estatua de Geia, seja em qual direção for. Antes de passar da estátua sagrada tudo se apazigua e até as criaturas , que tentam puxa-las das profundezas cessam o ataque, mas como chegar na subida do abismo sem continuar a caminhar em sua direção, passar por Geia é inevitável .
– É essa estatua maldita . – Diz Martin.
– E o que vamos fazer ? –  pergunta Haderi.
Antes mesmo de Haderi concluir sua pergunta, Martin com sua espada katana disfere golpes ferinos sobre a estatua. Ninguém entende o que Martin pretende, para muitos, pode ser um enigma que ele esteja decifrando, mas não, não é por isso que Martin golpeia a estatua ferozmente, Martin está a atacando a estátua por puro e simplesmente ataque de raiva que o aguça incontrolavelmente .
Raios começam a cairem do céu atingindo a estatua, alguns acham que a estatua vai ser destruída mais rapidamente com aquelas sequentes rajadas de raios, mas não, depois de disferirem tantos golpes e mais golpes o que eles se certificam é que os raios fortalecem ainda mais a estatua enigmática do Deus Geia.
– Akila , Dory, esses raios estão protegendo a estatua. – Disse Martin.
– Por que acha isto Martin ? – pergunta Akila, que depois de Martin e Dory, tem os golpes mais devastadores.
– Olhe como estamos golpeando-a e quanto mais raios caem nela , mais seus pedaços se refazem e ela vai se regenerando. –  Afirma Martin com convicção mandando Alika observar.
Eles permanecem ainda a agir errado, ao invés de concentrarem-se, para decifrar e descobrir o que ocorre de fato ali, eles aumentam a força e avidez dos golpes, que vão deixando-os jogados ao chão e atônitos, alguns espertos tentam sozinhos correr velozmente passando da estátua, mas o redemoinho insiste em empurra-los para trás quase cegando-os olhos, o sopro é com tamanha força que o turbilhão desértico os cortam e machucam  os seus rostos. 
Todos agora sabem que só quando destruírem tal estátua, que poderão continuar a caminhar e sair daquele deserto, alguns já se desesperam :
– Não vamos conseguir sequer passar essa noite neste deserto. –  Reclama Haderi .
– vamos morrer aqui se não destruirmos essa estatua maldita. – Lamenta desolado o japonês Kazuaki .
– É verdade, e quando a atacamos, os raios a salvam.– Finaliza os lamentos Alika.
Estavam todos sem esperança depois de tanto atacar e não conseguir destruírem a estatua... A única maneira de vencer a estátua tudo indica e leva a crer que Martin descobrira depois de energia e tempo gasto, e ele está disposto a enfrentar tudo que lhe afronta , é arriscado, mas o garoto há de agir heroicamente num desafio que parece ousado e mortal .
Martin sobe na estatua e diz :
– Ataquem a estátua agora! – Na ponta extrema em cima da cabeça da  estatua e segurando dois escudos, Martin vai impedindo que os raios relampejantes e potentes atinjam a estátua, segura firme os escudos cobrindo a estatua para que ela não receba o poder que a revigora.  Finalmente decifraram que; os amaldiçoados raios é que a fortaleciam, fazendo-a indestrutível.
Todos atacam agora furiosamente e Martin com uma força descomunal que nem ele mesmo sabia que possuía, segura firme as rajadas ferozes que descem dos raios.
– Estamos destruindo, vamos! – Grita Haderi  –  Força ! – Gritou Martin.
Alika e Dory são as mais fortes e seus ataques antecedidos de grandes impulsos arrancam mais e mais pedaços de pedras maciças recobertas de concreto, mais e mais pedaços e lascas vão se desmoronando e a estatua de Geia ao se desfazer pouco a pouco vai dando a esperança de liberdade e rumo de que agora o redemoinho e a maldição vá se desvanecer. Eles estão certos, porém, a destruição da estátua ressuscita Derhart, o rei dos exércitos estava enterrado e desenterrou-se debaixo da estátua sagrada do Deus e rei e rainha da terra, Géia.
Assim que a estátua e seus pedaços de pedras rígidas desmoronaram-se de vez no solo do deserto, duas mãos surgiram das areias por baixo da terra e saltou pelos ares Derhart, com espadas enormes já desferindo golpes giratórios que atingiram primeiramente Martin, que sentindo uma forte dor e sangramento por baixo de sua roupa, afastou-se e pôs a mão sobre a roupa samurai levantando-a, viu que o corte é profundo em sua barriga e sentou-se, é preciso mais do que nunca que todos ajudem uns aos outros agindo com mais e mais coragem e sacrifício para proteger Martin.
Cada golpe potente de Derhart faz um voar para longe, ele está ágil, defende-se de todos os ataques que não são poucos. Alika, Dory, Haderi e Martin jogados ao chão, feridos, perplexos e estarrecidos estavam ali, completamente rendidos apenas ás suas mentes, que assumem o comando de suas psiques fazendo-os assistirem como em câmera lenta, Derhart lutar e exterminar impiedosamente um por um dos soldados de Ühler, a fúria de Derhart é avassaladora ! O jogo parece ter terminado ali... Todos iriam morrer diante dos pés do vingador brutal Derhart .  Até que Derhart está prostrado, com as espadas e suas mãos arriadas , parece que adormeceu em pé, ao observarem em volta, Bernard Khamel, está baixando seu arco e flecha, ele que lançou-a e atingiu em cheio uma haste pontiaguda na  testa de Derhart, que virando-se logo é atacado por Haderi e Dory que enfiam as espadas em seu peito, elas são trespassadas e atravessam até as costas fazendo o enorme rei de tantos exércitos ajoelhar-se e lá ficar prostrado de braços abertos ao pé da sagrada estatua que não mais se encontra de pé ali e sim só seus entulhos.
– Martin ! vou cuidar de você . – Desespera-se a sussurrar Dory, só agora vendo que Martin esta ferido.
E a surpresa de todos ao verem Khamel se redimindo, depois de colocar a vida de quase todos em risco com a serpente do lago, ele volta mesmo que ainda ferido,  mas com seu arco e flecha certeiros e afiadíssimos.
– Khamel ! você ficou para trás, achamos que tinha se perdido, ou nos deixado. –
Fala surpresa Alika.
– Obrigado Khamel, ele estava nos matando. –
Dentre tantos agradecimentos, Bernard Khamel permaneceu calado.  Agora sem redemoinho e nem tempestades empoeiradas, o caminho em direção á muralha que faz subir do abismo continua, e é lá, ainda na metade do deserto mais adiante, após passarem da estatua de Geia que se encontra mais e mais lagos, Martin é segurado pelos braços de Dory e Haderi , que os levam até o lago e lavam sua ferida, dão-lhe água e até pequenos peixes são retirados dali para poder alimentarem-se .
Martin só precisa de mais algumas horas... para saber que já estaria pronto para andejar e batalhar novamente, foi a primeira vez que foi atingido cruelmente e sentiu seu sangue jorrar, ele abateu-se, e viu que ser derrotado corrói seu ego inexoravelmente. Martin suspeita que a areia quente do deserto poderia talvez auxiliar no alivio de sua dor, ele enche a sua mão daquela terra ardente e põe sobre o ferimento ainda aberto em sua barriga, joga água e começa a palpar, Dory não sabe nem se há serventia naquilo, mas ajuda-o fazendo igual, será aquela areia sagrada ou magica? Alguns nem conseguem colocar a mão naquela terra quentíssima, ainda mais depois de secarem os lagos bebendo-os, mas Dory, não satisfeita e tendo a percepção que o aflora ainda mais naquele instante, resolve ir além, como todos ali sabem, a garota tem um dom extraordinário que se assimila a um poder quase mutante, além de pôr as mãos naquela areia torrante, ela afunda seus braços o mais profundo que consegue e é lá que a temperatura ultrapassa os 80 graus, arranca a areia duas vezes mais quente e escaldante, joga fora a que Martin já pusera em si e põe calmamente  sobre a ferida dele. Martin grita de dor, mas suporta sabendo que é para o seu bem. Martin quase desmaia e sonolento, vê-se debruçado sobre os braços de Dory. Todos esperançosos só querem que Martin se recupere e volte inteiro para conduzi-los. Para muitos Martin é realmente imbatível e indestrutível, quem imaginaria que Derhart saltaria debaixo daquela terra ardente e o feriria, por outro lado, como Martin conseguiu bloquear com dois escudos aqueles raios estrondosos do céu que vinham abruptamente em direção a estátua ?  Quão grande é a força desse garoto que segura até raios e relâmpagos.
Mais o que impedia de todos seguirem em frente, realmente era apenas a tempestade de areia que formava um turbilhão e empurrava a todos como se fosse um redemoinho, como um redemoinho jogando animais á sua cocheira. Os braços ressurgem e voltam a tentar puxa-los para baixo, é preciso mais e mais golpes para aniquilar aquele importuno . Até que um homem, um dos poucos seguidores que até ali resistiu, que ninguém sabia o nome , muito menos Martin, resolve puxar um daqueles braços escuros para fora e é ajudado por Haderi que também curioso, quer saber como são aquelas criaturas que tanto puxam incessantemente. Eis que sobe um ser cadavérico quase em forma de esqueleto mais ainda com restos capilares na nuca e olhos vivos esbugalhados a dizer :
– Agora vocês me libertaram. –
Todos se armam com intuito de render o ser horripilante e Alika grita :
– Libertamos você da onde ? –
A criatura se move de pé, olha em direção ao homem de barba ruiva que foi quem o puxou e diz:
– Então justamente você me puxa não é seu desgraçado. –
Diz a criatura que vê o homem intacto e sem saber como agir .
– Quem é você ? –  Pergunta o homem de barba ruiva, seu nome é Soren, um dinamarquês .
A criatura aponta seus dedos em direção a Soren, a falar:
– Você me jogou da ponte de Hesbta, agora eu vim te buscar pra onde você deveria ter ido e eu vou ficar aqui, no seu lugar. –
Soren tenta se armar sacando sua espada, mas o desenterrado pula em seu pescoço como se fosse um morcego sedento por sangue, tentam ajudar Soren mais a fera sai pulando deixando-o estremecendo e agonizando ao solo quente.
A criatura se abaixa atenta e Martin a defende a dizer:
– Estão vendo todos vocês! Eu falei que cedo ou tarde, a recompensa pelos seus atos viria para condena-los . –
Conclama Martin para os quarenta paladinos restantes que o seguem. Mas o que nem Martin, nem ninguém imagina, são nas consequências que virão após Haderi e Soren ter resgatado das profundezas aquele ser que cruelmente foi jogado da ponte para os olhos de Hesbta, inclusive Soren o reconheceu antes de ser atacado e morto.
Cair nos olhos de Hesbta como já sabemos é ser extinto do mundo, mas isso, só concedeu-se com os que olharam para o lado desobedecendo a ordem de Humius, os que foram jogados barbaramente pelos perversos foram conduzidos para a masmorra dos atormentados. Foram infelizes por que caíram, mas tiveram a segunda chance debaixo do deserto onde ressecaram com a temperatura.
– Ora, lá embaixo a temperatura corroeu a pele de vocês, como é que você sobreviveu ? – Tomou coragem Dorothy a perguntar curiosa e com pena, reparando aquele ser carcomido.
Vigiando cada movimento dele, Martin e todos estão dispostos a ouvi-lo dizer:
– Vou dizer uma coisa que nem você Martin Ühler, nem ninguém sabe, aqui nesse mundo não se morre, se vive a agonia da morte e a dor eternamente. –
Após dizer isto, a criatura vira-se de costa novamente e abrindo seus braços brada:
– Ahhhh ! –
Todos dão um passo atrás e espavoridos, presenciam o que não queriam que acontecesse, a criatura por nome de Henry, afinal ainda é um ser humano, vai resgatando as mãos que surgem na terra cáustica e puxa-os um por um, Martin não sabe se os ataca ou se os deixam retornarem, dois homens do exército de Martin começam a ataca-los e começa mais uma batalha.
– Não! Parem de lutar. – Ordena Martin. Mas ao que tudo indica, ainda havia pessoas do seu exército que empurraram seus semelhantes quando se estreitavam na ponte de Hesbta.
Tudo que Martin queria ouvir, era que aqueles pobres desenterrados não queriam derramar sangue de seu exército e nem se vingarem, mas parece muito improvável, afinal se o próprio Soren que resgatou um deles foi brutalmente morto, imagina com os que o atacam agora. 
Martin não quer, nem nunca quis, em nenhum momento ser deus ou julgar alguém, ele quer permitir como sempre, o livre arbítrio imperar nos seres que vivem entre si, com seus atos e consequências, expondo seus anjos e demônios internos, alguns culpados relutam entrando em guerra contra os desenterrados, mas a maioria prefere distanciar-se e seguir em frente, e assim sair de vez daquele deserto, já estavam na metade daquele deserto e a verdade é que Martin e Dory, juntamente com seus guerreiros não querem nem saber se os desenterrados estão atacando seus companheiros, quem está derrotando quem ? E quem está com a razão ? – Martin, não vai fazer nada ? – Pergunta o homem barbudo como sempre carregando seu macaco de estimação. Seu nome, finalmente Martin descobre, é Gutierrez .
– Não há nada para ser feito, esses homens vieram lá de baixo para se vingarem e estão dispostos a fazerem isso odiosamente.– Responde Martin com frieza mas indeciso em seu âmago  apesar de olhar olhos nos olhos .
–Eles que se resolvam. –  Intercala Alika.
– Por outro lado, precisamos de soldados e guerreiros do nosso lado, se eles não se matassem, pelo menos ajudariam a enfrentarmos próximos oponentes e inimigos. – complementa Torres , preocupado com a redução do exército de Martin Ühler, a partir de mais aquela batalha.
– Que venham nos ajudar os melhores seres humanos... E não os animais assassinos – Diz Alika, contagiada pela frieza de Martin.
O que começa ali é uma discussão sobre quem deveria seguir com Martin e quem não deveria, alguns deixam claro que querem voltar para ajudar e salvar os “culpados” que estavam até agora na batalha, outros querem voltar para salvar os inocentes desenterrados, que foram empurrados impiedosamente pelos “culpados ” empurrões .
– Ei, parem com essa asneira! Vocês ouviram dizer que aqui não se morre nunca, então deixem que eles se matem, depois ressuscitem e voltem a se extirparem assim sucessivamente. –
–Eu só ainda acho que...deveríamos ajudar esses infelizes desenterrados.–   Gagueja Gutierrez.
– Vocês façam o que o coração de vocês mandarem , a minha intuição diz que, só subirá o abismo quem estiver inteiro e sem culpas . – Responde Martin que ainda conclui o sermão a dizer :
–Não vamos nos desgastar, os culpados não estão atacando por atacar nem para assassinar esses infelizes outra vez, estão se defendendo da ira enfurecida que eles alimentaram lá embaixo por todo esse tempo. –
– Isso mesmo! É uma vingança justa. – Assevera a dizer após balançar a cabeça positivamente , terror Torres.
– Não Torres, não é questão de vingança just... –
–Vrahhhh ! – Um som que sai debaixo da terra desértica interrompendo a resposta de Martin. 
Vem saindo uma criatura gigantesca que continua a berrar estrondosamente, e todos dão passos recuados pois dessa vez, não é uma criatura que não consegue sair do lugar como a serpente do lago límpido, nem uma criatura que se acomoda e é vencida por barulhos e estrondos como os dragões de antes, é uma espécie de dragão imenso com uns 15 metros de altura, em seus dois braços, mais dois pequenos dragões nos lugares onde deveriam ser as mãos, dragões com braços pequeninos mas do tamanho de um homem. Martin Ühler ao olhar para trás observa que a anarquia e matança dos desenterrados e culpados cessa  por um instante, estão também atônitos e espantados. Martin logo se alivia e pensa consigo mesmo : “ eu sabia que Humius ia dá um sinal ”  Ele não sabia se a vingança daqueles desenterrados amargurados era legítima e justa, Martin estava mesmo se corroendo por dentro, quase voltou para salva-los, o que o impediu foi a dúvida e incerteza se aquele espírito de vingança é aceitável e plausível para quem almeja adentrar no reino que há acima do abismo, o reino que aguarda a todos, sem maldade e nem remorsos .
Após receber tamanha revelação,Martin se aproxima deles, desenterrados e seus carrascos a perguntar :
– vocês que se odeiam tanto, agora tem um motivo para se unirem, a não ser que queiram morrer de novo ? – vocifera Martin olhando para os desenterrados  e ao olhar para os culpados diz  – ou agonizar e conhecer a morte ? –
Então todos olham entre si, espantados com aquela criatura vindo em sua  direção,  eles se armam receosos. Fugir ou enfrentar ?
O primeiro covarde e esperto que foge, é alcançado pela fera e devorado, não tem como voltar atrás, quem encararia dois dias e meio de sede ? ainda mais agora, que nenhum lago restou ? Pequenos lagos límpidos existem ainda, mas só em direção a subida do abismo, onde o dragão diabólico os espreita. E esse imenso monstro como já perceberam não é igual a aqueles dragões que eles conseguiram se livrar com meros barulhos. Mas quem disse que eles não tentaram ?
– Vamos , batem os pés, –  Gritou terror Torres que ao olhar para baixo lembrou que só tinham areias e mais areias. Que zuada, barulho ou tormento poderia importunar aquela outra fera?
Então todos instintivamente começaram , com os objetos e artefatos que tinham, emitir os sons mais perturbantes que puderam. Bateram as espadas nas outras , espadas contra escudos , além dos gritos e berros.
– Não está adiantando, vamos ter que encara-lo.– Lamenta a dizer Martin. Que acrescenta a perguntar aos rusguentos :  – Está na hora de vocês guerrearem , vocês não querem batalhas ?
– Por que devemos obedecer a este pivete ? – Fala um homem que mostrou sua verdadeira face, que ao seguir o exercito de Martin Ühler parecia ser mais um escudeiro fiel, mas não passava de um dissimulado sanguinário, que na ponte de Hesbta empurrou e aniquilou inocentes. Martin enfurecido e enojado com tal sujeito fingido, levanta a sua perna direita e empurra-o com os pés, rapidamente em seguida levanta sua perna esquerda empurrando outro homem em direção a aquela fera imensa. Eles dois encurralados, começam involuntariamente a lutar contra o monstro disferindo seus ataques .
– Que bom ! Dois de nossos guerreiros já se propuseram a destruir esse monstrengo. –  Falou Dory com seu tom sarcástico e ríspido.
Mas o que vem a seguir são momentos de muito sangue e disputa.
– Ataquem os braços e deixem ele comigo ! –  Grita Martin Ühler.
Antes mesmo de ordenar mais estratégias para o ataque, antes mesmo de começar tal batalha, os dois homens são destruídos pelas garras de um dos braços do dragão diabólico. Ainda bem que a vingança dos desenterrados com sede de matar não gerou tantas mortes, ou melhor, não deu tempo para tanta perda. É preciso o máximo de pessoas e criaturas para combater aquilo, Martin ainda está fragilizado e antes mesmo que pudesse olhar para o céu, esperançoso e crédulo que mais uma luz e sinal de Humius viesse para auxilia-lo, o centauro guerreiro surge.
– Venha Martin, guie-me. – diz o enviado dos deuses, acudindo-o naquele momento desesperante. Martin monta-o, oferece-lhe uma espada e um escudo, corre com ligeireza de um lado para outro em cima do venturoso homem cavalo, e a batalha parece mais igualada. Martin vai disferindo sobre o dragão, flechadas e mais flechadas enquanto o centauro o defende com o escudo de bronze e com golpes de espada. Os braços do dragão, cada um constituído de outro pequeno dragão matam mais dois escudeiros do seu exercito porem, também estão feridos .
– Socorro ! – grita Alika, que é segurada e presa pelas garras de um dos braços dragões, que aniquila suas vítimas sempre de mesma forma, um braço segura uma vitima e o outro braço cruza pelos ares e vem com suas garras afiadas para perfura-la, antes que fosse acometida ao bárbaro ataque, Alika é salva por Bernard khamel que golpeia o pequeno dragão com uma forte pancada que e em cheio, corta o pescoço que a criatura quase não tem, após isto Khamel  se vê agarrado, preso atrás da fera e clama por Haderi :
–Haderi, ataque ! – Ofega Khamel. 
Haderi pula abruptamente sobre aquele ser meio monstro meio braço gigante, e atravessa sua espada sobre seus olhos.
– Aguenta firme Khamel ! segure com toda sua força . –  Implora Haderi , aproveitando a oportunidade de atacar enquanto a fera é retida pelos braços de khamel, mal sabe Haderi, que aquelas garras afiadas estão o machucando e perfurando dolorosamente .
E Alika nada de conseguir sair do outro braço apesar de relutar golpeando com toda sua força.
O centauro que ressurgiu para ajudar nessa batalha, apareceu realmente por que sabe que é possível derrotar o imenso e temível dragão ?  Ou veio pra se sacrificar, lutando até a morte contra essa fera colossal , já que cedo ou mais tarde , essa fera iria aparecer ?
Foi justamente nisto que Martin está a pensar quando o ouve dizer:
– Eu aguardo por essa criatura á muito tempo! – Grita ofegante o centauro.
– você sabia que esse dragão viria ? – pergunta Martin.
– Eu sabia que uma criatura imensa chamada Draskhon, o monstro diabólico dos desertos sairia das profundezas para exterminar todas as raças e comandar o abismo sozinho. –  Responde o centauro.
Com a ajuda de Kazuaki, também armado com a espada dourada dos soldados de Derhart, Alika consegue sair, soltando-se de um dos braços de Draskhon, ela torna a lutar ferozmente e junto a Dorothy e Kazuaki, destroem um dos braços do dragão com as espadas sendo-lhe enfiadas, ferindo-os brutalmente. Eles decepam a cabeça e chegam a arrancar, cabeça que é do tamanho de uma pessoa. Khamel ainda agarrado ao outro braço de Draskhon está ferido novamente, parece uma rotina o fato dele se deparar todo ensanguentado e combalido assiduamente, também pudera! Khamel se entrega e se prontifica a encarar de igual pra igual os mais insanos e mortais confrontos.
A batalha sangrenta continua, um dos braços foi destruído, mas restam os ataques de fogo do dragão e o outro braço, que é levado de uma lado para outro com as garras a atacar, cada garra, das quatro que possui no braço são maiores que do tamanho de uma espada.
– As flechas estão se acabando Martin, não podemos tirar as flechas que já o atingiram, se não morreremos. – Fala o jovem Kazuaki, impressionado com tantas flechas fincadas no dragão colossal. Agora só nele que haviam flechas
Um dos únicos golpes que o atingem ferindo-o de verdade são os golpes das espadas, e isso quando as enfiam com firmeza e furor.
Martin Ühler disfere acertando um golpe na cabeça do dragão, o próprio monstro sem precisar do braço o empurra raivosamente jogando-o para longe com uma cabeçada. A sorte dos que combatem furiosamente nessa batalha, é que os covardes que tentam fugir, esses são os que Draskhon mais persegue implacavelmente, até para que não fujam e os percam de vista, sabe lá quando que o monstro colossal terá a chance de destruir tantas criaturas de uma só vez.
Draskhon vive embaixo do deserto e como todos sabem, lá embaixo é como as profundezas do inferno, um lugar de temperatura mortal duas vezes pior que o próprio deserto acima, tá explicado e esclarecido pra todos por que o deserto é o lugar mais quente e infernal do abismo.
–vocês enfrentaram esse demônio lá embaixo? – Pergunta Martin aos desenterrados.
– Não, ele não nos atacou, pois o que ele quer é sangue quente, vivo, o nosso sangue está frio, ressecado pela morte física  –  Responde um deles, que coloca sua mão sobre Martin, mostrando que o seu corpo está frio quase como um defunto.
– Então ele está sedento para nos matar já que ainda não morremos não é? –   Pergunta Martin ainda em cima do centauro e ao lado de Dory.
– Isto mesmo, tanto vocês como nós somos todos imortais, mas quer saber? Era melhor ter morrido de vez do que viver com o corpo padecendo e definhando a derramar sangue, gota sobre gota. – Retorquiu um dos desenterrados manifestando seu testemunho embaixo do infernal deserto.
Percebem então Martin e Dory, a dor e o sofrimento que todos passaram ao cair na ponte de Hesbta e ao chegarem ás profundezas do deserto no verdadeiro inferno, se o inferno já é ardente, era melhor ter morrido de vez e desaparecer do que ressecar lá embaixo sentindo seus corpos se definharem e padecerem. Lá embaixo estão Derhart, os suicidas do vilarejo maldito, os devorados pela serpente do lago límpido, dentre tantos e tantos companheiros ceifados. E todos estão se matando e se deteriorando, por isso a razão de tantos braços saltarem pra fora, contudo, só sairão das profundezas escaldantes se alguém os puxarem, mais uma maldição do abismo...
Faz tempo que a noite não vem, ninguém consegue atacar o dragão, é preciso destruir o outro braço endiabrado, Martin olha para os lados e o que vê, é desenterrado morrendo, seus soldados, sejam bons ou maus sendo exterminados, a grande e feroz Akila, com cortes no braço e sangrando a estrebuchar-se .
Na tentativa de receber mais um auxilio e revelação de Humius, Martin olha para cima e logo é atendido, mas por um enigma que terá de decifrar.
– Levante sua espada Martin ! levante-a e verá. –   Ecoa uma poderosa voz das alturas , é a primeira vez que todos conhecem Humius.  Os céticos se rendem atônitos, acham que é deus, aguardam a próxima ação de Martin.
– Meu deus, é ele Martin?  É deus que falou com você ? –
– Não o nome dele é Humius. – 
– O que é Humius Martin ? –  pergunta agora a curiosa  Alika.
– Humius é um dos mentores celestiais daqui, é um semideus. – Responde Martin.
–  Onde está deus Martin ? –  Exclama terror Torres .
– Deus não participa disso aqui, é comigo e Humius. –  Acrescentou Martin deixando no ar, algo revelador .
Relâmpagos e trovões retumbam do céu, a cada brilho e clarão impelido lá de cima, Martin levanta sua espada e os raios que caem atingindo nela refletindo e ofuscando rebatem em cima do dragão colossal.
– Martin, esses raios não estão abatendo ele. – diz o centauro.
Até ele descobrir que não é apenas levantar sua espada e usar os raios para atingir o monstro achando que assim o destruirá, demora um pouco até Martin desvendar que a função dos raios, é mostra-lo onde está a fraqueza do monstro colossal, para que ele possa atacar os pontos fracos e vulneráveis, essa é a única maneira de enfrentar de igual pra igual com aquilo.
Draskhon é um dragão que não tem asas, aliás, tem, mas são pequenas demais e não o fazem mover-se pelos ares, mas o centauro possui. Martin podendo voar naquele lindo centauro de belas asas brancas, sabendo que tem consigo armas, e tudo que precisa para atingir os pontos de fraqueza de Draskhon, vai á luta sobre os ares, mas não é nada fácil, os ataques vindos em forma de bolas de fogo são devastadores e nocivos. Ao levantar a espada mais uma vez para os raios e trovejos de clarão, Martin vai descobrindo e desvendando os pontos vulneráveis do monstro de fogo para atingi-lo de maneira mais letal e mortífera, e o primeiro lugar letal indicado pelos raios relampejantes da tempestade efêmera, que refletem em Draskhon, é o ombro direito. O braço direito cujo, a mão também é um outro mini dragão tenta impedir sua investida, antes tivera tê-lo revelado que atingir os ombros enfraqueceriam os braços da fera de fogo.
Quanta peleja e ataques ferozes esses braços disferiram sobre os abismados. Agora o braço assassino do dragão Draskhon, assim como Martin Ühler sofrem sua odisséia neste deserto, ao baixar-se, o braço quase um tentáculo, é atacado por todo exercito de Ühler, que agora voltou a ficar maior, dentre desenterrados , culpados e a força de elite mesmo ferida. Ao subir para atacar o desvelado frágil ombro, Martin com suas duas espadas o golpeia com ardor , centauro com os escudos de bronze, protege Martin das bolas de fogo em chamas lançadas por Draskhon, as garras do tentáculo dragão já não tem tanto efeito em seus ataques. Enfim, quando Martin levanta ao alto sua espada com bravosidade e furor, crava-lhe sobre o ombro, Draskhon brada alto, grita e se esperneia estrondosamente alto de dor, se contorce a rebater contra-atacando, a batalha vai perdurando até chegar a noite e sua escuridão terrificante. Martin e o centauro pelos ares vão disputando corajosamente contra Draskhon, não menos guerreiros, lá embaixo, o exército sob eles vai disparando suas lanças e espadas. As tempestades continuam e Martin levanta novamente sua espada sob o raio ofuscante e é refletido sobre Draskhon outro ponto fraco, a sua testa, dessa vez Martin esta disposto a se jogar em cima da cabeça do monstro, mas aquela fera continua a expelir bolas de fogo de sua boca e ventas, o centauro protetor e leal é atingido nas asas que começam a ficar em chamas, ainda bem que Martin já pulou avidamente sobre a cabeça do monstro, com desequilíbrio e garra, vai segurando firmemente nas carquilhas onduladas de Draskhon, e com mais ferocidade e ódio crava-lhe sobre a testa a espada katâna em seguida a espada dourada, a fera trambeca ameaçando cair, mas nem o monstro feroz e seu tentáculo assassino estão vencidos, o braço tentáculo extremamente ferido executa seu ultimo movimento de bravura, vai em direção a Martin que está lá em cima daquele crânio imenso, e já que não tem mais forças para combater o garoto, o lança para o chão, numa altura de mais de vinte metros, ele cai sobre alguns homens fortes que conseguem o segurar, mais o pior já está acontecendo.
– Socorro me ajudem! –  Grita o centauro em chamas, o que fazer? jogar agua? De que lago? Até chegar ao lago mais próximo que sobrou mais adiante ele já estaria tostado. O desespero toma conta, o pior é Draskhon, lançando ainda suas rajadas de bolas em chamas sobre o centauro e sobre todos. Mais outro homem é atingido e sai berrando pedindo socorro com o corpo referto em labaredas, o centauro enviado pelos seres divinos, com suas lindas asas brancas tenta abanar-se, mas não adianta, ele foge, é o primeiro a conseguir fugir de Draskhon sem assim ser capturado, disparou atrás de algum lago que possa conter mais adiante, e em seguida começa a sobrevoar, as chamas o acompanham, vai indo embora e quase desaparecendo em meio ao horizonte, aquela figura angelical, ora cavalga ora sobrevoa, Martin vê os olhos de seus guerreiros desesperados, mas não há tempo, nem o que fazer para salvar o centauro e nem os atingidos pelas rajadas de chamas de fogo. E o que os salvariam ? Como apagar o fogo em algo estando também dentro do inferno ?
Os relâmpagos e seus raios voltam a cintilar no céu e Martin ergue mais uma vez sua espada, outro estrondo e clarão faz fremir sua arma companheira e reluzir no que seria o último ponto de fraqueza de Draskhon a ser atingido,  é o lado direito do peito, agora é uma questão de honra lutar contra aquela fera, mesmo assistindo tanta gente zarpando dali, – Covardes ! – Talvez, pensou ele, mas Martin vai á luta, não sem obviamente seu esquadrão de melhores guerreiros, Alika, Haderi e Dory, que vão formando uma parede de escudo enquanto Martin se aproxima do monstro, o fogo de Draskhon já é escasso, o monstro está sem forças, as mãos de seus dois braços tentáculos não o ajudam mais, estão destruídos.
Martin, Dory, Alika, Haderi e Khamel, juntam o que sobrou de suas forças e com escudos e espadas amontoados conseguem derrubar Draskhon que ao desabar no chão estatelado não teve tempo de ser morto por Martin Ühler azar ou sorte, antes que mesmo Martin subisse em cima do dragão para cravar sua espada em seu peito direito disferindo o derradeiro golpe, os desenterrados se aproximam como urubus, arrancam pedaços do monstro ainda vivo e vão devorando e engolindo sua carne como animais selvagens, um bando de sedentos e esfomeados, é isso o que os desenterrados são, miseráveis esfomeados. Os desenterrados são seres inocentes, mas sua aparência é asquerosa, os ossos de suas costelas estão á mostra, seus crânios com fialhos de cabelos derretidos, dentes podres escurecidos, essas são as características físicas de quem morre e é teletransportado pra debaixo do deserto, eles não conseguem mais morrer de vez, são mortos vivos que vivem como espécie de zumbis, tem aparência de defunto, seu corpo vai padecendo e agonizando, sentem dor e sofrimento 24 horas por dia e não podem dar um basta naquilo, a gritaria e o pandemônio se prolifera, a visão é horrenda.
– Minha nossa! será que lá embaixo era tão pior do que aqui ? –  Pergunta Gutierrez boquiaberto ao lado de Martin, que responde
– Creio que sim, era bem pior lá embaixo, nunca tinham o que comer e estavam há dias e dias numa temperatura absurda, quase se derreteram.–
– E como eles têm tanta força se são mortos famintos ? – Questiona novamente Gutierrez .
– Por que são mortos vivos, a força vem do obscuro indecifrável.
E assim, os restos de Draskhon vai servindo de alimento até para alguns do exército de Ühler, a carne do monstro é dura quase como pedra, mas eram muitos dias sem comer, logo Martin que achou que ia dar o ultimo golpe fatal em Draskhon. Na verdade foi sorte que os infelizes desenterrados não tenham tentado atacar Martin Ühler e seu exército de guerreiros para saciar sua fome canibal. Martin bem que poderia pegar pedaços de carne do monstro e levar para assa-los em algum lugar, depois partilhar oferecendo como um banquete para seus guerreiros e sua amada Dory, mas a carne daquela coisa estranha é dura e áspera . A fome aperta naqueles que não degustaram as entranhas de Draskhon e o melhor a se fazer é seguir rapidamente adiante, deixando o deserto para trás. Ainda não é possível encontrar rastros do centauro nem de mais ninguém que fugiu da batalha.
– Parece que esse deserto não tem fim mesmo . –  Reclama Kazuaki ainda sob a sombra da noite, ele espera que por ali não aclare nem tão cedo pois quando vem a noite e sua escuridão, diminui o queimor do deserto.
Mas como todos estão peregrinando há três dias e meio, e sabem que a noite não dura muito no deserto descampado, logo a tormenta volta para consumi-los novamente, pois não demora muitos minutos e o clima vulcânico daquele céu avermelhado acompanha os passos dos que seguem a suar incessantemente.
– Ora mais que diabos! A noite e a escuridão é mais curta, justamente no lugar mais quente do abismo? –  Pergunta Haderi.
– A noite nessa droga é tão quente quanto de dia seu idiota. – disse Gutierrez.
– Por isto que estamos chamando de deserto, é um maldito de um deserto por que só há calor. –   Intercala terror Torres.
– Cadê o sol ?–  pergunta Alika ao perceber que clareou o dia.
– Aonde estamos o sol não bate e jamais baterá, a ardência infernal é uma dádiva desse abismo. –  Responde Martin .
Khamel não se reprime e acrescenta dizendo :
– Aqui foi o lugar mais agoniento que já pisei desde que vim para o  inferno. – 
Martin não se conteve e falou:  – você ainda não está no inferno, e o que  é que não dá agonia neste lugar, por acaso um vilarejo repleto de corpos suicidados não deu agonia ?  E os penhascos apavorantes de altura infinita não achou que ia cair ? Um lago com uma serpente assassina sei lá o que era aquilo tão imenso, não te deu agonia quando abocanhou dois de nossos guerreiros ? E um castelo assombroso cheios de vultos e sangue derramando pelas paredes ? tudo, tudo aqui é perturbador e causa agonia. –  Rosnou Martin meio que desacreditado.
– Mas este deserto já está derretendo até minhas esperanças. –  sussurrou Alika que encerrou as prosas lamentosas .
– É isso que não pode acontecer conosco, perder as forças. –  diz Dory animando o bando.
– É mesmo garota ! ficar sem comer, sem água e tendo que batalhar contra monstros assassinos não é um motivo pra perder as forças ? –  Retorquiu Torres.
– vamos atrás de comida e agua Martin, se não vamos ter de abandonar Gutierrez. – Falou Kazuaki, o japonês franzino está carregando Gutierrez nos ombros, mas é notável que o rapazote não vai suportar leva-lo por muito tempo .
Seu macaco de estimação agora está no ombro esquerdo de Alika, o animal que aguentou tantos apuros, agora também parece fragilizado e totalmente desidratado, ofegante, ele se agarra firmemente e se acomoda com confiança no ombro da guerreira cor de ébano, o animal aguarda sua provável morte, caso todos não abandonem aquele lugar o quanto antes.
O que surge, são mais e mais lamentos após mais horas de andança:
– Esse deserto não acaba nunca –
– Daqui a pouco aparece outro desgraçado para tentar nos matar –
– Chega ! Eu não aguento mais, acho que quebrei algum osso da minha perna. –   Vociferou terror Torres.
–  Não pode desistir agora, falta pouco –   Disse Haderi.
– Eu já sou um cadáver ambulante, podem ir. –
– vai ficar aqui queimando, sentindo dor e fome pra toda eternidade ? –   pergunta Martin.
– É verdade, pelo menos não morrerei, afinal aqui ninguém morre pra sempre não é ?  –  Responde Torres num tom sarcástico .
– Não sabe o que está dizendo velho, não tem ideia de como é ficar assim.– Retorquiu um desenterrado mostrando novamente os ossos expostos de suas costelas, seu crânio embranquecido metade já apoderado pela caveira de seu esqueleto, enfim, sua fisionomia assustadoramente cadavérica .
– Vai ser pior ficar aqui Torres, vamos, lute! – Disse Martin tentando animar o ancião. Mas o que acontece em seguinte é inesperadamente  frustrador,  outro do exercito de Ühler desaba ao chão e o pior é que se trata de um guerreiro da força de elite de Martin, um de seus bravos escudeiros, é Khamel, que diz:
– Eu também vou ficar aqui com Torres,  não aguen...–
– O quê! Você também Khamel ? pare! – levante-se agora e venha conosco.–
Relutam Alika e Haderi, que não cogitam nem em pensar em seguir sem Bernard Khamel. Khamel , um grandalhão de 2 metros de altura que não tem poderes e nem habilidade especial como Dorothy e Martin Ühler, é um simples mortal e frágil ser humano, mas também assim como Dory e Martin, é o homem que ousa desafiar frente a frente quaisquer dos mais temíveis poderosos monstros e criaturas. Ao falarem que já não aguentam mais, logo vão desmaiando, a verdade é que se eles continuam ali, estarão mortos em poucas horas, sem falar de mais uma jovem mulher que pertence ao grande bando, que também desfalece na areia escaldante , a situação fica crítica. Não tem jeito, os que desabaam ao chão são guerreiros imperdíveis, é preciso salva-los...
Martin carrega ao ombro a jovial mulher desfalecida, o japonês Kazuaki carrega também em seus ombros o Torres, Dory e Haderi  em cada braço esticado, levam o grandalhão Khamel , é pesado ter que além de tudo carrega-los, eles estão imóveis, desmaiados e saturados de tanta fome e sede. E quem não estaria assim naquela condição e lugar ? Dory, talvez, ela como os demais está esfomeada e com a garganta aflitamente ressecada, porém, devido ao seu poder, não sente o arder infernal insuportável por todo corpo.
Por ordem de Martin, Alika á frente, vai guiando e determinado como conduzir os passos rumo á tão almejada subida da treva, a guerreira negra e esbelta não se contem e sai correndo quando vê um furdunço á beira de mais um lago encontrado, ao aproximar-se do lago em meio a algazarra, ela começa a lutar e aniquilar alguns seres, são os desenterrados fujões, que deixaram Martin e seu exército para trás sozinhos para se virarem contra o dragão Draskhon, pra se ter uma idéia eram mais de dez homens cadavéricos com uma força descomunal, apesar de meios zumbis e resistentes, Alika é forte e impiedosa, mas está em apuros e grita :
– venha Martin! É o centauro que esta sendo devorado. –
Martin escuta de longe e é tão repugnante e surreal o que Alika acabara de gritar naquela distância, parecendo mais uma mensagem lúgubre avisada em câmera lenta, Martin logo estende cuidadosamente a mulher que carrega no ombro ao chão e sai correndo vorazmente , ao desesperar-se vendo aquela imagem triste e revoltante ele não sabe se chora lamentando a tudo aquilo, ou se ataca com todo furor e ódio aquelas criaturas infelizes e miseráveis que fazem o imaculado centauro de banquete. Dory também não contem a sua repugnância e entristecida sussurra :
– Meu deus! Olha como está a criatura enviada para nos iluminar e nos ajudar, foi atingido pelas explosões de Draskhon e está agora quase queimado, pior, sendo devorado como um rato pelos felinos. –
Martin não consegue chorar, mas ajoelha-se, não de tristeza, mais por causa do cansaço, pelo menos não precisa ficar matando ninguém, por enquanto... O formoso centauro estava sim, rodeado de devoradores que logo se afastaram ao ver que Martin e seus guerreiros aproximavam-se, não deu tempo dos esfomeados o devorarem, mas o centauro estava quase tostado, deitado em cima de um límpido lago, antes de morrer, conseguiu sentir sobretudo, as pequeninas ondas leves o tocarem e acariciarem o seu corpo esfalecido. A criatura esplêndida meio cavalo meio homem, deu sua vida para ajudar Martin Ühler a derrotar Draskhon .
De repente o que vem a acontecer é algo surpreendente e preocupante, ao mergulharem e beberem água do lago, tranquilos e serenos, não dava pra deixar de admira-lo mesmo que morto e afogueado, olhando de esguelha, com olhares esperançosos para o belo centauro, que branco ficou mais da metade empretecido, incendiado, é quando alguém fala:
– O que foi isso ? pra onde ele foi ? –
Todos se espantaram ao verem-no ser engolido pela areia, o belo ser foi submergido pra baixo daquele areal, sugado como um inseto, é como se alguma criatura ou algo de força inexplicável o puxasse para as profundezas. Em poucos segundos o centauro é devolvido aos céus numa elevação de luz dourada e verticalmente interligada ás alturas que o abduz vorazmente para as nuvens.
– Agora sim, deve ter ido para o lugar que merece.–  Falou a sensível Dory, aliviada e limpando seu rosto sujo com respingos de terra desértica que se espalhou para elevar o centauro .
Foi só no término daquele deserto que puderam todos, aproveitarem o que de melhor poderia ser proporcionado e oferecido para um ser abismado e infeliz que ali vivera. Beber as águas de lagos puros e transparentes, caçar e finalmente comer pequenos animais que pareciam lagartos, vertebrados estranhos que corriam de um lado para outro com uma aparência peçonhenta, mas após assa-los, como de hábito, poderiam ser suportavelmente ingeridos e alimentar o estômago.

O Abismo De Martin ÜhlerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora