Estrangeira-5-I

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-Aqui está ele mamma, muito acabado mas continua sendo ele. -Vicenzo faz troça da minha aparência, e na verdade ele estava certo.

Eu estou basicamente disforme, a aparência e roupas das quais eu preso muito estão horrendas. Sem exageros. Sente-se apenas o bafo de bebida vindo de mim, Bourbon é o meu perfume nessa manhã e talvez eu tenha de ficar feliz, pode não comparar-se aos famosos perfumes italianos e franceses que estão guardados no meu quarto, mas é igualmente caro.

-Sinto muito se não estou com a graciosidade em alta, senhorita, queria desculpar-me. -empatia fingida, minha melhor carta.

-Não finja meu amor -, devolve, olha-me sorrindo e de seguida senta-se ao lado de Giordana. -Você é melhor que isso sim?

Na verdade eu sinto algo por ele, por todos e eles, apego e admiração por ele, não apenas por ele saber quais são os meus limites, mas por nunca pensar em ultrapassá-los. Além de tudo assim como Enzo, Gianna e Giordana, Vicenzo é meu irmão e é minha família, temos um juramento de sangue e compartilhamos do mesmo sangue.

Passo a língua pelos dentes, estou desconfortável não apenas por causa das minhas roupas e minha cara de morto-vivo, mas os olhares preocupados direcionados a mim também, a tensão nessa sala é tão carregada que se fosse possível, acenderia as luzes de um quarteirão inteiro. Respiro fundo e fito meu pai, seu olhar é uma mistura de preocupação e alívio, se eu olhasse pelo espelho veria através dele, veria uma parte de mim que me nego a ser, mas em todo caso, nesse momento sei que tudo que eu quero, é abraçar meu pai e dizer-lhe que é um completo idiota mas continua sendo meu pai, mesmo que eu me enfureça, ele continuará sendo.

-Bem, visto que o irmão de vocês está aqui, podemos começar amore. -Mamma consegue ser indelicada mesmo sendo delicada, nem eu percebo isso, mas eu gosto disso, talvez.

-Eu sinto muito meus filhos, eu sinto por não tê-los contando antes, eu simplesmente não tive coragem ou talvez eu...

-Poupe-me Barão, você tem coragem de matar milhares de pessoas e diz-me que estava sem coragem de contar para seus próprio filhos que está com um pé na cripta dos Bonatero? Poupe-nos papà. -Talvez minha dor de cabeça piore agora, sim eu mereço. Talvez um raio ajudasse também.

-Light, não seja mal educado e muito menos insensato, és melhor que isso. -Mamma retruca, seu olhar frio está no meu e tudo que eu quero é sair daqui, está tudo sufocante demais.

-Insensato, engraçado você mamma, achar isso. -Cerro os punhos, mais bourbon ou vodka, quem sabe whiskey ajude agora, ajude a manter-me com a consciência sã. -Você mais do que ninguém sabe, que não sou nada disso.

-Me respeite Light, eu sou o teu Papà e não darei-te muitas alternativas. Acalme-se e escute-me. -O tom de voz de Pietro Bonatero é um audível aviso para que eu me controle.

O medo aprisiona-nos, é como uma prisão invisível que faz-nos temer o inexistente. Mas o que acontece quando não mais se sente medo, quando a morte é mais bem vinda que a própria vida? A revolta dentro de mim não permite-me pensar direito, por vários motivos, uns dos quais assombram-me todas as noites e sempre que fecho os olhos, por mais que eu não tenha medo, estou em uma prisão, prisão està que faz-me ser o pior que um ser humano pode ser.

-Sempre o fiz papà, e pode até nunca parecer mas eu o respeito, eu o amo e eu o admiro. -Que merda estou á falar? Talvez a mamma não esteja errada, talvez eu faça parte da linhagem dos idiota da família.

Idiota colossal.

Meus irmãos, assim como meus pais olham-me assustados. Falei demais, e se o Günter ouvisse isso, de certeza que eu teria pelo menos dez ossos partidos. Hoje em dia isso já não mais incomoda-me, pelo menos a parte de ter o corpo martelado. No meu mundo distorcido, a dor é mais psicológica do que física, pois quando você sente dor são os teus nervos passando a informação ao cérebro, o cérebro por sua vez faz com que tudo intensifique-se.

O Filho do Barão [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora