Capítulo 3

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  DEPOIS DOS SEGUNDOS DE CHOQUE  ELE FALA:

—Não sabia que carne jogava bola!— debochado

— Pois que fique sabendo agora!, antes tarde do que nunca para adquirir algum conhecimento— sorrio cínica—, Capitão!— falo entredentes

— Senhorita Barbosa, chegou bem na hora— o técnico esboça  um sorriso forçado. Presumo que ele já sabe quem são meus pais.— Galera, essa é Marina Barbosa, nossa mais nova artilheira titular.— a palavra voa de seus lábios como um soco na cara de cada jogador

— Senhor Francisco, eu gostaria de lhe falar uma coisa depois— sorrio estática.

  Sinto a tensão no ar. Consigo tocar a tensão com as mãos, agarrar ela é depois a cortar com uma faca.

— Chico! Isso é injusto!— Maria Rita grita, mimada— Eu batalhei por anos até conseguir ser centroavante titular e essa daí nem participou do primeiro treino e já está escalada!— ela me lança um olhar afiado e mortal

— Talento é indiscutível. Ou você tem ou você precisa passar anos tentando ter, assim como a escalação!— pisco para irritá-la ainda mais, funcionou.

— Sua...— ela tenta vir em minha direção, mas o Capitão João coloca o braço na frente dela

— Maria Rita, eu acompanho Barbosa desde os outros times onde ela jogava e, além da conduta impecável, ela é uma jogadora talentosíssima, então pare de reclamar e vá se aquecer!— Francisco fala com uma expressão serena apesar do tom rígido e músculos tensos

Todos fomos aquecer e eu joguei com um uniforme diferente do deles. Enquanto suas roupas eram opacas nas cores de preto e azul marinho as minhas vibravam em vermelho e preto.

— Uau. Você joga muito mesmo!— uma garota bonita sorri para mim assim que eu sento no banco para hidratar

— Obrigada!— sorrio de volta— Você também é ótima— acrescento, ela responde com um sorriso e anda para longe me deixando sozinha no banco.

— Marina, posso falar com você?— o Capitão pergunta sem o tom de arrogância

— Eu preciso levantar?— João nega com a cabeça— Então você pode falar comigo— ele solta um riso puro.

— Acho que começamos com o pé esquerdo.— senta do meu lado— Talvez devêssemos nos conhecer de novo— ele estende a mão para mim.

— Marina Su...— disfarço com uma tosse seca— Marina Barbosa, desculpa a tosse é que eu gritei muito do treino!— sorrio sem graça

— Tudo bem. Sou João Victisur— o Capitão sorri abertamente.

— Prazer conhecer você, João.

  Tento esquecer o quão merda ele foi, afinal ele é meu Capitão agora, eu tenho que respeitar ele do mesmo jeito que ele tem que me respeitar e fica difícil fazer isso pensando e lembrando o quão imbecil ele foi ao me chamar de carne, mesmo que por força de expressão.

— Tenho que ir... Já está escurecendo e eu vou andando para casa, então...— recolho minhas coisas e jogo dentro da bolsa de treino

— Quer carona?— ele oferece ainda encostado no banco

— Não quero te tirar da rota, onde quer que seja a sua casa— ele dá de ombros.— Até amanhã!— aceno para ele, passo pelo pessoal e me despeço deles

  As ruas estão todas movimentadas, mas no meu estado dúvido que alguém queira ficar perto de mim. Uniforme suado, chuteira suada, cabelo suado, bolsa com roupas suadas, ou seja, catinga pura.

A Arte das PalavrasWhere stories live. Discover now