Primeira parte

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Sentiu uma certa resistência para expandir seu peito, como se houvesse algo comprimindo-o e isso já era o suficiente para tornar a sua respiração mais difícil.  Lentamente seu corpo despertava. Seus sentidos, assim como sua consciência estavam retornando junto com uma dor de cabeça extremamente desagradável. Thomas acordou, mas permaneceu de olhos fechados devido a luz do sol que batia em seu rosto. Apertou as pálpebras e fez uma longa respiração, para que logo em seguida levantasse seu corpo do sofá em que estava deitado.

Lentamente ele abriu os olhos, tentando reconhecer o espaço em que encontrava. Mesmo atordoado e com sua vista turva, Thomas percebeu que o local em que estava era totalmente diferente de qualquer lugar em que já estivera antes. Aquela não era a sua casa e, ao julgar pelo tamanho da sala, a casa não era tão grande.

Ajeitava-se no sofá ao mesmo tempo em que olhava em volta e tentava se lembrar de como chegou ali. Olhou para o chão de madeira, depois para a televisão quebrada em cima da estante em sua frente, depois para o longo corredor no final da sala, mas não conseguiu se recordar de nada. Sua cabeça doía como se tivesse enchido a cara na noite anterior e acordasse de ressaca. Não poderia. Não tinha idade suficiente para beber. Ainda estava no primeiro ano do ensino médio.

Antes que desse o primeiro passo, Thomas sentiu uma dor gritante envolver seu braço direito, fazendo com que desabasse seu corpo novamente no sofá. Enquanto apertava os dentes em uma expressão angustiante, o jovem levantou a manga de sua blusa acima do cotovelo, revelando para si mesmo uma enorme vermelhidão em um local inchado na região do pulso. O estrago parece ser pior dentro do que fora, pensou. 

De repente sentiu um arrepio sob seu corpo. Percebeu naquela hora que talvez o responsável por aquilo estivesse em algum lugar daquela casa, podendo voltar a qualquer instante. Tentando se mover o mais rápido que conseguia Thomas alcançou um ponto cego da sala e ficou em silêncio para tentar ouvir alguma coisa. Após alguns segundos, ele começou a percorrer vagarosamente por aquele espaço, observando qualquer possível movimentação. 

Andou pelos cômodos da casa com extrema cautela, verificando a presença — ou talvez a não presença — de mais alguém que estivesse ali. Após percorrer a casa inteira, descobriu-se que na verdade era bem maior do que pensava ser. O problema era que não havia ninguém além dele ali e o que lhe deixou mais intrigado, era que todas as janelas estavam fechadas de um jeito que não se pudesse abrir, seladas com placas metálicas e madeiras sobrepostas. Thomas foi até a porta da frente e viu que estava bloqueada também, com diversas correntes segurando a porta. A maçaneta parecia ter sido arrancada para que não pudesse forçar a porta a se abrir, mas não poderia nem se quisesse já que qualquer esforço com seu corpo faria seu braço doer.

A medida em que o tempo passava, diversos pensamentos sobrevinham em sua mente para tentar justificar sua presença ali naquele lugar. Pensou ser apenas mais uma travessura de seus amigos ou familiares, mas logo largou esta ideia. Estar preso naquela casa desconhecida não parecia ser obra deles, uma vez que desacordá-lo, machucar seu braço e prendê-lo em um local, era muito trabalho para pouca diversão. Talvez algum experimento com drogas. Absurdo. Até mesmo procurou por alguma câmera escondida que estivesse gravando suas ações naquele exato momento, mas nada. A pessoa que o prendeu ali teve muito trabalho para "preparar a casa".

Não havia como sair dali.

De qualquer jeito, não poderia ficar ali parado, esperando. O jovem se aproximou da janela mais próxima e começou a gritar:

— Socorro, alguém me tire daqui! Estou preso!

Ninguém apareceu.

— Ei, tem alguém ai?! — gritou enquanto batia repetidas vezes nas tábuas de madeira.

Dois lados da portaWhere stories live. Discover now