Acordar

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Abro os olhos levemente. A luz quase me faz ficar cega. Sinto a cama macia em minhas costas e a coberta felpuda em meu corpo.

Estou em uma cama.

Escuto passos e vozes, mas não consigo distinguir o que é ao certo. Sinto a cama afundar ao meu lado e sei que alguém está ali.

Uma mão acaricia o meu cabelo e sinto lábios na minha testa.

Então abro os olhos de vez e olho para o lado. O homem que estava ali era o homem mais bonito que eu já vi. O cabelo comprido mas bem cuidado estava solto e leves lufadas de vento batiam nele. O rosto é maduro e definido, tão brilhante que eu sentia vontade de passar a mão ali. Os olhos cinzas estavam tão cheios de emoção que pensei que fossem explodir. Lágrimas rolavam pelo seu rosto, formando assim um caminho molhado.

Seu sorriso era o que mais iluminava o quarto. Os dentes brancos e um sorriso tão verdadeiro que me fizeram perder o fôlego.

Aqui está Sirius Black, meu marido.

E eu, depois de 13 anos, finalmente me libertei da lembrança e acordei do transe. Sou uma mulher casada com dois filhos e um cachorro.

Tento falar algo, mas a minha garganta arde. Minha boca está tão seca que acho que irá sangrar a qualquer momento.

Sirius percebe isso, porque pega um paninho úmido e passa pelos meus lábios. Ele não fala nada, apenas fica me olhando enquanto as lágrimas corriam soltas.

Ele está chorando de felicidade ao me ver acordada.

Nesse momento, o livro em branco é tudo o que consigo pensar. Porque aquele livro seria exatamente a mesma coisa que eu faria agora. As vezes, as palavras não são precisas para demonstrar o que você sente.

Sirius passa a mão pelo o meu rosto, suavemente. Parece que ele está com medo de me machucar. Sorrio com isso, mas sinto dor no meu rosto. Ficar 13 anos parada pode dar nisso.

Meu marido me olha com tanta ternura que eu me sinto uma tola por não conseguir falar e nem se mexer. Com força, consigo colocar a minha mão sobre a sua na cama, e ele me olha com espanto, depois leva a minha mão aos seus lábios e a beija.

Finalmente em casa.

Finalmente em paz.

As lembranças do que aconteceu antes desses 13 anos invadem a minha cabeça. Me lembro de tudo, de cada detalhe. Me lembro da dor que senti quando Voldemort fez isso comigo. Me lembro de Régulus e de que ele morreu tentando salvar os meus filhos. Me lembro de James e Lily e sinto uma vontade imensa de chorar. Meu irmão, meu querido irmão, estava morto.

James Potter, a minha única família, estava morto.

Mas vendo Sirius ao meu lado, percebo o quanto pior ele passou. Perdeu o melhor amigo, o irmão e quase perdeu a esposa.

Eu o amo tanto.

Sirius aperta a minha mão e a solta, ele levanta da cama e sai do quarto. Quando volta, ele volta carregando um grande cachorro dourado, que põe na cama e logo pula pra cima de mim. O cachorro, Loke, lambe todo meu rosto e não deixo de sorrir com isso.

Me lembro de Loke. Lembro que eu implorava para Sirius comprar um cachorro dourado porque eu achava lindo. E aí está ele, maravilhoso.

Então, depois do surto de Loke, ele se acalmou e deitou nos meus pés, logo escutei um ronco dele.

Três crianças entraram em meu quarto. Pareciam ter cerca de 13 anos cada. E talvez tinham.

Um garoto com cabelo preto e olhos verdes, os mesmos olhos da minha falecida amiga, Lily. Esse então é Harry Potter, o filho de meu irmão. Harry tem uma cicatriz em formato de raio na testa, uma lembrança de que é um sobrevivente.

O outro garoto é loiro como eu, e seu cabelo é desgrenhado com o de Sirius. Os olhos verdes não são como os de Harry, mas sim mais opacos. O garoto tem os meus olhos. Johnny Black, meu filho.

A garota tem o cabelo comprido e liso, como o meu. Mas a cor é de um loiro mais escuto. Uma junção entre o meu cabelo e o de Sirius. Os olhos cinzas estavam brilhantes, eu reconheceria essa cor de olho em qualquer lugar. Ali estava Emily Black, minha outra filha.

Eu tive gêmeos.

Eles começaram a falar tantas coisas que eu fiquei perdida. Não consegui responder nada, mas tentei demonstrar tudo em meus olhares e expressões.

Eu perdi a minha família. Então construí do meu jeito.

[...]

As férias de verão acabaram e eu já estou melhor.

Fecho o chuveiro e enrolo meu cabelo com a toalha rosa com "Black" bordado em letras douradas. Não sou mais Marina Potter, a garota que viajou no tempo com seus amigos, a garota tão ingênua que foi a culpada pela morte do irmão. Sou Marina Black, a mãe de duas crianças lindas e esposa de um homem maravilhoso.

Harry Potter, meu afilhado, está morando com nós. Eu o trato como um filho, é claro. Harry tem tanto de James e Lily que eu até me assusto. Ele é um bom garoto.

Coloco a roupa que eu já havia separado e saio do banheiro. Sirius também está se trocando no quarto. Quando ele me vê, abre um sorriso. Sirius vem em minha direção e me beija. Como eu sentia falta disso, um beijo tão intenso e puro.

ㅡ Eu te amo. ㅡ sussurro quando ele se afasta.

ㅡ Você não tem noção do quanto eu esperei você falar isso.

Eu sorrio e o ajudo a colocar a roupa, enquanto ele resmunga que não é nenhum idoso e que não precisa de ajuda para nada.

Pode não ser idoso, mas resmunga mesmo assim.

Saímos do quarto e descemos as escadas. Emily, Johnny e Harry já estavam nos esperando com seus malões. Eu pego a mão de Sirius enquanto saímos de casa e andamos até o carro preto sedan.

Sirius ajuda os garotos a colocar as malas no carro, enquanto eu e Emily observamos.

ㅡ Mãe, a senhora não sabe o quanto o papai lutou todos esses anos para te tirar daquele inferno. ㅡ Emily comenta assim que Sirius nos olha e sorri.

ㅡ As vezes eu penso que isso é um sonho. A minha família é perfeita. ㅡ respondo e a abraço.

Quando chegamos na Estação King's Cross, atravessamos a plataforma. O trem de Hogwarts já estava ali, e ele era exatamente igual a como eu me lembrava. Lindo.

Algumas pessoas pararam Sirius no meio do caminho, dentre elas todas ficaram assustadas quando me viram. Meu marido me apresentou para todas elas, mas eu não me recordo de nenhum nome.

Quando chegamos perto de um banco de madeira verde, uma família de ruivos também chegou.

ㅡ Eu não acredito nos meus olhos ㅡ comentou a senhora mais velha da família ㅡ Essa é Marina Potter?

ㅡ Sou eu sim ㅡ sorri em resposta e ela pulou em cima de mim para um abraço apertado. ㅡ E a senhora é...?

ㅡ Oh, desculpe, sou Molly Weasley. Sirius deveria ter te contado sobre mim. Sabe, seu homem é meio atrapalhado as vezes.

ㅡ Ei! ㅡ Sirius protestou e todos rimos.

Meu homem. Sirius era meu homem.

A senhora Weasley ficou me olhando e analisando. As crianças ficaram conversando com Harry e meus filhos, todos estavam muito empolgados. O senhor Weasley, que eu acho que é, veio me comprimentar com um largo sorriso.

ㅡ Inacreditável, Sirius. Aqui está ela, em pele e osso. ㅡ o senhor Weasley disse, animado. Eu apenas sorri de volta e concordei.

ㅡ Minha esposa está ainda mais linda, não acham? ㅡ Sirius disse sorrindo, passando o braço pela minha cintura e me puxa mais para perto.

ㅡ Oh, não liguem para isso, meu marido é muito modesto. ㅡ comento rindo e o casal Weasley dá risada.

O trem então buzina e solta fumaça. Está na hora de ir. Os estudantes correm para o trem e meus filhos me dão um abraço apertado e depois correm tmabém. Harry vem por último, mas eu o abraço forte e sussurro em seu ouvido:

ㅡ Toma cuidado, Harry. Ele voltou.

A Marota [Reescrita]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora