Capítulo 2

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Acordo encharcada de suor. Meu corpo está febril e tremendo. Tento me convencer que foi a quantidade excessiva de roupa que coloquei, porém o latejar no meio das minhas pernas me dedura. Estou excitada, desejosa, estimulada e louca.

Estou completamente desequilibrada.

Os sonhos perturbados que tenho, me deixam com uma luxúria extrema. Eles parecem tão reais, tão quentes e cheios de erotismo. O toque em minha pele parece marcar um caminho de fogo, a respiração faz minha pele acessa e o pulsar entre minhas mãos é grosso, monumental e duro como uma rocha. Nos sonhos consigo sentir novamente o meu corpo entregue ao prazer.

Muito diferente de quando penso em qualquer coisa parecida.

O dia que saí com meu colega de trabalho retorna na minha mente. Pensando bem, não tenho certeza se ele aceitaria um convite para um simples cinema.

Entro no banho ainda tentado lembrar como meu objeto de desejo era no sonho, como era o formato do seu rosto, seu sorriso, seus olhos, a cor da sua pele... não consigo. Meus sonhos sempre são nebulosos, cheios de mistério, de escuridão e desejo, muito desejo.

Meu telefone toca me fazendo desligar o chuveiro e colocar uma toalha enrolada no corpo, acabo molhando todo o banheiro. Sei que é minha mãe, não posso deixar de atender.

Sempre deixo meu aparelho por perto, gosto de pensar que é porque se não atendo até o terceiro toque, a probabilidade da SWAT vir verificar se estou bem é grande.

— Oi, mamãe.

— Eleonora, querida, tudo bem?

— Tudo, e você e o papai?

— Tudo ótimo. O que está fazendo?

— Estava no banho.

— Oh! Desculpe, não quis atrapalhar. Quer vir almoçar aqui?

Os almoços na casa dos meu pais são sempre ótimos. Amo almoçar lá. A comida da minha mãe é maravilhosa, especialmente o lombo de vitela com mel e limão, mas nesse final de semana, preciso dar um jeito na carta, tenho que escrever, para isso preciso de tempo e concentração.

— Pode ser semana que vem? Tenho algumas coisas para fazer hoje e amanhã.

— Está tudo bem mesmo, querida?

— Sim, mamãe. Verde.

Falo a palavra de segurança que combinamos depois do ocorrido. Se eu estiver mesmo bem, devo dizer verde. Se estou desconfiada que algo está errado, mas ainda nada aconteceu, devo dizer amarelo e se estou com algum problema, alguém invadiu minha casa, estou sendo coagida ou algo do tipo, devo dizer vermelho.

— Tudo bem. Seu pai está mandando um beijo e dizendo que passará para verificá-la amanhã.

— Amo vocês.

Quase todos os domingos pela manhã, meu pai passa aqui com um convite ingênuo para caminharmos no parque. Sou ciente que o convite não é tão ingênuo.

Apenas invento alguma desculpa para não ir. Posso mudar de ideia no domingo seguinte e aceitar seu convite, é melhor deixar a possibilidade em aberto.

Coloco uma roupa confortável e começo a preparar meu café da manhã. Necessito estar alerta e desperta para escrever a carta ao meu perseguidor.

Separo uma folha rosa perfumada do maço que comprei na semana passada, escolho a caneta com a ponta mais fina que tenho — minha letra fica muito melhor com pontas assim — e sento na mesa da cozinha. Torço para que a luz do sol que teima em passar pela cortina, ilumine não apenas o papel, mas minha mente.

Carta ao Meu Perseguidor - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora