Capítulo 1

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O meu nome é Diana, tenho 21 anos, nasci em Lisboa e sou a sétima de sete filhos se bem que, infelizmente, apenas seis são vivos. Sempre fui relativamente "certinha", isto é, nunca dei muito trabalho em casa, e mesmo que desse ninguém iria preocupar-se ou ralhar comigo.

Todos se preocupavam mais com as suas vidas do que comigo. Afinal eu fui o bebé surpresa aquele que ninguém esperava, aquele que nasceu a mais.

Nunca fui de fazer birras, nem de pedir isto ou aquilo, por duas razões: primeiro porque mesmo que as fizesse nunca ninguém as iria ouvir, como já referi eu era a filha, irmã, neta, sobrinha que ninguém estava à espera, era simplesmente invisível no meio da família enorme, que era a minha; em segundo lugar porque com "seis" irmãos mais velhos desde cedo aprendi a ter que partilhar tudo.

Devem estar a perguntar-se: mas se és a mais nova, não devias ser a mais mimada? Não devias receber os mimos de todos? É devia, porque isso é o que normalmente acontece em famílias normais com os filhos mais novos. Mas não no meu caso, porque a minha família não é normal.

Para além de tudo o que já mencionei atrás, houve um outro acontecimento que fez com que todos me colocassem de parte.  Eu sou gémea, de uma gravidez três. Eu e mais dois rapazes, não vos vou contar já tudo, mas para além de ter sido uma surpresa não fui lá muito bem acolhida. Porém, como disse é uma história que contarei lá mais para a frente.

Bom, mas o que interessa é que até esses mimos que seriam para receber como a filha mais nova nunca tive, e os poucos que recebia sempre tive que aprender a dividir com os meus irmãos. Tendo em conta que os mesmos não eram muito abundantes, pois os meus pais sempre tiveram pouco tempo para esse tipo de "carinhos", raramente eu os recebia.

Mas, não julguem mal os meus pais. O Doutor João Francisco Galvão Teles e a Doutora Maria Pilar Rodriguez de Salles são os dois médicos, lutaram e esforçaram-se muito para serem o que são hoje: ele é Neurocirurgião e ela Cirurgiã Cardíaca. E para terem o reconhecimento que têm hoje, tiveram que prescindir de muita coisa.

Sempre tiveram e ainda têm horários um pouco malucos, isto para não dizer inadequados para uma vida familiar, contudo, sempre fizeram de tudo para estar connosco. Na verdade estavam sempre muito pouco tempo em casa, mas o pouco tempo que tinham sempre foi muito bem aproveitado.

Quando eu e os meus irmãos éramos pequenos, era raro o dia em que os tínhamos os dois em casa ao mesmo tempo. E se isso era algo que incomodava os meus irmãos, a mim nunca me importou. A minha relação com os os meus pais sempre foi...vamos dizer especial. Não pensem que não os amo, são meus pais, e não há filho que não ame os pais por muito que a relação seja complicada. E sei que do seu jeito, na sua forma certa ou errada, eles me amaram. E apesar de tudo o que se passou sei que no fundo eles ainda me amam.

Durante a minha infância, houve alguém com quem sempre podia contar: a minha Bá. Amélia de Souza de seu nome. Uma faz tudo na nossa casa: arrumava, limpava, cozinhava, governava a casa, e ainda tratava de nós. Conhece-nos a todos desde que nascemos, arrisco a dizer que nos conhece melhor que os nossos pais nos conhecem a nós.

Ela sabia o que gostávamos, o que não gostávamos; quem era alérgico à laranja, aos morangos; quem costumava bater em quem, quem fez ou estava para fazer asneira; e principalmente conhecia todas as nossas manhas. Amélia era mais nossa mãe que a nossa própria mãe, sem querer menosprezar a minha mãe ou querer tirar-lhe o papel.

Durante a minha "problemática" pré-adolescência, sim porque eu fui um terror nessa fase, perguntava muitas vezes aos meus pais por que é que eles tiveram tantos filhos? Ou mesmo como tiveram tempo para ter filhos? Sim, eu sei, perguntas inadequadas para uma menina de 9 ou 10 anos, mas, se pensarem um pouco as minhas perguntas não eram totalmente descabidas. Para uma miúda de 10 anos, era algo estranho, porque se eles não tinham tempo para estar em casa, como é que conseguiam ter tempo para nos "fazer"?

Naquele tempo eu nem pensei nas datas de nascimento de cada um de nós. Porque pensando nisso hoje, e analisando bem os meses em que cada um de nós nasceu, acho que todos fomos feitos durante os meses de férias: Natal, Verão e Páscoa. Ou seja, podemos perceber que eles aproveitavam bem as férias para...vocês sabem certo?

Também cheguei a perguntar, já com os meus 15 anos, num dia em que tive uma acesa discussão com a minha mãe, para que é que ela nos teve se nunca os víamos, se nunca estavam connosco. Havia sempre uma cirurgia, uma emergência, um baile de beneficência muito importante, uma entrega de prémio. Tudo era mais importante do que nós, e faziam-no com a "desculpa" de ser o melhor para nós, como dizia a minha mãe "Um dia ainda nos vão agradecer por todos os sacrifícios que estamos a fazer por vocês. O tempo que "perdemos" nestas festas e celebrações iram ajudar-vos no futuro...".

Pois, não sei em que mundo a minha mãe vivia. Ou melhor até sei, vivia e vive no mundo das aparências, onde o que interessa é o quanto tens na conta bancária, que carro tens, em que Colégio os teus filhos andam. Num mundo do faz de conta.

E como uma boa e rebelde adolescente, que não aceitava o facto de não ter os meus pais em casa, sabendo bem como os fazer sentir mal com eles próprios, insistia nesta minha constatação: se não tinham tempo para nós, não nos deviam ter tido. Claro que assim que dizia isto colocavam-me de castigo no quarto sem telemóvel, tablet e computador.

Nunca questionei o amor deles por nós, longe de mim pensar isso. Sempre soube que eles, da sua forma estranha, nos amavam e que realmente acreditavam que nos estavam a ajudar a ter um futuro melhor. E também sabia que as suas carreiras eram importantes para eles, e que eles amavam o que faziam.

E, sinceramente, não os culpo demasiado. Se alguma coisa aprendi com eles foi a perseguir sempre os meus sonhos, por mais difíceis que fossem. E no fundo, eles estavam a lutar pelos seus. Sendo assim eu culpo as hormonas da adolescência por esta inquietude, oscilações de humor e rebeldia. Que nessas alturas entravam em estado de confronto frontal com tudo e todos. Tudo servia para me exaltar e tentar reivindicar algo que achava que devia ter...

Lógico que isso tinha consequências. As quais eu não gostava nem um pouco, mas fazer o quê. Lá dizia o outro: Para toda a acção existe uma reacção.

 Lá dizia o outro: Para toda a acção existe uma reacção

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