Capítulo 7

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No dia marcado Luzia foi até a divisa entre as duas sociedades e esperou pacientemente até que Gustavo aparecesse. Dessa vez — pela primeira vez desde que o conheceu — o garoto não usava o macacão cinza e sim roupas próprias: uma camiseta preta de manga curta e uma simples calça jeans escura. Com um cumprimento contido, os dois saíram andando lado a lado, em direção à sociedade de Luzia.

Caminharam próximos, lado a lado e demorou poucos minutos para adentrarem o mundo dela. Gustavo se admirou com o que viu e passou a observar cada detalhe com entusiasmo.

Não só as mulheres lhe chamavam a atenção, andando felizes e devagar por entre eles com suas roupas coloridas, como também os diversos edifícios de formas extravagantes. Alguns com formatos geométricos, outros em curvas e linhas orgânicas, mas sempre com muitas cores, muitas luzes e muitos outdoors.

Havia também diversas árvores e uma sensação de bem-estar e felicidade que Gustavo não saberia explicar. Tudo parecia ser perfeito. Desde as vias sem buracos, às ciclovias e parques, os estabelecimentos comerciais, tudo era lindo! E as mulheres passeavam sem pressa por esses locais, tão acostumadas com as magníficas paisagens que não mais se importavam.

— Aquilo é uma livraria? — perguntou, apontando para um prédio em formato piramidal na próxima esquina.

— Sim. Quer ir lá?

— Posso? Me deixariam entrar?

— Sim. Se quiser podemos pegar alguns livros para você levar também.

— Sério?

Luzia acenou com a cabeça em concordância e seguiram para o local. Gustavo mal pode conter seu espanto ao entrar no estabelecimento. Sua boca abriu e seus olhos brilharam ao analisar cada centímetro do primeiro andar da livraria. Todo o pé direito duplo e o mezanino eram preenchidos com estantes em formato de ondas que se alongavam por intermináveis corredores. No centro algumas mulheres estavam sentadas em poltronas e puffs espalhados com livros em suas mãos. Outras andavam pelas estantes, olhando as lombadas das obras.

E todas elas notaram a entrada de um ser inferior na loja e se viraram em direção a ele, no mesmo momento. Nem mesmo fizeram questão de disfarçar. Encararam Gustavo com repulsa e medo, variando o olhar entre ele e as outras companheiras mulheres que ali se encontravam,

O garoto se sentiu constrangido e intimidado, mas como Luzia lhe puxava cada vez mais para dentro do local, não teve outra escolha se não ignorar as mulheres e seguir para onde a menina lhe levava. Tentou se convencer que eram só olhares, nada além disso. Porém eles continuavam o perseguindo por todo canto que fosse, mesmo após algum tempo.

Luzia não percebia nada, e continuava inabalável. Mostrava alguns livros a ele e explicava seu conteúdo. Mas Gustavo não prestava atenção. Os cochichos às suas costas eram mais fortes, o medo por ele ser um diferente e o preconceito que aquelas mulheres tinham dele era grande demais para que ignorasse facilmente.

— O que você acha desse livro aqui? — Luzia lhe indicou um livro de capa dura, com detalhes em relevo. — Foi aquele que eu te falei antes, o clássico. Gostou da história? Quer levar?

— Sim. Sim — ele mal entendeu as palavras dela, estava ocupado olhando duas mulheres idosas que cruzavam há alguns metros sussurrando sobre ele.

— Então segura — ela lhe alcançou a obra e andou mais alguns passos, passando os dedos pelas lombadas. — E esse aqui? Quer dar uma lida na sinopse?

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora