pregnant

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- Mãe? Leide? - Chamei uma das duas enquanto abria a porta do apartamento. Estava tudo escuro, então, eu achava muito difícil Leide estar aqui.

Entrei um pouco receiosa, aquele escuro tava deixando o apartamento bem macabro. Não que eu tinha medo do escuro, mas minhas paranoias falam mais alto. Minha linha de raciocínio foi quebrada quando encontrei a sombra de minha mãe sentada no sofá em frente a um copo de Whisky.

Assim que vi aquela cena, percebi que alguma bomba muito grande estava preste a estourar. Baseado em todo conhecimento que eu tinha sobre minha mãe em todos os anos de minha vida, sabia que ela bebia só quando algo deu muito errado.

- Mãe? Tudo bem? - Fui me aproximando lentamente dela como se a mesma fosse um vulcão pronto pra entrar em erupção. - A gente pode conversar agora?

- Sobre o que exatamente? - Suas palavras exalavam sarcasmo.

- Hm, sobre ontem seria um bom começo.

- Ah, sobre você bebendo? - Ela riu levemente. - Acho que o que você anda bebendo ou não, não é um dos meus maiores problemas.

- Mãe, você ta bem? - Perguntei novamente, assustada. Aquele comportamento não era normal.

- Eu to grávida, Lica.

- // -

Eu estava sentada em um banco dentro do colégio ainda processando tudo o que tinha acontecido.

Apenas Tina e Ellen se aproximaram de mim. MB e Felipe assim que viram minha cara resolveram me dar espaço e não incomodar, eu apreciei isso mas ao mesmo tempo senti que eles estavam com um pouco de medo também. Era incrível o que eu me tornei ao olhos dos outros. Uma dinamite em contagem regressiva para explodir. Mas pensando nessa lógica, talvez eu herdei isso de família. Meu pai é um desnaturado ignorante e minha mãe aparentemente agora também é.

Eu ainda não tinha visto Samantha, ou Clara. Eu não estava nem um pouco afim de vir para a escola mas ficar em casa também não era uma opção.

- Mas você realmente não quer falar o que aconteceu? - Tina insistiu enquanto colocava a mão no meu ombro. Eu estava enrolando ela e Ellen desde que elas vieram falar comigo, ruim, eu sei, mas de qualquer forma não posso contar nada pra ninguém por enquanto.

Eu imagino qual a reação delas também.

- Ah Tina, não é meu assunto pra contar sabe? E não precisa de preocupar, não é grande coisa. - Assim que terminei minha sentença o sinal tocou sinalizando que a aula vai começar. - Vamos?

Sentei na minha cadeira e peguei meu material da mochila. Como no dia anterior não prestei atenção em nada, hoje eu tinha pelo menos que absorver alguma coisa da matéria.

Ouvi passos e alguém sentando na cadeira em frente a minha. Nem precisei me virar para saber quem é. O perfume doce era inconfundível. Samantha se sentou e se virou pra mim.

- Bom dia. - Ela disse abrindo aquele sorriso lindo. Retribui com um sorriso fraco. - Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

- Nada demais, não precisa se preocupar. - Eu neguei levemente com a cabeça. - E com você, tudo bem?

- Eu to ótima, ainda mais agora. - Ela piscou e se virou pra frente me fazendo rir levemente. Até que o dia não estava tão ruim.

Os primeiros períodos passaram rápidos, até porquê era aula do Bóris. As aulas dele são as melhores, você nem vê o tempo passar.

Assim que o sinal que indicava o intervalo tocou eu fui saindo da sala rapidamente. Mas, não percebi que havia alguém atrás de mim enquanto eu ia em direção a parte mais isolada do pátio.

Me sentei em um banco e iria pegar o celular que estava no bolso da minha jaqueta, porém, alguém sentou ao meu lado. Eu tinha absoluta certeza de que não era Tina e muito menos Ellen, pois as duas sabem que eu gosto de ficar sozinha em momentos assim.

- Oi! - Samantha disse, parecendo animada. Mas quando viu minha cara, perguntou. - Quer me contar o que ta te incomodando?

- Ta tão assim na cara que alguma coisa aconteceu?

- Nahh, eu só te conheço muito bem. - Ri com o jeito que ela falou. - Mas eaí?

- Ah, umas coisas em casa, nada demais.

- Seus pais brigaram? - Ela tentou advinhar.

- É, tipo isso. - A menina não pareceu acreditar, mas de qualquer deixou pra lá, algo que agradeci mentalmente.

- Bom, como tô vendo que você não ta muito afim de conversar, quer ouvir música comigo?

- Como a gente fez outro dia?

- Uhum. - Ela assentiu me oferecendo um pedaço do fone.

Depois de um tempo, ela estava tomando um suco e eu, desenhando as coisas que nos rodeavam. O recreio era de 25 minutos, o bastante pra mim fazer algo no papel. Alguma banda indie que eu não conhecia tocava no celular, o som era agradável.

Mas, como nada é um mar de rosas, quando o som estridente do sinal atrapalhou a música eu tive que sair do mundinho em que me encontrava. Tirei o fone e guardei o caderno na mochila.

- Desculpa se fiquei 20 minutos falando nada. - Fiquei envergonhada enquanto assistia ela guardar o celular e pegar a bolsa.

- Não tem problema nenhum, de qualquer forma, saí no lucro.

- Ué, como assim? - Perguntei confusa, eu não percebi ela fazendo nada.

- Tive bastante tempo pra ficar admirando sua beleza. - Piscou pra mim. Fiquei sem reação e com certeza estava corando. - Vamos?

- // -

Na volta pra casa eu definitivamente estava bem melhor de como eu estava quando acordei. 

O metrô estava vazio e bem tranquilo, mas o que me chamou atenção foi uma mulher grávida com uma criança no colo, sentada no fundo do trem. Eu devia estar encarando ela faz uns 15 minutos mas tudo que eu consigo pensar nesse momento foi a conversa que tive com minha mãe.

- Eu to grávida, Lica. - E depois de sua sentença a casa ficou em silêncio total.

- Isso é ótimo, não, mãe? - Eu não estava entendendo toda sua melancolia.

Quando não ouvi resposta, tentei novamente. - Já contou pro Luís?

- E como eu contaria isso pro Luís, Lica? - Ela olhou nos meus olhos pela primeira vez naquela noite.

- Hm, não sei, talvez um jantar ou uma festa e "parabéns você vai ser papai"? Eu não sei mãe. - A mulher começou a rir alto quando eu terminei de falar. Seu ato me fez ficar mais confusa ainda, qual a graça disso? - Qual o problema?

- O filho não é do Luís. Acho que se eu tiver que fazer algum jantar, vai ter que ser pro seu pai. - Depois que aquelas palavras saíram da sua boca, eu congelei. - O filho é do Edgar, Heloísa.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 25, 2018 ⏰

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