Capítulo 1

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_ Curti essa bandana, Ang. É nova?

_ Você acha que eu ia comprar uma bandana nova? Tingi ontem.

_ Ah... Ficou legal... Vamos? Depois a gente vai tomar sorvete.

_ Com todas aquelas meninas estranhas? – Angie torceu o nariz.

_ Angie, você tem que entender que na cabeça delas a diferente é você... É você que se veste desse jeito, é você a única garota que joga futebol com os meninos...

_ Elas que são frescas! E eu vou fazer o que se é o meu jeito e eu gosto de ser assim? Eu gosto de ser estranha...

_ Eu te adoro mesmo assim. – ele passou a mão na cabeça da amiga.

_ Que bom! – ela sorriu.

Pouco depois eles chegaram no campo. Angie não se parecia nada com as meninas que estavam ali para ver o jogo. Enquanto todas estavam arrumadinhas, Angie desfilava um cabelão que passava da cintura, há muito sem corte, um bermudão desfiado, que havia sido calça, uma regata básica, tênis surrado, sua bandana, agora laranja, na cabeça e um band-aid azul no joelho esquerdo. Era esse seu casulo.

Olhou para Taylor. Parecia que a cada dia estava mais bonito. Era tão difícil esconder dele o que sentia e tão dolorido o jeito como ele a tratava. Ele não a amava, não como menina. Às vezes, ela se olhava no espelho. Tinha certeza de que ele nunca ia gostar de uma menina como ela, mas nada fazia para mudar, só conseguia chorar e amá-lo ainda mais. Essa era sua vida: amar Taylor e chorar por ele. Se bem que ultimamente ela andava mais felizinha. Ele havia desmanchado seu namoro de quase um ano com Candace.

_ Hey, Angel! – Taylor veio abraçá-la, ao mesmo tempo que Alex lhe saudava com um empurrão no braço.

_ Alex, eu juro que eu não sei como eu consigo ser sua irmã. Não sei como eu não fugi de casa ainda!

_ Por minha causa. – falou Taylor.

_ E por minha também. – disse Zac.

_ Ainda bem que eu tenho vocês de irmãos postiços!

_ É, mas é o seu irmão aqui de verdade que te segura quando você tem aqueles seus desmaios de fome.

_ Alex... – Angie falou em tom de súplica.

_ Que desmaios, Angie? Você não me falou que andava desmaiando. – Taylor se preocupou.

_ Eu não ando desmaiando, Tay. Foi só um na semana passada.

_ E um monte nos últimos meses, né, mana? Mas a cabeça dura não quer ir ao médico.

_ Ai, Alex, por quê você tem que ficar falando essas coisas pra todo mundo?

_ Por quê eu sou o seu irmão chato, esqueceu?

Ela respirou fundo. Primeiro, os desmaios não eram assim tão frequentes, só quando ela passava por uma fase de tristeza muito grande. Segundo, pouco importava também. Se ela desmaiasse, batesse a cabeça, nunca mais acordasse. Talvez fosse até melhor.

_ Angie... – Taylor começou a falar.

_ Não é nada, Tay! Eu juro.

_ A gente conversa mais tarde.

Ela realmente não queria conversar. Conversar sobre sua angústia com o motivo da agonia só aumentava o sofrimento. Mas não foi possível fugir. Taylor a encurralou na volta pra casa.

_ Que história é aquela de desmaios, Angie? Você não tá bem?

Sentada na varanda da casa, com ele a seu lado, Angie mantinha a cabeça baixa.

_ Eu tô, acho que tô.

_ Angie... Desde quando você tem tido esses desmaios? Me fala, Angie. – ele levantou o queixo dela. Angie respirou fundo.

O que ela mais queria era que ele sumisse, mas era ele pedir qualquer coisa, qualquer coisa, e ela se sentia impelida a fazer, como se não houvesse outra alternativa.

_ Sei lá, desde o ano passado... Mas é só de vez em quando... Ninguém tem que ficar sabendo...

_ Como não?! Você tá louca, Angelica?! A gente já tá em julho e você me fala que tá desmaiando desde o ano passado, já tem sete meses, no mínimo! Você tem que ir no médico!

_ Sabia! Pra quê que o Alex tinha que abrir aquela boca grande dele?

_ Angie, eu não lembro de nada da minha vida sem você... Você tava sempre presente em tudo. Por quê você não me contou disso? Você não tem se alimentado direito?

_ Não sei, Tay... Acho que no último ano a gente não tava tão amigo como era.

_ Como assim? Eu te contei tudo o que acontecia comigo, tudo. Até quando eu... – Angie cerrou os olhos e tentou se concentrar em outra coisa. Ela sabia o que era, já tinha ouvido mil vezes, não queria escutar de novo. Prendeu a respiração. - ...transei com a Candace pela primeira vez...

_ Eu sei... – ela falou soltando o ar. – Eu não sei por que eu me distanciei... Sei lá, você tava namorando... Não queria atrapalhar.

_ Mas eu sempre tive tempo pra você... Sempre. Angie, você é muito importante pra mim. Nossa amizade. Eu não sei viver sem você pra me ajudar...

_ Uhum, eu também...

_ Angie, o jantar tá na mesa. –Magdalene abriu a porta e a fechou.

_ Tenho que entrar, Tay... – se levantando, e torcendo a maçaneta.

_ Escuta. – Taylor pegou no seu braço. - Se cuida, tá? E se você desmaiar de novo me fala, por favor, que eu vou com você no médico.

_ Tá...

_ Te adoro, viu, Angie? – ele sorriu.

_ Eu também te adoro.

Ela abriu a porta e subiu direto para seu quarto.

_ Angie, você não vai jantar de novo?

_ Não, tô sem fome! – ela correu pelas escadas sentindo as lágrimas por suas faces.

_ Angelica, come uma fruta pelo menos... – como resposta só a porta do quarto batendo. – Meu Deus, o que essa menina tem?

_ Vai ver ela tá apaixonada. – disse Alex.

_ E por quem? Não a vejo sair, se divertir.

_ Ela é estranha, mãe. Se veste desse jeito, vive trancada no quarto... Pelo menos vivia, até que agora ela tá melhor... Mas só sai pra jogar bola, tomar sorvete ou falar com o Taylor. E olha que ultimamente nem ele tem conseguido alegrar ela...

_ Que coisa, ela não era assim... A Angie sempre foi tão alegre, ativa. Agora é assim: não come, não sai, só emagrece.

No quarto, Angie, aos prantos, tentava fazer alguma coisa. Ligou a TV, nada. Ligou o rádio e obviamente ouviu uma música de amor que a fez querer abrir o peito com uma faca de serrinha. Por fim sentou na cama. A única imagem que tinha na sua cabeça era Taylor falando: "Você é muito importante pra mim...". Não! Não era! Se fosse ele teria percebido como ela tinha mudado, mas ele não percebeu, para ele era tudo igual. Mas não era igual, tudo tinha mudado... Tudo! Mas ela devia estar feliz, ele não estava mais com Candace! E se ele estivesse sofrendo? Ela morreria, quase morreu sabendo que ele estava feliz, se ele estivesse triste ela não aguentaria... Droga! Aquilo tinha que parar... Parar...

Angie já não estava mais consciente quando Zac entrou vagarosamente no seu quarto.

_ Angie, o Tay falou que você tava meio estranha... ANGIE!!!

Zac se deparou com a figura da amiga jogada no chão, pálida.

_ Angie! Pelo amor de Deus! Acorda! ANGIE!!! – ele correu até a porta do quarto. – MRS. TEMPLETON!!! MRS. TEMPLETON!!! Rápido! A Angie! Ela tá jogada no chão!

Primeiro e Único [completa]Where stories live. Discover now