Capítulo 4

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Nathan de Koholt era o mais jovem entre os líderes, depois de um mal súbito levar seu pai à adoecer. Era um jovem admirável, justo e generoso, mas sua antipatia pelos heracs era conhecida. Ele e o Rei discordavam em quase tudo e a crise entre holts e heracs ficou insustentável quando ele proibiu terminantemente que a parte antiga das minas fosse explorada pelos heracs.

O Rei pessoalmente teve seu pedido negado quando o convocou à Maherac, até mesmo ameaçando prendê-lo na masmorra. Chegaram à insanidade de puxar espadas na sala do trono herac. Porém, o holt sempre gostou muito do líder graime, que o aconselhava sempre em relação à liderança e como lidar com reis. O rapaz estava amadurecendo e a prova disso era seu comportamento exemplar durante sua estadia em Maherac. Ele deixava claro que o exército holt estava preparado e lutaria ao lado dos heracs para conter invasões, mas a questão das minas era ainda um assusto delicado entre ele e Elran.

Observando o sol surgindo timidamente depois de dias de chuva forte em Maherac, ainda não estava convencido que seria seguro, mas havia conversado com Lorde Rupert e Lyra, e claro, Sirius estava disposto a acompanhar os príncipes nessa exploração. O que seria ótimo, pois os dois pareciam intimidados pelo General do Castelo Ambar. A amizade entre ele e os príncipes começou no tempo da Academia Marcial, e apesar de ter mais afinidade com Noah, gostava de estar numa batalha com "A Ruína Vermelha", por ser Kane extremamente habilidoso e implacável.

Com Sirius, seu laço de amizade era muito mais forte. Muitas vezes perguntavam se eles eram irmãos, tinha por ele muita admiração. O viu se aproximar usando o manto nas cores graime sobre a vestimenta militar azul escura e dourada, tradicional holt, Legado dos Céus, presa à cintura, realmente intimidante. Seguiram pelo corredor conversando amenidades sobre Maherac, e o quanto havia sido dito naquelas reuniões todas, seguindo para torre onde Lyra estivera trabalhando nos últimos dias com Preston. O Gran-Elder havia retornado a Trendamer e a maga estava se organizando para começar a busca pelo cetro de Arnon Eldriast. Uma jarra de vinho havia sido deixada numa mesa próxima às poltronas onde os dois cavaleiros se acomodaram.

— Faz um bom tempo que não temos a oportunidade de conversar — Nathan comentou.

— Sim, você se tornou um homem ocupado — Sirius riu, concordando.

— E você agora serve à Ihgraime, General, quem diria. — Nathan também riu.

— Eu sempre quis voltar para Ihgraime. Minha família está lá.

— Está certo. E o lorde graime não poderia ter nomeado alguém melhor — Nathan serviu as taças e alcançou uma ao amigo —, mas estou curioso quanto a você e Lyra.

— Continuamos amigos, como sempre — ele respondeu, medindo as palavras.

O líder holt entendia, mas não gostava da situação dos dois. Desde que voltou da missão que tinha como objetivo conter uma das Sentinelas de Loren que havia sido despertada, Sirius passou por uma grande mudança. Entre salvar a vida dos companheiros que o acompanhavam, foi ele quem deu o golpe que matou a Sentinela, mas acabou sendo atingido por sua lança, e quem presenciou a luta afirma que por alguns instantes, ele esteve morto. Legado dos Céus foi o presente de uma divindade, que ele recebeu ao se tornar um Cavaleiro Celestial.

Haviam séculos que Koholt não via um pisando em suas terras. Dizem que nem o próprio Nerar, em toda sua bravura e força, recebera essa honra. Mas o fato era que depois disso, Sirius havia desistido de Lyra. Nathan gostaria que ele voltasse atrás em sua decisão, pois um Cavaleiro Celestial era a realeza de Koholt. Ele pensava na possibilidade de uma união entre ele e Lyra para diminuir o poder do Rei herac, mas não poderia exigir isso de seu melhor amigo em toda vida.

Sirius pensava em como abordar o assunto que sempre criava atrito entre o líder holt e o Rei. Por algum motivo, Nathan não queria que a mina antiga fosse explorada. Não se preocupava em esclarecer o motivo e falar sobre o assunto o deixava irritado. Não tinha a intenção de irritá-lo, mas fora escolhido como mediador daquela situação, e não considerava falhar. Lorde Robert foi líder durante muitos anos, e Nathan mal havia saído da academia quando o vira morrer, sofrendo de um grande ferimento após uma luta contra saqueadores vindos do Mar Azure. Esses piratas usavam bestas, tigres de olhos flamejantes cuja mordida era muito perigosa. A história de como ele havia se colocado entre o Rei e a besta, e lutara bravamente antes de ter o braço quase arrancado pelas presas daquela poderosa fera era contada em Koholt até hoje.

Mas Nathan sabia da outra versão, não contada, de que ele viveu uma dor insuportável durante dias, e que nem mesmo Lorde Rupert conseguiu achar uma cura para aquele ferimento. Nos últimos dias, ele delirava, envenenado, e se tornou agressivo, beirando à loucura. Lorde Robert morreu após algumas horas depois de uma breve melhora. Nathan, dias depois, fora aclamado líder, e diante da confiança dos holt, assumiu o lugar do pai.

Talvez por achá-lo muito jovem, o Rei resolveu interferir em toda decisão que ele tomava, inclusive com relação ao comércio de armas e recursos com outros reinos. Tomava-o como ingênuo em questões diplomáticas, e ainda o acusava de fazer interações prejudiciais ao reino, visto que todo lucro ficava em Koholt. Depois de tantas exigências e mensageiros indo e voltando, o Rei convocou o líder holt à sua presença em Maherac. Ainda que contrariado, Nathan acabou indo encontrá-lo para uma reunião onde não concordou com o tom e nem com os termos reais. O Rei enviaria um conselheiro herac para que lhe servisse de tutor, tornando-o assim, ciente de como as coisas funcionavam em Ambarys. Enviaria uma equipe para ajudar na avaliação dos recursos, e chegariam a um acordo de quanto iria para a capital, e os portos estariam fechados para o comércio de armas, diminuindo as chances de que o reino fosse atacado novamente.

Nathan, claro, sentiu-se afrontado com a forma de controle que o Rei queria ter sobre Koholt e lhe disse um sonoro não. O resto da história, todos já sabiam. Ambos sacaram as espadas e houve um breve embate, que chegou ao fim quando oficiais de ambos os lados acalmaram os ânimos e tiraram Nathan das vistas de um Rei irritadíssimo. Muitos acordos aconteceram depois daquele dia, geralmente intermediados por Lorde Rupert, que era sempre uma boa influência tanto para o Rei, como para Nathan. Mas a verdade é que o Rei tinha a tendência de criticar e discordar de Nathan, que por sua vez não lhe poupava desagrados.

— Há riscos nessa exploração, Sirius — ele disse, aparentemente calmo. — Vários pontos da antiga mina a ponto de desabar.

— Eu entendo sua preocupação, mas tudo pode ser preparado para que possamos explorar com segurança — o General falou. — Lady Marian mapeou o local recentemente, e podemos seguir pelo túnel à direita. Existem outras maneiras de se chegar à espada, se um mago experiente nos acompanhar.

— Muitos locais foram lacrados. Temos tido problemas com selos dentro das minas — ele finalmente falou o que o incomodava.

— Você deveria ter reportado isso, Nathan. — Sirius agora estava realmente preocupado.

— E deixar Elran enviar seus especialistas e tomar as minas holt? — O holt começava a se irritar. — Seu Rei é arbitrário.

— Nosso Rei, Nathan. Não importa o quanto você discorde da forma como ele conduz o reino, ele é seu Rei também.

— Quero garantias de que ele não vai se intrometer na minha liderança.

— Eu não posso lhe prometer nada até que os príncipes tirem suas próprias conclusões — Sirius disse, esperando que ele não saísse batendo a porta em direção ao conselho naquele momento.

Sirius viu seu amigo levantar-se e andar pela torre, pensativo. Esperava que ele compreendesse no que estavam envolvidos. Não tratava-se de uma disputa entre ele e o Rei. Era uma grande ameaça que deveria ser contida, e dependia da colaboração de todos. O Rei ficaria grato pelo exército holt, mas seria muito apreciado o esforço dele como líder na busca pela espada do herói. Nathan pensava que seriam pelo menos dois dias e meio de viagem a Koholt e mais alguns dias de planejamento sobre a exploração. Não poderia negar esse pedido a Sirius, mas odiava ter que ceder ao Rei. De qualquer maneira, teria que dar explicações sobre o que estava dentro da mina.

— Preparem-se para a viagem. Vamos às minas de Koholt!

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde as histórias ganham vida. Descobre agora