is this a date?

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Depois de um tempo de conversa, a mãe de Tina ligou e a mesma teve que ir embora. Resolvi ficar, definitivamente não queria ir pra casa. Enquanto terminava meu suco, comecei a desenhar. Logo meu esboço foi se tornando em algo parecido com um rosto, talvez, e então percebi que todos aqueles riscos estavam se tornando os contornos do rosto de Samantha. Eu me assustei. A gente só ficou uma vez, além de eu mal conhecer ela. Samantha sempre foi melhor amiga de Clara e esteve no meu ciclo de amigos mesmo que a gente se falasse pouco. Fechei o caderno e fui em direção a saída.

O problema foi que, quando eu passei pela saída, trombei em alguém, provavelmente uma menina, pelos cabelos.

- Merda! Não olha pra onde anda? - Falei irritada enquanto abaixava para pegar meu caderno.

- Desculpa, foi sem querer. - A voz dela era inconfundível, principalmente para mim. Na hora que me levantei, vi seus olhos castanhos me fitando, com culpa, o que me deixou mais arrependida.

- Samantha! Desculpa eu por ser grossa, tô em um dia ruim.

- Quer comer alguma coisa e conversar? - Perguntou ela sorrindo de leve e afagando meu braço.

- Olha, eu não to muito afim de conversar, mas comer eu aceito. - Respondi colocando minha mão em cima da dela.

A gente entrou de novo, ela pediu um misto quente e eu um pedaço do bolo de chocolate que eu tava babando vendo desde que entrei na cafeteria.

Falamos de tudo, desde arte até aquecimento global, sim, aquecimento global. A cada coisa que eu aprendia sobre ela, ela se tornava mais interessante.

- Mas eai? Tu realmente não quer falar do que aconteceu pra você ficar tristinha assim?

- Ah, não foi nem grande coisa sabe? Depois da festa de ontem eu cheguei cheirando bebida por causa da K1, da treta que eu tive que emprestar minha jaqueta. Ela achou que eu tinha bebido sendo que eu fiz um acordo com ela de beber 4 vezes no mês no máximo. - Eu contei passando as mãos em meu cabelo, relembrar do que aconteceu e o fato que ainda preciso conversar com minha mãe me estressou um pouco. - E eu já bebi essas quatro vezes nesse mês. Enfim, ela ficou brava e falou algumas coisas que me machucaram sabe?

- Ah Lica, não fica assim por causa disso, ela se enganou. O negócio é você conversar com ela e explicar tudo, na hora ela se precipitou e nem quis dizer as coisas que falou. - Samantha colocou sua mão por cima da minha na mesa e continuou. - É assim mesmo, as vezes a gente fala as coisas em pensar duas vezes e se arrepende.

- Eu sei, Sami, mas mesmo assim não sei se quero conversar com ela agora.

- Então não converse ué! Tira um pouco seu tempo. Na real, o que tu acha de passear um pouco comigo?

- Agora? - Fiquei um pouco surpresa com sua proposta. Não que eu não tenha gostado.

- É, por que não?

- Beleza, eu aceito. - Sorri pra ela, curiosa.

Saímos da cafeteria assim que terminamos de comer. Ela insistiu em pagar já que tinha convidado, mas eu insisti em pagar minha parte, o que deixou ela um pouco emburrada.

- Hey, não fica assim, você pode ser romântica outra hora. - Falei rindo e beijei a bochecha dela.

Ela parou de ficar emburrada na hora.

Passamos pela estação de metrô, e esperando um pouco logo o trem chegou. Ela não me contou direito pra onde estávamos indo. Paramos em uma estação e ela já foi me puxando para fora. Andamos um pouco até chegarmos no Parque do Ibirapuera.

Obviamente eu já tinha vindo aqui mas a escolha de Samantha me trazer aqui foi o que me deixou intrigada.

- Hm, interessante, mas ainda não entendi o que a gente pode fazer aqui? - Comentei enquanto a gente passava por um dos portões, entrando.

- A gente pode andar um pouco, conversar, ouvir música... relaxar. Eu não tive muito tempo pra planejar isso. - Ela riu envergonhada. - É só pra matar um pouco de tempo não é?

- Nossa... não teve tempo de planejar um encontro comigo? - Eu fingi uma cara de ofendida enquanto olhava pra ela triste.

- Eu tive a ideia aquela hora mesmo, e... Você tá tirando comigo não ta? - Samantha me empurrou de leve, corando. Não consegui segurar e comecei a rir. - Mas, encontro é?

- Não sei, você convidou, quem sabe é você não? - Me aproximei e abracei ela de lado. Continuávamos andando por um caminho de pedregulho no meio do parque.

- Minha resposta é... - A menina fingiu pensar enquanto sorria pra mim. - Não, por enquanto. - Arqueei as sombrancelhas, em um misto de surpresa e talvez decepção. Que tenho certeza que ela percebeu. - Me expressei errado. Ainda não, eu quero te levar á um encontro em que eu consiga pensar antes. Te agradar é tão difícil. - Samantha revirou os olhos e suspirou. Comecei a rir e a puxei até um banco para sentar.

Ficamos ali por um tempo, conversando e até tomando sorvete depois de um senhor passar vendendo.

Já estava escurecendo e as pessoas também estavam indo embora. Percebi que eu teria que sair daquela bolha onde tudo estava perfeito e ir para casa. No momento se encontrávamos sentadas em baixo de uma árvore do parque, ouvindo música no celular dela. Cada uma usando um pedaço do fone de ouvido. Tirei o mesmo e aquilo chamou atenção de Samantha, que me olhou confusa.

- Que foi?

- Já ta ficando tarde, preciso ir. E a essa hora minha mãe já deve estar chegando. - Falei fechando os olhos cansada.

- Entendi, vamos então, eu te deixo em casa. - Ela levantou e ofereceu sua mão para me ajudar.

- Nem precisa, você mora longe não mora?

- Não muito, e eu posso muito bem pegar um táxi. Vai, vamos e para de contestar.

Voltamos a estação de metrô, que estava enchendo, já que agora quem trabalha está saindo do serviço. Chegamos sem complicações e depois de andar um pouco já estávamos em frente ao meu prédio.

- Obrigada, de verdade. Eu tava precisando disso.

- Que isso, você tava precisando espairecer um pouco. - Ela disse mostrando aquele sorriso lindo. Quase morri ali na hora.

- Bom, já vou entrar então. - Eu fui entrando quando o porteiro abriu o portão.

- Hey, você esqueceu de algo.

- O qu... - Foi impossível eu terminar minha frase pois seus lábios já se encontravam nos meus.

Foi um selinho simples, e rápido.

- Agora sim, tchau Lica! - Samantha se soltou e começou a andar, indo embora, sem olhar para trás.

In the dark | limantha Where stories live. Discover now