A primeira vez que te vi

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Aquela visão era de tirar o fôlego. Me lembro que desde criança, eu sempre sentava na varanda do meu quarto e ficava admirando o nascer do sol, mas hoje o céu estava diferente de tudo o que eu já havia visto, era tão puro tão profundo; o começo do dia de hoje parecia dizer algo com suas cores vibrantes, era tão bonito, queria poder pintar, mas, não ficaria fidedigno, jamais faria jus a essa obra divina! O céu parecia ter sido pintado com uma aquarela sem fim, as cores variavam do azul cobalto ao laranja. A lua ainda aparecia, mas seu brilho estava se apagando aos poucos, o sol que estava nascendo complementava a bela visão.

-ah, como tudo pode parecer pequeno ao lado desse céu, queria que meus problemas também.- disse para exatamente ninguém.

Porém, aquela bela vista não foi capaz de me fazer esquecer dos últimos acontecimentos. Tive insônia e não consegui dormir mais do que quatro horas, ou será que foram duas? Ontem não foi um dos meus melhores dias. Queria poder dizer que estava preparada para o que irá vir, mas não posso mentir para mim mesma, eu tenho medo, não só por mim, mas pela minha irmã. Temo por ela, e me sinto incapaz de não poder fazer nada por ela, ontem pela manhã quando ela entrou no meu quarto apreensiva e com o olhar vago, eu pude perceber que algo não estava certo. Ainda posso reviver aquela cena... O olhar tristonho e o suspiro sofrido, acertaram em cheio na parte emotiva do meu coração.

(...)

Estava de manhã e eu ainda continuava deitada na cama. Esse era uns dos meus momentos favoritos: enrolar para "acordar", "morrendo de preguiça" como se dizia. Até que baterem na minha porta.

Jullia pos a cabeça na soleira da porta e viu que eu estava acordada e então entrou.

Apenas sorriu fraco na minha direção.

-Mamãe pediu que eu viesse avisar que o desjejum está pronto. - sua voz, não tinha a alegria de sempre.

Algo aconteceu.

Primeiro ela vem toda tristonha e sem o grande sorriso de bom dia e agora a voz que mais parece um sussurro. Se eu conheço minha irmã eu apostaria todos os meus livros que acontecendo alguma coisa com ela.

Sempre foi assim, principalmente quando éramos crianças e algo atormentava Jullia, ela vinha até o meu quarto e juntas nós tentávamos solucionar da melhor maneira possível, claro éramos crianças e bem o solucionar não era tão solucionado se é que vocês me entendem... Bem a verdade é que já aprontamos muito.  Eu amo minha irmã! Sempre fomos unidas, mesmo com as brigas, e foram muitas, levem em consideração o fato de sermos gêmeas e termos que dividir, nos vestir iguais e ainda por cima sermos "confundidas" um com a outra, a pré adolescência foi uma barra, bem sobrevivemos, ela sem uma parte do cabelo e eu com a maioria dos meus vestidos queimados... Bons tempos. E nisso leva ao "somos idênticas por fora, mas por dentro somos tão diferentes!".

Eles definem Jullia como "o orgulho da família" ou "vivaz" enquanto eu sou a "simpática" ou "misteriosa". Ela gosta das reuniões e chás da Alta sociedade e daqueles vestidos bufantes cheios de laços e sempre com cores fortes, ela diz que é pra dar uma aparência mais sofisticada e mais velha. Enquanto eu prefiro meus livros, passeios ao ar livre e vestidos sem espartilho com cores não chamativas mas que sempre me lembram cores da natureza. Não quero parecer sofisticada ou mais velha, eu só quero parecer eu mesma, sem a sombra da minha irmã.

Mas o que nos diferenciava eram as cores de nossos olhos, enquanto o azul dos olhos de Jullia eram escuros, os meus eram tão claros que às vezes pareciam ter a cor cinza. O resto, cabelos ruivos, pele clara, nariz, boca eram todos iguais! E as únicas pessoas que conseguem nos diferenciar são as nossas damas, papai e mamãe. Poxa nós nem somos tão iguais assim! Eu tenho sardas! Poucas mas tenho! Por que ninguém nota?

A PRIMEIRA VISTAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora