Lembrança e caminhão

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Agora estava de manhã, talvez fosse umas seis e meia ou sete quem sabe, o sol já nascia pude ver isso através da claridade que
entrava em algum ponto do galpão. Abri meus olhos lentamente esperando que não fosse mandada dormir novamente mas bem não havia ninguém ali e pude ver que a porta estava meio aberta o que explicava a claridade.

Ouvi vozes vindas de fora, risadas e palavras sujas a respeito de mim e das meninas, será que nenhum deles tinha esposa? Droga! Por que não nos ajudavam? A resposta era mais clara que água, porque Juan era rico e poderoso os pagava muito bem para ficarem de boca fechada e alem disso poderiam ficar vendo garotas nuas, tudo o que esses porcos adoravam. Fechei meus olhos tentando por sorte ficar surda para não ouvir mais nada daquilo, mas acabei por me envolver em uma lembrança da qual poderia me ajudar a entender o porque estava ali.

Alguns anos antes

_------_ Dá pra esperar só um minutinho?

Resmunguei um tanto sonolenta, Samantha se pudesse já teria quebrado a porta e entrado feito uma louca para dentro do meu quarto.

_------_ Não Isabela, agora dá pra abrir logo essa merda dessa porta?

Revirei os olhos, levantei da cama da qual estava dormindo a cinco minutos atrás, quando por fim abri a porta Samantha entrou como um furacão para dentro do quarto. Ela se jogou na cama, pelo barulho que a pobrezinha tinha feito meu único pensamento foi "Samantha quebrou minha cama", fechei a porta e logo depois abri a janela do quarto, me sentei na cama e olhei para ela. Samantha me olhava sorridente enquanto enfiava o celular na minha cara me forçando a ler algo que estivesse lá escrito.

_------_ O Nathan, lembra dele? Ah Isabela, leia isso que ele mandou, leia leia! Peguei o celular para ler a tal mensagem, não lembrava de Nathan algum mas afinal não era surpresa. Tudo que saia da boca dela, eu não dava a menor bola às vezes eu dava claro afinal Samantha era uma das minhas únicas amigas. Na conversa tinha alguns corações e vários elogios, não me era surpresa afinal Samantha era linda. Larguei o celular na cama com uma cara entediada, sério que ela tinha me acordado para ver aquilo? Tudo bem que Sam ficava eufórica quando o assunto era garotos, mas por favor!

_------_ O que tem demais nisso?

_-----_ Bem... O que você não viu é que, ouve bem, ele quer se encontrar comigo! Sabe aquela boate que abriu a algumas quadras do shopping? Aquela da qual te falei ontem? Então... Vou me encontrar com ele sabado a noite!

_------_ Samantha espera aí, você quer ir a uma boate, sozinha, se encontrar com um cara que pode ser, só deus sabe o que, ainda mais sendo menor de idade? Você nem conhece esse tal de Nathan! E se ele for sei lá, algum tipo de maníaco?

_------_ Pelo amor Isabela, você está ficando paranóica garota. Eu não vou sozinha bobinha, você vai comigo! Além disso a vida real não é nem um pouco parecida com esses livros seus e nem esse canal de TV que você assiste, ele não é um assassino. Será que não dá pra confiar um pouco em mim?

Respirei fundo, claro que era, muito pior na verdade mas discutir isso com Samantha não estava nos meus planos. Falei um "Tá, que seja" e ela se destrambelhou a falar os detalhes. Sair também não estava nos meus planos, nunca esteve, okay eu era uma garota crescidinha mas qual é, agora todas as garotas de faixa etária entre quinze anos e dezenove são obrigadas a sair, beber e ficar com pessoas desconhecidas?

Hoje

Aquela possibilidade nunca tinha me ocorrido, mas e se fosse ele? Fazia tempo que não pensava em Samantha então deve ter sido por isso que as lágrimas corriam feito rio pelo meu rosto. A porta foi escancarada e os brutamontes entraram no galpão, sequei as lágrimas e fechei os olhos. Ouvi barulho de alguns cadeados sendo abertos e abri os olhos tão ligeiro que fiquei impressionada com minha capacidade.
Ouvi algum automóvel chegar, três garotas, Marina, Cláudia e Annabella tiveram suas celas abertas, os senhores babacões as levaram para fora e depois voltaram, pegaram mais três garotas... Não durou muito até que todas estivessem lá fora, o último rebanho era eu e Lúcia. Quase chorei ao ver a estrada de chão e as árvores, parecia uma asmática respirando o máximo que podia de puro, meus olhos novamente começaram a me trair e as lágrimas desceram.

_-------_ Que lindo a princesinha chorando, quer um lencinho de papel?

Um dos homens zombou de mim e pra finalizar o seu sarcasmo, soltou uma risada. Que raiva! Fui praticamente jogada para a parte de trás do caminhão de mudanças por ele, as meninas estavam lá umas chorando, outras rezando, não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que todas nós estávamos com esperanças de sermos soltas. Uma grande idiotice. Assim que a porta se fechou segurei a mão de Lúcia como uma criança de cinco anos.

_-------_ Você sabe o que está acontecendo?

_------_ Bom, não deve se preocupar com isso, Juan não é louco suficientemente para nos levar direto a morte...

Lúcia se abaixou um pouco e procurou a minha testa para depositar um beijo ali. Estava escuro portanto não consegui ver qual foi a expressão que estava no rosto de Lúcia, mas sua voz estava calma o que me levava a crer que ela estava certa, Juan podia ser pedófilo e o que mais que quisesse, mas assassino ele não era. Imagino por um momento o senhor certinho ordenando os seguranças a nos matar, mas isso seria loucura então essa probabilidade estava descartada assim como a de que estávamos livres afinal eles nunca iriam correr o risco de serem denunciados a polícia. Mais uma vez a lembrança invadiu a minha cabeça, e se Juan fosse o tal Nathan? Ah merda, os nomes até que eram parecidos...

Isabela: História de uma garota presa.حيث تعيش القصص. اكتشف الآن