5 ANOS DEPOIS

42 4 5
                                    


Isso que você leu foi só o começo, o começo de cinco anos perdidos, de cinco anos de dor e desespero, de tortura e de lágrimas. Espancar era só a ponta do iceberg, eles nos davam choques e se não "seguimos as regras" ficávamos sem "comida", que era nada mais nada menos que água e pão seco, por uma semana. Durante cinco anos meu corpo foi usado como queriam, sessenta choques, oitenta e sete tapas não só no rosto como em todas as partes do corpo, espancada. Eu e mais quinze meninas que tinham virado minha família, minhas amigas, a única coisa com que podia contar, Juan o homem de aparência bonita e olhos azuis vinha todas as noites para uma "visitinha" cada dia era uma garota, a mais velha do local era Lúcia com trinta e cinco anos, já a mais nova era Annabella com quatorze, durante cinco anos que fiquei trancada em uma jaula pude as conhecer melhor, cada uma tinha sua história. Annabella tinha vindo para uma entrevista de emprego, seus pais a abandonaram com dois anos e quem cuidava dela era uma tia velha, Annabella chegou no galpão a alguns meses mais perdida que eu, o triste era saber que esses sociopatas assassinos, porcos, escrotos e o que mais que fossem faziam as meninas de ratos para então caírem em sua ratoeira de tortura sexual, Lúcia estava ali a mais tempo que todas nós, ela era uma ex namorada de Juan e quando descobriu sua aventura nojenta terminou o relacionamento, mas ele não aceitou muito bem e então ela veio parar aqui, Lúcia estava aqui a quinze anos, suas histórias sobre as meninas que passaram por aqui me causavam pesadelos todas as noites.

De noite antes de dormir pensava em Rodrigo, em como estaria feliz com sua esposa ou sei lá, em como meus pais já tinham perdido as esperanças de me encontrar, em como Samantha se sentia culpada por ter me levado aquela maldita festa, nos primeiros dois anos rezava todas as noites para sair daquele lugar, mas onde estava Deus quando fui sequestrada? Onde estava Deus quando fui espancada? Resolvi parar de acreditar em uma figura estúpida criada pela igreja católica. Onde estava Deus quando Annabella caiu naquele inferno? Seus gritos eram os piores que meus ouvidos ouviam, ela chorava e quanto mais chorava mais apanhava, era regra. Regra criada por Juan, para satisfazer seus desejos sexuais, cada grito parecia o estimular mais e mais.

Sentir medo? Não eu não sentia medo, sentia ódio, ódio que aumentava a cada vez que ouvia os gritos, meus gritos, os gritos de Annabella, de Lúcia, de Marina e de todas nós.

Hoje era o dia de Annabella, Juan entrou no galpão e pude perceber que o sol já estava se pondo, como sempre, Juan entrou e com um sorriso convencido daqueles que me davam arrepios e medo caminhou até a jaula de ferro onde Annabella estava trancada, com dois cadeados. A abriu com as chaves em seu bolso, ela até tentou se esgueirar dentro da pequena jaula, mas Juan a puxou pelos cabelos fazendo a mesma cair no chão, os dois seguranças a pegaram e enquanto um deles a segurava o outro amarrava as novas cordas em seu pescoço, pés e mãos, Juan começou com um tapa de leve e depois começou. Fechei meus olhos, não queria, não podia escutar tudo aquilo de novo, engoli o medo e a raiva que estava crescendo. Hoje durou mais que os outros dias, o barulho era imenso, podia ser só impressão, mas tinha certeza que estava durando mais tempo. As lágrimas escorriam, com vontade, desciam como se estivesse prestes a fazer um rio só com elas. Uma chicotada na barriga para finalizar e tinha tudo acabado novamente, abri meus olhos molhados e olhei para os desgraçados que desamarravam a corda e a deixavam livre para a voltar a sua cela como um cãozinho.

----- Hoje minhas queridas flores serão recompensadas, hein o que acha Carlos? -Juan perguntou a um dos seguranças, seu amigo de infância, um brutamontes de cabelo loiro encaracolado e olhos verdes, sempre com um sorriso de nojo.- Elas estão fazendo um bom trabalho? -Carlos olhou para nós.

----- Elas são umas vadias, mas se você não der comida as porcas elas podem ficar bravinhas... 

Juan deu risada devidamente satisfeito com a resposta do escroto de seu amigo, que nojo! Ah que nojo! O resto dos seguranças entraram com uma pequena garrafa de suco para cada uma e vários doces, doces saborosos muitos que nunca tinha experimentado ainda quando não tinha vindo parar nesse inferno.

----- Mas que merda é essa? - Sussurrei olhando para Juan, ele mandou-me me calar, caso contrário ficaria sem comer por um mês. Suspirei, os seguranças jogaram para dentro da cela de cada uma a mesma comida e a mesma garrafa com suco. Assim que o liquido doce do suco chegou na minha garganta comecei a tossir, o corte do meu lábio provocado uns dias atrás pela esbofetiada de um dos seguranças doía, comi como se nunca tivesse comido e no final minha barriga roncou pedindo mais, mas sabia que não iria ter esse "mais".  Uma hora depois Juan foi embora, não nos deu explicação do porque estava nos dando aquela comida, nem qual seria seu próximo plano, mas iria descobrir logo. 

Isabela: História de uma garota presa.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora