Capítulo 2 "Fez um grande e crescente esforço, o que a surpreendeu..."

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Interessante esse encontro de velhos amigos. Amigos que entravam na casa dos quarenta anos.

Sam posicionou seu corpo pra mais perto da janela. Fabiana apenas o seguiu com os olhos. Fred se mantinha em pé com os ombros colados no batente da porta. Estava impaciente, tinha que sair. Só de observar sua namorada e seu amigo sabia que o encontro demoraria.

Como um leve e rápido estalo de língua anunciou que sairia daquele lugar naquele momento a fim de resolver alguns assuntos inacabados.

O silencio percorreu ainda alguns segundos naquele quarto frio que os raios solares matutinos tímidos esquentavam o ambiente.

Como foi a sua estadia no Rio de Janeiro, disse Fabiana ainda em tom tímido como se conhecesse Sam naquela manhã.

Estive um tempo com meu primo JB. -respondeu sem dar muita importância ao momento constrangedor que ambos compartilhavam.

Sam voltou seu olhar para sua amiga. E lembranças lhe ocorreram. Sentiu uma angustia crescentes. Vários sorrisos platônicos foram engolidos em seco. Seus olhos se detiveram por um tempo nas mãos tremulas de Fabiana. Quando se deu conta, seus pés andavam na direção da amiga fazendo com que a mesma estremessesse de ansiedade. Deparou-se segurando as mãos macias de Fabiana e um sorriso compreensivo ganhou um lugar de destaque em seu rosto severo. Passou sua mão sobre os cabelos de Fabiana e seus olhos brilharam quando reconheceram vestígios só que agora crescente do piebaldismo por conta da idade de Fabiana. Seus olhos pousaram agora no rosto tenro e terno da amiga.

A voz de Fabiana faltou. Fez um grande e crescente esforço, o que a surpreendeu, por fim, conseguiu falar.

- Vim te buscar para trabalhar no meu mercado. Vou te dar a vaga de empacotador. Não temos o costume de contratar pessoas de mais de vinte cinco anos para essa função de empacotador. Estou fazendo isso por conta da nossa amizade. - disse ela em tom empresarial.

Sam deixou um sorriso de gratidão escapar.

- Não pretendo ser um empacotador. Não irei tirar essa vaga de nenhum jovem, mas gostaria de trabalhar como um faz tudo, uma espécie de zelador. Se você concordar é claro.

Fabiana sorriu diante da pró atividade do amigo. Era perfeito.

- Ok, estamos de comum acordo então.

Sam soltou a mão da amiga e o clima se tornou de patroa e empregado, não mais platônico.

- Irei descer agora. Espero você no meu carro. - disse ela saindo do carro.

Sam a acompanhou com o olhar. Ambos sentiram uma antiga faísca crescente percorrer em seus corpos.

Levou apenas treze minutos para Sam mudar de roupa e tomar o desjejum.

Sam aproximou do carro de Fabiana um Volvo XC60. Fabiana destravou a porta e deixou o amigo entrar. Em silêncio e pensativa girou a chave do carro e ganhou as ruas de Santa Rosália.

Em exatamente vinte minutos o carro chegou ao seu destino. Sam reconheceu o lugar, porém a fachada era outra. Lembranças lhe ocorreram.

O comércio em si era um negócio de família. Começara com uma vivenda, passando para uma padaria até chegar ao que era agora, um mercado. Enquanto percorriam os corredores Fabiana contava às transformações que o negócio de família sofrera com o passar dos anos. Sam estava sim familiarizado com boa parte da história empresarial da família Lorena. Era mais uma história motivacional de uma das grandes famílias Sorocabana. Era sim uma história inovadora, ao menos para quem vivesse na época em que foi escrita, a avó de Fabiana que tinha o mesmo nome vencerá na vida superando toda expectativa e criticas negativas ligadas ao machismo da época, vencera na vida. E hoje graças a essa perseverança Fabiana vinha dirigindo uma micro empresa familiar.

Lágrimas Sangrentas - A História de Sam RoddatamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora