4- MUDΔNÇA CONSTANTΞ

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  Eu tenho em mim a constante necessidade de mudar o tempo todo. Seja nas minhas roupas, no que eu como, no meu cabelo ou comportamento. Se não fizer isso, é como se estivesse faltando algo, como se eu estivesse incomodado comigo mesmo e não conseguisse me expressar.

Se eu tiver que escolher um ano para dizer qual foi o pior, eu diria 2015. Não é importante entender tudo o que aconteceu naquele ano, mas é importante entender algumas das coisas e as consequências disso.
31/12/2015- Eu estava com a minha família. Os adultos no terraço, meus primos no quarto e eu na sala, olhando para a TV e vendo os fogos de artifício. Deu meia noite, todo mundo se abraçando e lá eu continuei. Segundos depois, só lembro de estar olhando para o nada e começar a chorar, sem parar. Eu queria parar, mas não conseguia.
Naquele ano, com tudo o que aconteceu, eu tinha me tornado uma pessoa arrogante, ignorante, fria e intolerante. Não ligava mais para nada, Eu só queria morrer.
É difícil olhar para mim no passado e ter que escrever isso, afinal, eu só tinha 14 anos. O que um pirralho de 14 anos passou para chegar ao ponto de querer morrer? Se fosse outra pessoa falando isso, eu não levaria a sério, mas eu sei o que eu passei, eu sei o que se passava dentro da minha cabeça, também sei que naquela época, eu não fazia ideia. Imagine uma criança com todos esses problemas e não tendo noção do que está acontecendo. Completamente perdida...

Só uma pessoa ficou do meu lado e continua até hoje. Sinceramente, não entendo por que. Teve uma fase em que eu gostava de me sentir superior aos outros, colocava as pessoas para baixo, às vezes, fazia isso para defender outras. E eu não sabia, mas agora sei que isso é um dos sintomas e também, outra síndrome. "Falsa superioridade".
Nessa síndrome, o indivíduo se sente "o máximo", sem ao menos ter motivos para isso. Pisa, critica e diminui os outros, tudo para se sentir melhor. Também porque os mais próximos apóiam,  gostam de ver aquilo. Só que uma hora, você esquece o significado da palavra "limite" e elas cansam.


Eu criei um evento de encontro que alcançou no total, mais de 3.000 pessoas. Foi
engraçado no dia, porque todo mundo sabia quem eu era. Eu estava na fila e as pessoas ficavam se perguntando "não é o carinha do evento?". Foi muito legal, mas só piorou as coisas, Levantou o meu ego, o que por eu ser imaturo, era muito fácil e prejudicial.
Eu formei um grupo de amigos naquele evento, fomos para alguns outros, também... Não preciso explicar o que aconteceu, acho que já dá para imaginar. No fim de tudo, eu me afastei e eles se afastaram de mim.
Voltamos a nos falar depois de um tempo, depois do último evento. Não
lembro se foi antes ou depois disso, mas uma vez, encontrei três deles no aeroporto. Não sabia como ir lá, falar com eles, depois do que fiz. Na mesma noite, vieram me perguntar o porque de não ter ido.

Contei tudo isso para chegar nesse ponto. Esse ano, alguém disse que eu grito com as pessoas e que esse é o único jeito que eu tenho para me sentir superior à elas. Comecei a tremer quando ouvi, por que não sou assim e nem nunca quis ser. Claramente, as pessoas não me conhecem.
Foi a primeira vez que consegui superar um dos meus sintomas, o que eventualmente, acaba acontecendo com todos. Mas até lá, terá dias em que você irá controlá-los e dias em que eles controlarão você. Tem que superá-los *mudando*, tendo uma melhor noção de como funciona a vida. Para isso, é preciso sentir dor e deixar ela ser sentida. Não, não é fácil. Estou sentindo dor agora,  porque fui tão decepcionado, que não consigo confiar em ninguém. Não confio nas pessoas que se dizem meus amigos, não confio em quem conheço, não confio em minha família. Tenho medo de acabar me decepcionando. Não preciso de mais problemas, além dos que eu já tenho. Também acaba se tornando outra complicação, já que necessito de atenção e pessoas ao meu redor. Estar sozinho e passar por tudo o que eu passo é complicado.  Talvez traga um ensinamento a longo prazo, o que eu espero que traga, poque dói muito.

o mundo invertido de um bipolarOnde histórias criam vida. Descubra agora