Capítulo 10.

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Lutah nunca veria a primavera, as pétalas rosa caindo sobre o chão ou sentiria novamente o calor em umas das manhãs ensolaradas no Japão.
Ainda quero conhecer partes dele, ouvir o som da sua risada, ver o sorriso em seus rosto.

Lutah, vai partir. E eu queria ter mostrado muito mais, ter ensinado muito mais, ter aprendido muito mais. Isso é mal, meu peito dói.

Eu hesitei, depois me encostei no sofá, todas as vezes que Lutah aparecia eu temia ter que chegar nessa conversa, porque não importava a delicadeza em que as palavras fossem ditas, minhas mãos ainda iriam tremer enquanto eu me sentia sufocar.
Eu nunca fui bom com despedidas, então sempre evitei estar próximo, assim o adeus nunca precisaria ser dito. Mas Lutah sempre e sempre esteve perto demais.

-Vamos conversar. -ele disse.

Respirei fundo, talvez não fosse nada demais, já havia se passado uma semana desde que eu soube e Lutah sempre agiu normalmente.
Talvez eu tivesse entendido errado.

- Sente-se. -pedi e ele ficou ao meu lado, ainda sem dizer uma palavra.

Em todos esses dias eu e Lutah não havíamos falado muito, embora ele ainda me cobria com seu abraço todas as noites.

Antes que ele pudesse falar algo, eu comecei:

-Eu sei o que vai me dizer, e eu entendo, sei como deve estar sendo difícil para você e tudo bem para mim. Você merece estar a onde se sente bem. -apertei sua mão, queria poder transmitir todo meu apoio.

Mas eu sabia que no fundo, se eu nunca tivesse o conhecido eu não sentiria nada disso, era como se a cada passo que eu desse eu estivesse me afundando.
  Eu posso dizer que estou  sendo verdadeiro comigo mesmo? Tudo bem ele ir? Tudo bem eu deixar ir?

Quanto mais eu penso, mais me afasto das minhas boas intenções.

Eu estava cansado, desgastado, me agarrando ao presente onde ele está agora.
Fiquei determinado a não pensar sobre isso, deixei os dias passarem, sem olhar para o problema, até que o problema chegou.
Eu nunca pensei que me sentiria assim, cada dia, mais e mais vazio.
Eu só quero o melhor para ele, mas esse melhor precisa ser tão longe?

-Meu Denahi. - Sua voz era espinho para meu ouvidos, pós eu sei que vou esquecer seu timbre, o modo como diz meu nome, o toque em minha pele e gradualmente seu rosto. Tudo que vou ter são as lembranças das sensações de ter tido ele um dia. -Você é tão bom para mim.

Abri a boca para falar, depois voltei a fechar ela. Ele esperou, paciente. Tentei novamente, sem emoção alguma.

- Não me chame assim Lutah.

Ele me encarou e eu percebi tarde demais às lagrimas em meu rosto, eu não queria ser tão fraco, mas também ainda tarde demais soube naquele instante que não era sobre ser fraco ou não, era só sobre o frio que ele ia deixar em meu corpo quando partisse.

-Eu estou apaixonado por você. -as palavras saíram enquanto eu me encolhia em seus braços, uma vez mais. Culparia o frio por essa necessidade de ser tocado, culparia a noite escura e alguma falsa dor para às lagrimas pesadas.

-Lutah não entende estar apaixonado. - ele afagou meus cabelos. -Vamos para cama, poderei cantar para você meu Denahi. Algo sobre Nahi. Amor.

Eu ri, embora ainda choroso.

-Eu não entendo Nahi. -imitei suas palavras, ele colocou suas mãos sobre meu rosto me fazendo olhar em seus olhos. Havia um minucioso sorriso ali.

- Nahi, na minha aldeia é sobre duas pessoas, uma de carne e outra só de espírito, separadas eternamente pelo dia e pela noite, pela terra e pelo mar, pela alma e pelo corpo. Mas ainda ligados pelo Nahi, pelo amor.

-Como você, falou assim, tão coerente?

- Aprendi para poder te contar, mas ainda a muito mais. Lutah, ainda quer falar muito mais.

Sorri.

-É uma bonita história Lutah, mas você entende o que significa para mim? Você sente Nahi comigo?

Lutah fitou tentando assimilar tantas palavras, mas me deu uma única resposta.

-Meu De Nahi. Meu amor.  -disse as palavras separadamente como se agora eu fosse o nativo, não percebendo o óbvio. Então pude entender que Denahi, tanto junto ou separados eram ligados assim como eu e Lutah. Assim como a carne e o espírito. Tive que aceitar dolorosamente que entreguei minha alma a ele sem ao menos perceber.

Mesmo que seu lugar não fosse comigo eu ainda estaria com ele.

Desprendido de qualquer despedida eu o beijei, e deixei ser beijado entrelaçando todo seu ser a mim, deixaria para sentir esse separação quando ele se fosse de todas as formas, tanto da carne, quanto da alma e esperava que ele pudesse fazer o mesmo.

                                …

Lutah foi embora três dias depois, três dias preenchidos com carinho e nahi, e agora um mês após sua partida, quando às flores já desabrocham e as pétalas rosa rodeiam o chão ainda sinto sua presença, ainda me sinto atraído pela luz da tua alma.

Pela luz da sua Alma (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora