Parte 2

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Antes de entrar no edifício onde morava, Julieta parou em frente às portas de vidro e cobriu a boca com uma das mãos, esperando que aquele mal-estar passasse logo. Ela não tinha muita certeza se ele provinha dos sintomas da gravidez ou do fato de se sentir enjoada consigo mesma por ter permitido que sua relação seguisse daquele modo. Sentia-se uma fraude.

Uma senhora que passava ao seu lado, fitou-a com genuína preocupação.

- Está tudo bem, querida? - a inquiriu.

- Oh, sim - garantiu ela com o que ela torcia para parecer um sorriso tranquilizador.

A mulher não pareceu convencida, mas não insistiu. Ela e a senhora adentraram o prédio e esperaram até que o elevador chegasse e as levasse aos seus respectivos andares. A mais velha desceu primeiro e Julieta foi a última. Pegou as chaves dentro da Prada preta e destrancou a porta. Assim que entrou no apartamento, sentiu um cheiro gostoso de comida invadir suas narinas e seu estômago roncou, fazendo com que ela se desse conta de que não comera nada além de um cachorro-quente o dia todo.

Jogou a bolsa no sofá, tirou os saltos e caminhou descalça até a cozinha, onde se deparou com uma bela imagem. No fogão, encontrava-se uma panela tampada sobre um fogo baixo e, debruçado em cima da bancada, achava-se seu irresistível esposo, Steve Schimdt, que a esperava com um sorriso sensual e duas taças de vinho.

- Oi, sweetheart - cumprimentou-a com o apelido carinhoso com o qual havia se acostumado a chamá-la.

- Steve - murmurou de volta com um pequeno sorriso nos lábios.

Ela caminhou até ele e, assim que estava próxima o suficiente, Steve enlaçou sua cintura com um braço, fazendo com que o corpo dela se chocasse contra o dele. Após bebericar um gole do vinho, ele depositou a taça de volta à bancada e beijou-a. Julieta embriagou-se no gosto daqueles lábios e no calor do toque dele, sentindo cada parte sua aquecer-se com a febril paixão que emanava dele.

- Droga - ele gemeu ao ser obrigado a se afastar -, eu preciso ver se o molho está no ponto.

Julieta observou o marido na tarefa de mexer o molho, enquanto ele falava sobre qualquer coisa que ela não conseguiu assimilar, pois seu pensamento voou mais uma vez às lembranças do passado e ela se recordou de como havia se apaixonado pelo filho do dono.

Steve Schimdt fora sincero desde o início, e ela não achava que tivesse motivos para duvidar dele. Quando ofereceu o cargo a ela, não tinha intenções de que ela lhe desse mais do que um bom trabalho e Julieta jamais pensou que um dia viesse a gostar dele de forma romântica. Mas junto com todas as responsabilidades havia os compromissos em eventos em que ela era sempre obrigada a estar e onde sempre encontrava Steve. Os dois começaram trocando meras palavras: cumprimentos cordiais ou falando sobre os negócios, até que as conversas evoluíram e os assuntos tornaram-se mais profundos, cada um contando sobre sua vida. Ela tentou se afastar; além de seu chefe, ele era noivo.

Então, ele terminara todo seu relacionamento e se declarara para ela numa linda noite estrelada, deixando-a flutuando e ela tinha certeza que seu estado ébrio não era culpa das duas taças de champanhe que havia tomado, mas, sim, das palavras ávidas e desejosas que saiam da boca dele. Porém havia obstáculos e ambos tinham muito a perder, sabiam disso. Steve Schimdt perderia toda sua fortuna e a empresa e Julieta, certamente, o cargo que levara anos para conquistar. Decidiram que viveriam o romance em segredo, já que não eram capazes de resistir um ao outro.

No entanto, agora aquilo lhe parecia muito errado e covarde. Enquanto Steve os servia, colocando panquecas e molho no prato, ela se perguntava como ele reagiria ao saber da novidade, mas não pretendia nem por um segundo esconder dele ou adiar aquela conversa.

SweetheartWhere stories live. Discover now