Capítulo XXI - Peçonha

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- Que surpresa - disse, assim que as portas trancadas que bloqueavam o acesso para os degraus foram iluminadas - Vamos ter que usar o elevador.

- Ainda deve ter pessoas aqui dentro. Não podemos chamar atenção.

- Tem outra ideia melhor? Eu não vou ficar presa dentro de um hospital.

- Não podemos descer sozinhas. Mas alguém pode fazer isso por nós.

Ela arqueou as sobrancelhas, tentando entender meu plano. Eu tenho esse dom de criar soluções em um piscar de olhos para cenários em que nunca imaginei que me encontraria. No sofá de casa, por exemplo, me pego pensando em como sobreviveria presa dentro de uma caverna sem água ou comida.

Esse hábito louco me ajudou em vários momentos, e agora, é ele que fará com que consigamos chegar ao nível mais baixo do hospital. Correndo pelo andar, vasculhei o teto em busca do alarme de incêndio. Lá estava ele, logo em frente a um quarto cuja janela estava coberta por cortinas retráteis. A expressão de Amanda denunciava que ela finalmente entendera. Com sua ajuda, me ergui até o topo de uma bancada, revirando meu bolso do jeans cheio de segredos. Com um pequeno isqueiro em mãos, apontei a minúscula chama em direção ao sensor do aparelho. Deixei a fumaça entrar, e quando as luzes começaram a piscar, acompanhadas pelo soar estridente do alarme, nós já estávamos correndo em direção aos elevadores, nos escondendo embaixo das cadeiras antes que a porta pudesse abrir. Assistimos quatro enfermeiros partindo corredor afora.

Puxei Amanda para fora do esconderijo. Em meio ao caos de pacientes confusos acordando, luzes de emergência sendo acesas uma atrás da outra e a equipe ainda presente no prédio procurando incansavelmente pela origem do fogo inexistente, pulamos dentro do elevador, segurando as portas antes que elas fechassem. Uma vez lá dentro, coloquei o cartão mestre no leitor. O botão mais baixo se iluminou e foi pressionado logo em seguida. Começamos a descer lentamente. Amanda estava congelada.

- Não me diga que você sempre anda com um mini isqueiro no bolso.

- Nunca se sabe quando vou precisar acionar o alarme de incêndio de um hospital para conseguirmos entrar em um lugar cheio de corpos gelados.

Isso não a convenceu.

- Qual é? - apontei para seus braços com o queixo - Você usa esse monte de braceletes e joias o tempo todo, e não é porque são bonitos.

- Eu preciso disso para... - ela sibilou, mas se interrompeu - Tá bom, você venceu. Quando vai me explicar o que exatamente viemos fazer aqui?

- Não foi nada fácil chegar até aqui - comecei, sentindo o compartimento que nos abrigava deslizar pelos cabos de aço até os andares mais baixos - Eu estava lendo as fichas de Penelope e Maxwell na delegacia. É uma longa história. O que importa é que eles têm um passado um tanto conturbado para uma família normal. Ela respondeu por falsidade ideológica, furto e invasão de propriedade. E ele, por agir como funcionário fantasma e documentos expirados. Maxwell acumulou uma quantia magnífica sob um pseudônimo, e esse dinheiro desapareceu da face da terra.

Chegamos ao subsolo escuro. Acendi minha lanterna para contribuir com a luz fornecida por Amanda. Por fim, deixamos o interior do elevador.

- Uma pessoa normal pensaria que Penelope o matou para ficar com o dinheiro todo e fugiu para a Alemanha com o vizinho, que provavelmente era seu amante secreto - sugeri - Mas eu não sou uma pessoa normal.

Ela não disse nada. Amanda deve estar se remoendo para saber o final dessa história, enquanto eu já tenho um em mente. Inacreditável, impensável e inimaginável. E, por incrível que pareça, não posso fazer isso sozinha. Não vou conseguir ir até o fundo de toda essa armação, do mesmo jeito que não conseguiria entrar na mansão se não tivesse levado Katherine comigo. Isso ainda me intrigava. Ela não havia quebrado as proteções que cercavam o lugar. Pelo menos dezenas de perguntas ainda não foram respondidas, e nunca serão. Um mistério de cada vez, por favor.

Luas de Diamante (Volume 1) [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora