Capítulo XVI - Justiceira

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Como eu esperava. Tudo estava encaixotado, pronto para a mudança. Exatamente como a casa de Penelope quando me encontrei com Katherine depois de nos separarmos por causa de Scott. Ela era apenas uma louca que matou o marido para fugir com o vizinho ou estava de alguma forma envolvida com os necromantes? Ela era um deles?

Fiz a primeira coisa que minha intuição mandou.

Indo até a cozinha, revirei as gavetas até achar alguma coisa afiada. Lá estavam as facas, postas atrás das tábuas de cortar carne. Segurando uma pelo cabo, vi meu rosto borrado no metal. Nunca estive tão cansada.

O boné branco e surrado, minha marca registrada, estava enfiado em algum lugar no fundo do armário do quarto. Não me via na necessidade de usá-lo há dias, algo que acontecia somente quando meu pai sofria acidentes em suas rondas pela cidade e em pequenos confrontos. Quando eu estava sem ele, era mais fácil para minha mãe fazer carinho em meus cabelos trançados enquanto dormíamos juntas no sofá esperando por notícias do hospital. Hoje, não passava de mais um fardo. Algo que me atrapalharia enquanto estivesse correndo. No fim das contas, eu sempre corria. Corria contra o tempo, corria das responsabilidades e de assassinos que ameaçam minha família. No fim, eu sempre voltava para o mesmo lugar: uma bolha pessoal onde posso viver sem me importar com nada.

Aqui não existe dor e nem tristeza. Aqui, você pode ver o pôr-do-sol em um berço de grama com uma lata de coca na mão. Mas, existe um problema. Por mais que passe meus dias corridos aqui, esse lugar não existe.

Nós criamos o nosso próprio porto seguro quando nos isolamos do resto do mundo e não ouvimos nada além da nossa mente. Horas se tornam segundos, dias passam em um piscar de olhos e gritos de socorro se tornam sussurros no vazio. É perfeito, até a hora que tudo desmorona ao seu redor e você não se dá conta do estrago porque fingiu que nada estava errado. Eu não quero ser assim. Eu não quero ser destrutiva.

Não posso focar em derrotar os necromantes e esquecer das coisas ao meu redor. Não posso esquecer de Jenna, que passa o dia inteiro fora de casa com a esperança de me ver quando chega cansada de noite.

Jenna e Robert Howard. O que seria de mim sem vocês? Respirando fundo pela última vez, voltei para a sala, descendo rapidamente o metal cortante contra o papelão. Terminei de abrir o resto da caixa com as mãos, revelando nada mais do que uma montanha de isopor.

O conteúdo fora derramado no chão quando virei o pacote de cabeça para baixo. Insatisfeita, realizei o mesmo processo com mais três caixas até perceber que não havia realmente nada dentro delas. Nadinha.

Onde estavam todos os móveis? Eles foram vendidos? Se a resposta for sim, o que Joshua fez com todo o dinheiro? Ele e Penelope devem ter feito isso tudo para comprarem as passagens e para se manterem em sua estadia em Stuttgart. De todas as hipóteses, eu não tinha ideia do que esses dois queriam fazer do outro lado do oceano, e por que encobrir tudo em um esquema idiota desses. Eu também não sabia o que esperava encontrar ao revistar esses apartamentos, mas preciso de alguma coisa, qualquer coisa que prove que Penelope ainda está por aí em algum lugar.

É o mínimo que posso fazer.
Não vou achar nada nesse fim de mundo. Eles não são idiotas a ponto de deixar uma pista visível. Pelo menos, já sei por onde começar. Se eu conseguir invadir os dados de Joshua, desde ligações até cartão de crédito, talvez eu fique mais perto do que nunca de descobrir o que ele e Penelope estão tramando. Mas, antes disso, preciso fazer uma coisa.

•••

A viatura do meu pai estava estacionada no meio-fio.

Da janela do segundo andar, conseguia ver a luz do banheiro acesa. Robert estava tomando banho. Se eu quiser seguir o plano, vou ter que me apressar. Assim que abri a porta, Jenna tirou os olhos das páginas do jornal e se levantou para me abraçar. Ela tinha cheiro de café e outono.

Luas de Diamante (Volume 1) [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora